Crises internas, arrancada e drama na última rodada: a trajetória do Ceará até o acesso
O Vovô sofreu com conflitos políticos, enfrentou situações de dificuldade financeira e teve um desfecho dramático na última rodada da Série B, mas superou as adversidades e conseguiu o acesso à Série AO roteiro do Ceará em 2024 terminou com final feliz, mas o caminho até a primeira divisão teve percalços. Para alcançar o acesso, conquistado neste domingo, 24, em Campinas (SP), o Alvinegro de Porangabuçu superou as turbulências, marcadas por crises administrativas e conflitos políticos, blindou-se do extracampo e protagonizou uma arrancada emblemática.
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Em meio à reformulação do elenco e à pré-temporada, não demorou muito para o primeiro baque: o atacante Barletta, que estava integrado ao elenco, moveu uma ação na Justiça contra o Ceará, em janeiro, por dívidas trabalhistas acumuladas em 2023. Outros atletas, como Nicolas, Zé Roberto e Lucas Ribeiro também cobraram atrasos.
Aliado a isso, o clube sofreu com transfer bans em três ocasiões ao longo de 2024. As duas primeiras sanções aplicadas pela Fifa ao Ceará aconteceram em maio e junho, pelo mesmo motivo: atraso no pagamento da compra do atacante Saulo Mineiro junto ao Yokohama FC, do Japão. Em setembro, outra punição idêntica, desta vez por conta de um débito com o Vissel Kobe, também do Japão, pelo jogador Wescley em transferência feita em 2019.
Ceará conquista título estadual e evita hexa inédito do Fortaleza
As questões extracampo não pareciam afetar o time do Vovô com a bola rolando. Então comandado por Vagner Mancini, um dos remanescentes de 2023, o Alvinegro chegou à final do Campeonato Cearense contra o Fortaleza, em uma decisão repleta de simbolismo.
De um lado, o Vovô não vencia o torneio há cinco anos. Do outro, a possibilidade de um hexa estadual inédito no futebol local.
Após empates nos jogos de ida e volta, o campeão precisou ser definido nas penalidades. Em confronto de reviravoltas, emoção e drama, prevaleceu o heroísmo do goleiro Richard, autor de duas defesas, uma delas na cobrança decisiva e que selou a conquista alvinegra.
O momento, naturalmente, elevou as expectativas para o Vovô na Série B.
Conflitos políticos assolaram o Ceará durante o ano
Por muitas vezes, os conflitos políticos do Ceará tomaram proporções que não deveriam. A clara desunião entre dois blocos que disputam o poder do clube ganhou força ao longo da temporada.
Em determinado momento, o presidente João Paulo Silva chegou a fazer um requerimento para a expulsão de um grupo de opositores — e também conselheiros do clube.
O estopim dos embates aconteceu no processo de mudança do estatuto. Na primeira assembleia para votação, sob clima tenso, os conselheiros e sócios-proprietários do Ceará decidiram, por maioria, não aprovar o projeto. A rejeição permaneceu em uma segunda ocasião, onde ficou decidido pela não alteração.
Com o resultado, emendas como o voto dos sócios-torcedores para presidente, possibilidade de transformação em SAF e remuneração para a diretoria executiva foram vetadas.
Em início de oscilação, Ceará ficou distante do G-4 da Série B, mas não desistiu
O início do Ceará na Série B não foi como se projetava. Dois empates em casa, contra Goiás e CRB, e derrota para o Mirassol no interior de São Paulo, resultados que criaram um clima de apreensão e pressão.
A partir da quarta rodada, o Vovô embalou. Venceu três dos quatro jogos seguintes, com um empate entre os triunfos. Chegou a entrar no G-4 neste bom recorte.
Mas logo depois vieram as oscilações. A derrota por 3 a 1 para a Ponte Preta, em Campinas, na 12ª rodada, culminou na demissão de Vagner Mancini. A escolha do novo treinador foi por Léo Condé, campeão da Série B com o Vitória em 2023.
O novo comandante chegou com a missão de promover uma campanha de recuperação e conseguiu.
O caminho, porém, não foi fácil. Para alcançar o G-4, o Vovô precisou de paciência, foco e, principalmente, competência na reta final. Somente na 36ª rodada, ao golear o Botafogo-SP e contar com o tropeço do Sport diante da Chapecoense, que o Alvinegro conseguiu entrar na zona de classificação, de onde não saiu mais.
A equipe cresceu de rendimento no momento certo da competição. Nos oito jogos finais, venceu seis, empatou um e perdeu somente um, contra o campeão Santos, na Vila Belmiro. Fez a arrancada que precisava diante de um prognóstico complicado, onde chegou a figurar distante da prateleira dos favoritos ao acesso.
Torcida do Ceará e sua demonstração de fé inabalável
A torcida do Ceará foi um caso à parte nesta Série B. Mesmo nos momentos de oscilação e quando as estatísticas apontavam um caminho complicado para o Vovô alcançar o acesso, os apaixonados alvinegros não desistiram.
Dona de nove dos dez maiores públicos da atual edição, a torcida do Ceará também tem, de forma isolada, a maior média de público da Segundona, com 28.149 por jogo — o Sport, segundo no ranking, tem 16.137.
No último jogo do Alvinegro no Castelão, na vitória sobre o América-MG, uma festa histórica: 63.908 pessoas na arquibancada, o maior público da história do estádio desde que se tornou uma Arena.