João Paulo divulga carta para torcida: "O que está em risco é o futuro do Ceará"

Nos últimos meses, a mudança no atual estatuto do clube tem sido pauta interna entre conselheiros e dirigentes do Vovô

O atual presidente do Ceará Sporting Club, João Paulo, divulgou, na manhã desta segunda-feira, 10, um vídeo e uma carta direcionada ao torcedor alvinegro, tratando sobre os assuntos que abordam a votação do novo estatuto do clube. Em uma carta de cinco páginas, o mandatário afirma que “não tem sido dias fáceis”.

Nos últimos meses, a mudança no atual estatuto do clube tem sido pauta interna entre conselheiros e dirigentes do Vovô. Pontos essenciais como SAF e voto do sócio torcedor tem sido debatidos e gerado divergências.

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Na carta divulgada, João Paulo traz alguns pontos para “alertar” aos torcedores, alegando que alguns artigos podem prejudicar o clube futuramente, como as exigências para transformar o clube em SAF.

Segundo o presidente, o novo estatuto solicita que a transformação do clube em SAF deve “garantir ganho de receita média anual não inferior a 200% da média das receitas dos últimos 5 anos, sob pena de rejeição sumária da proposta”. “Isso é completamente fora do mercado, isso tiraria qualquer atratividade para quem quer que seja”, pontua o presidente.

O mandatário ainda traz outros pontos como a diretoria remunerada e o voto do sócio-torcedor, finalizando a carta falando sobre a lamentando que o momento possa tirar o foco do principal objetivo: o acesso para Série A.

“Lamento profundamente que todo este tumulto esteja sendo causado justamente quando o nosso time encontrou o caminho da vitória na série B”, afirma o João Paulo. Confira a carta na íntegra:

Carta de João Paulo aos torcedores do Ceará

 

Torcedor alvinegro, decidi me manifestar por meio desta carta, escrita nesta madrugada. Foi a melhor forma que encontrei, neste momento de apreensão, de expor com clareza e serenidade tudo que está acontecendo. Não tem sido dias fáceis. Antes de ser presidente do Ceará, sou pai, sou esposo, sou um torcedor que realizou o sonho de ser presidente. Apesar de todo esse desgaste, tomo a iniciativa de vir até aqui para expor a verdade e deixar você à vontade para decidir o que é melhor para o nosso clube.

Antes de mais nada, repito o que já disse antes: eu sou favorável e vou trabalhar para que o sócio-torcedor vote para eleger o presidente do clube. Repetindo: eu, João Paulo Silva, Presidente do Ceará Sporting Club, sou favorável, sim, ao voto do torcedor. Qualquer coisa diferente disso é pura narrativa; é, literalmente, jogar para a torcida e jogar a torcida contra mim.

Aliás, você, torcedor, tem todo o direito de me criticar, de não gostar da minha pessoa, da minha gestão; de achar que o Ceará precisa de mudança. Sem problemas, nesses anos todos aprendi a conviver com as críticas. Mas é meu dever como presidente dessa instituição alertar você, goste-se ou não de mim, sobre pontos deste novo estatuto que podem prejudicar e muito o Ceará Sporting Club. É isso mesmo que você ouviu: pontos do novo estatuto que podem prejudicar o Ceará Sporting Club.

Precisamos de serenidade e de muita calma para não cair em uma arapuca montada com discursos fáceis e rasos que podem colocar o nosso clube em uma situação delicada muito em breve.

Eu vou detalhar aqui alguns desses pontos e você vai fazer o seguinte: vai pedir para um amigo da sua confiança uma cópia desse novo estatuto e vai checar se em algum momento faltei com a verdade. Eu quero que você guarde todo o rancor, toda mágoa e analise apenas documento em si; atenha-se ao que vou explicar. E confira com quem quiser se é ou não verdade. Vamos lá, ponto 1: SAF

No artigo 92 do novo estatuto está escrito assim: a proposta que vier a ser formulada - da SAF - deve garantir ganho de receita média anual não inferior a 200 - isso mesmo, 200% - da média das receitas dos últimos 5 anos, sob pena de rejeição sumária da proposta. Agora eu pergunto: que grupo se interessaria em propor uma SAF tendo uma obrigação de ganhos totalmente irreais?

Precisamos, mais uma vez, ser razoáveis. Não podemos jamais entregar o clube de mão beijada para nenhum grupo empresarial, mas também não podemos inviabilizar algo que é tendência no mundo inteiro. Só pra você ter uma ideia: nossas receitas ano passado giraram em torno de 130 milhões. Qualquer grupo, para começar a conversar com o Ceará, teria que garantir ganhos já no primeiro ano de 130 + 130 + 130, ou seja, 390 milhões de reais. Isso é completamente fora do mercado, isso tiraria qualquer atratividade para quem quer que seja.

Ponto 2: remuneração da diretoria. Isso é mais uma casca de banana para você, torcedor. O Ceará hoje é uma associação sem fins lucrativos e, por isso, não pode ter diretores remunerados. Se esse estatuto for aprovado com remuneração imediata da diretoria, o Ceará perderá sua imunidade tributária. Vamos passar a pagar uma série de impostos e isso vai diminuir ainda mais a nossa capacidade financeira. É lógico que todos queremos a profissionalização da diretoria, até pra gente poder cobrar ainda mais. Mas neste momento de dificuldade financeira é razoável trazer para dentro do clube uma série de custos que hoje não temos? Você, mais uma vez, decide.

