Crônica: acesso do Ceará também foi a festa do torcedor migrante que vive em São Paulo

O acesso do Ceará foi a vitória do migrante. Explico. A maior parte dos torcedores do Ceará presente no estádio Brinco de Ouro da Princesa vive no Estado de São Paulo

Eu tenho certeza que o torcedor do Ceará gostaria de ter visto o jogo do acesso sendo realizado no Castelão. Mas, por conta da tabela - e uma pontinha do acaso - o Vozão celebrou a vaga na Série A do Brasileirão jogando em Campinas, no Estádio Brinco de Ouro da Princesa, casa do Guarani. E há nisso também algo de poético. O cearense apaixonado pelo Alvinegro que vive em São Paulo pode se sentir um pouco em casa.

O acesso do Ceará foi a vitória do migrante. Explico. A maior parte dos torcedores do Ceará presente no estádio Brinco de Ouro da Princesa vive no Estado de São Paulo. Já na hora do almoço, por volta de meio-dia, caravanas vindas da Grande São Paulo e de outras cidades do interior paulista se reuniram em um restaurante que fica bem em frente ao Brinco. Conforme almoçavam, os fanáticos cantavam o hino do time e músicas que invocavam o acesso.

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Foi bonito ver na fila para a entrada do estádio a presença maciça de famílias, com muitas mulheres e crianças. Pais que vivem em São Paulo e que tentam de forma heroica fazer com que seus filhos paulistas ou apaulistados deixem de torcer para Corinthians, Palmeiras ou qualquer outro gigante local, cujas presenças na mídia daqui superam em muito qualquer aparição do Ceará.

No domingo, 24, esses pais conseguiram transmitir essa paixão para os filhos. Ou melhor, os filhos conseguiram compreender porque torcer para o Vozão é algo tão gigante.

Infelizmente a rivalidade fake de torcidas organizadas - a principal organizada do Fortaleza é parceira do Guarani, enquanto a do Ceará é ligada à Ponte Preta - quase maculou a festa. Antes do começo do jogo, a Polícia Militar precisou intervir e atirou bombas de efeito moral na rua ferindo levemente alguns torcedores. Por sorte, isso ocorreu longe da aglomeração de torcedores do Vovô em frente à avenida Princesa D'Oeste. Os torcedores mirins do clube cearense, portanto, não viram a baixaria.

E, se no gramado o time teve mais sorte do que juízo, o gol do Goiás sobre o Novorizontino acabou dando a alegria que os mais de 3.000 torcedores do Ceará queriam. Em um Brinco de Ouro com maioria esmagadora de visitantes, a torcida de maior número saiu feliz da vida. Horas depois do jogo, ainda era possível ver torcedores do Vozão vestindo orgulhosamente a camisa do clube jantando em lanchonetes da cidade, antes de seguir estrada para suas casas.

Sim, seguir estrada porque, como disse, esses torcedores moram no Estado de São Paulo e, por pouco mais de 90 minutos, puderam transformar Campinas em capital do Ceará e sentirem-se um pouco mais perto da terra natal. São garçons, médicos, engenheiros, motoristas e toda sorte de profissionais que vieram para São Paulo ganhar a vida, mas que levam o Estado natal e o time de coração para todo lugar onde vão.

Thiago Varella, correspondente do O POVO em Campinas

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