Como o Ceará tratou o problema cardíaco de Saulo Mineiro: "Ajudamos a seguir a sua carreira"

Após quatro anos desde sua chegada ao Vovô, Saulo Mineiro é um dos destaques da equipe e um dos líderes do elenco na missão de levar o clube novamente à Série A

A morte do zagueiro Juan Izquierdo, do Nacional-URU, após uma arritmia cardíaca durante jogo contra o São Paulo pelas Libertadores, no Morumbis, deixou de luto o futebol mundial nesta semana. Saulo Mineiro, hoje destaque do Ceará na Série B do Campeonato Brasileiro, quase abandonou a carreira por um problema cardíaco.

A trajetória do atacante no futebol só não foi interrompida devido aos cuidados do clube alvinegro, em 2020, na primeira passagem do atleta pelo Porangabuçu. Na época, o jogador chegou ao Vovô depois de se destacar pelo Volta Redonda-RJ na Série C do Campeonato Brasileiro. Poucos dias após o anúncio oficial, ele teve um distúrbio de condução elétrica cardíaca identificada pelo departamento médico do Ceará.

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O problema, porém, não era uma surpresa na vida de Saulo Mineiro. Na verdade, o atacante já havia identificado a patologia ainda na adolescência, aos 14 anos, e até chegou a interromper a sua carreira aos 17 anos por indicações de médicos que, ao analisarem o quadro clínico do atleta, chegaram a afirmar que o jogador seria incapaz de seguir a carreira profissional.

Após a identificação do problema cardíaco, o atleta foi submetido a uma cirurgia realizada pelo DM alvinegro. Em entrevista concedida ao Esportes O POVO, o cardiologista Carlos Mota, um dos responsáveis pelo procedimento cirúrgico que tratou Saulo, explicou que a patologia que afetou Saulo Mineiro se chama Wolff Parkinson White e consiste na presença de uma via extra no coração, que aumenta o risco de uma arritmia cardíaca.

O médico revelou que o caso do atual camisa 73 do Ceará tinha uma complexidade maior para a realização do tratamento, – que se chama ablação –, mas o clube decidiu, desde o início, prestar apoio ao jogador e fazer a cirurgia.

“Quando ele chegou, que nós fizemos a Avaliação Pré-Participação, nós já identificamos o problema e vimos que poderíamos tratar, sabíamos que era viável. Não tínhamos a certeza, mas sabíamos que podíamos tratá-lo”, lembrou Carlos Mota.

Tratado e destaque do Vovô

Hoje, após quatro anos desde sua chegada ao Vovô, Saulo Mineiro é um dos destaques da equipe e um dos líderes do elenco na missão de levar o clube novamente à Série A. Ao ser perguntado sobre a realização de ver o atleta atuando e se destacando, Carlos lembra da conversa com a mãe do atacante, antes mesmo de realizar a cirurgia.

“Ela me contou que há poucos anos antes (de 2020), Saulo estava trabalhando de auxiliar de pedreiro, algo do tipo, e que aquele procedimento era a mudança de vida não só dele, mas de toda a família. E hoje, ver um atleta que eu e minha equipe ajudamos a seguir a sua carreira, é muito gratificante”, detalhou o médico.

“Me lembro que pedi para ele: ‘Saulo, o primeiro gol que você fizer, vá na câmera e faça um coraçãozinho para a mim’ e foi o que ele fez”, disse Carlos, rindo da lembrança.

O cardiologista afirma que não há mais nenhum risco para Saulo durante as partidas, mas que é preciso, assim como em qualquer outra pessoa, manter a regularidade na realização de exames cardiológicos.

Voltando para o Vovô em 2023, após passagem no futebol do Japão, Saulo tem feito uma temporada decisiva no Alvinegro de Porangabuçu em 2024. Na Série B, principal competição do Ceará no ano, o atacante já soma nove participações em gol — seis gols e três assistências. 

O camisa 73 tem o carinho da torcida alvinegra pela identificação desde a primeira passagem, em 2020 e 2021. Marcado pela entrega em campo, Saulo tem convertido o seu esforço em números importantes para o Ceará. Dos oito gols assinalados pelo atacante em 2024, 37% foram marcados no "apagar das luzes". O último, inclusive, rendeu mais três pontos e reaproximou o time cearense do G4 da Série B.

Prevenções e cuidados

Para falar sobre as prevenções e os cuidados a serem tomados para evitar, diagnosticar e tratar problemas cardíacos, o Esportes O POVO entrou em contato com o cardiologista, professor e CEO do Instituto do Coração de Fortaleza, Augusto Vilela.

O cardiologista ressaltou que é preciso a checagem regular para identificação destes problemas que, por vezes, podem ser assintomáticos e passam despercebidos.

“As causas mais comuns de morte súbita em atletas jovens incluem cardiomiopatia hipertrófica, anomalias das artérias coronárias, miocardite e a síndrome de Wolff-Parkinson-White, entre outras condições cardíacas. Essas condições, muitas vezes, não apresentam sintomas claros e podem ser difíceis de detectar sem exames específicos”, explicou.

Para evitar que as doenças evoluam para um quadro mais complicado, Augusto alerta para que os atletas, especialmente os de alto desempenho, realizem avaliações médicas detalhadas, como eletrocardiogramas (ECG) e ecocardiogramas.

O doutor ainda aconselha a prática de atividades físicas para aqueles que não tem costume de fazê-las, mas alerta para haver um cuidado inicial.

“A atividade física regular é fundamental para a saúde cardiovascular, mas deve ser iniciada de maneira segura. Para pessoas que estão começando, recomendo uma consulta médica para avaliar a condição cardiovascular atual. Iniciar com exercícios leves, como caminhadas, e aumentar gradualmente a intensidade é uma abordagem sensata. É importante ouvir o corpo e não ignorar sinais de desconforto”, pontuou.

A morte do zagueiro Juan Izquierdo, do Nacional-URU, após uma arritmia cardíaca durante jogo contra o São Paulo pelas Libertadores, no Morumbis, deixou de luto o futebol mundial nesta semana. Saulo Mineiro, hoje destaque do Ceará na Série B do Campeonato Brasileiro, quase abandonou a carreira por um problema cardíaco. 

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