Só para termos ideia: caso o clube tivesse perdido a imunidade tributária, em 2023 teria pagar 16,33% de imposto, o que significaria algo em torno de vinte e um milhões de reais. Alguém acha isso razoável? Se a remuneração dos diretores somente constar no Estatuto do clube, mesmo que não se pague, o clube perderá a imunidade. Isso foi informado à Comissão Revisora do Estatuto e ao Presidente do Conselho Deliberativo, e foi ignorado.

Que fique claro: os clubes que adotaram essa medida foram autuados pela Receita Federal.

Ponto 3, que está no artigo 73: as deliberações nas assembleias gerais se darão por maioria simples e voto nominal. Na prática, esse artigo converte todos os sócio-proprietários em conselheiros do clube, esvaziando as funções dos conselheiros. Qual o risco? De se perder o controle de quem está decidindo assuntos cruciais para o clube. Qualquer pessoa com dinheiro - ou financiada por um grupo mal intencionado poderá manter o controle da nossa instituição.

Imagine que um grupo mal intencionado financie o sócio-torcedor mais barato para milhares de pessoas simplesmente para comandar as votações? Você acha isso improvável? Eu não acho. Para um grupo mal intencionado comprar 2, 3 mil torcedores seria mínimo. Esse é um caminho sem volta.

Mais um ponto, que tá no artigo 76, parágrafo oitavo: "julgar em uma única instância, pedido de suspensão do cargo". Ou seja, uma sequência de resultados ruins pode levar à destituição imediata dos diretores, conselho, etc. Que segurança, por exemplo, uma empresa vai ter de negociar um patrocínio com uma diretoria que pode mudar da noite para o dia? Quem vai garantir as entregas? Quantospresidentes vamos poder ter em um ano? Quem vai querer abraçar essa missão, correndo o risco de ser, simplesmente, escorraçado do clube que tanto ama? Você tem certeza de que isso é bom para o Ceará? Para a nossa credibilidade? Isso não existe em lugar nenhum do mundo e, se não existe, deve ter um motivo. As instâncias, nos clubes do Brasil e da Europa têm sim a sua importância.

Enfim, citei só alguns exemplos absurdos. Tem mais, se você ler direitinho e com calma. Eu acabei de elencar alguns poucos tópicos que podem prejudicar o Ceará e tenho certeza de que eram de total desconhecimento seu. Como eu disse antes, nem tudo é o que parece.

Mais uma vez: você tem todo o direito de não gostar de mim, da minha gestão. Não tem problema, aceito as críticas de coração aberto e com toda a humildade. Mas eu não dormiria com a cabeça tranquila se não alertasse você, pois é minha função como presidente. O que está em jogo aqui não é o futuro do João Paulo - como todo presidente, um dia eu vou passar, inclusive o meu mandato encerra no fim do ano. O que está em risco é o futuro do Ceará. Do SEU time de coração.

Para fechar essa extensa carta: ainda sobre a convocação da assembleia geral, é meu dever respeitar o estatuto do clube e afirmar que, segundo o estatuto, a convocação por parte do presidente do conselho foi ilegal. Não é uma questão interpretativa, não é nada pessoal contra o Dr. Herbert. É, simplesmente, um fato. Não se pode tomar decisões sérias que vão contrárias ao estatuto do clube. Não é assim que funciona.

Não é isso que queremos nos 110 anos dessa instituição.

No mais, lamento profundamente que todo este tumulto esteja sendo causado justamente quando o nosso time encontrou o caminho da vitória na série B, um campeonato dificílimo. Montei praticamente um novo time no começo do ano, com o perfil que todos queríamos: guerreiros, brigadores, batalhadores e talentosos. Ganhamos o campeonato estadual, chegamos ao G4 da série B. Nossa parte estamos fazendo. E vamos em busca de mais.

Éramos para estar agora jogando juntos, apoiando nossos jogadores. Era para estarmos juntos pelo menos até conseguir o acesso e não gerando uma crise que pode afetar, sim, o ambiente do futebol. Tá na hora de agir com maturidade. Se o rendimento do time cair por causa dessas confusões causadas por uma minoria, todos nós perderemos.

Por fim, deixo como sugestão ao Presidente do Conselho Deliberativo tratarmos à parte o voto do sócio para presidente, de forma isolada, sem comprometer o clube com esse novo estatuto. Cuidaremos, Dr. Herbert e eu, exclusivamente da questão do voto do torcedor para presidente; construiremos isso juntos, de forma civilizada.

Repetindo: o que busco é a paz fora de campo para dar tranquilidade aos atletas dentro do gramado e esperança à torcida de dias melhores. Meu pensamento é o mesmo de cada um de vocês: fazer o Ceará ainda maior, devolvendo o nosso clube para o lugar de onde ele nunca deveria ter saído, que é a série A.

Certo de que a verdade e a civilidade irão prevalecer, despeço-me de todos.

Que Deus nos dê serenidade e sabedoria neste momento.

Saudações Alvinegras,

João Paulo Silva, presidente do Ceará Sporting Club

 

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