Análise: como joga o São Paulo de Rogério Ceni, adversário do Ceará na Sul-Americana

O Esportes O POVO analisou os últimos confrontos da equipe paulista, comandada pelo ex-técnico do Fortaleza, e traçou as principais características táticas do time

São Paulo e Ceará realizam o primeiro confronto pelas quartas de final da Copa Sul-Americana nesta quarta-feira, 3, às 19h15min, no Morumbi. O Tricolor Paulista é o primeiro adversário brasileiro da equipe cearense na competição e, assim como o Alvinegro, ainda não perdeu no torneio e vem de classificação sobre a Universidad Católica, do Chile, nas oitavas.

Adepto de um modelo de jogo apoiado e de movimentação, o técnico Rogério Ceni também não abre mão da forte marcação dos jogadores ainda no campo de ataque para sufocar os adversários na saída de bola.

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O Esportes O POVO analisou os últimos confrontos da equipe paulista, tanto pelo Brasileirão quanto em confrontos eliminatórios, e traçou as principais características táticas do time.

Sistema tático

O São Paulo de Rogério Ceni atua em um 5-4-1, com três zagueiros e dois laterais, Igor Vinícius e Reinaldo, que se transformam em alas enquanto o time ataca, sendo cobertos pela dupla de volantes formada por Gabriel Neves e Rodrigo Nestor, que fecham o espaço pelo centro e permitem aos zagueiros de lado, Diego Costa e Léo, protegerem o setor dos companheiros de defesa.

O time base do São Paulo nos confrontos diante do Palmeiras pelo Brasileirão e Copa do Brasil.
O time base do São Paulo nos confrontos diante do Palmeiras pelo Brasileirão e Copa do Brasil. (Foto: Pedro Mairton)

Em determinados momentos do jogo, o Tricolor se posta em um 5-3-2, com Patrick tendo maior liberdade para se aproximar do centroavante, Calleri, e também ter mais presença de área. O camisa 88, entretanto, não tem a mesma autonomia tática que Igor Gomes, que cai pela direita e constantemente sai da posição para servir de opção de passe e infiltrar em espaços criados pelos companheiros.

Saída de bola

O São Paulo executa duas formas de saída de bola. A primeira, quando deseja sair em passes curtos, é formada pelos três zagueiros e conta com a participação do goleiro Jandrei. Diego Costa e Léo se posicionam próximos às linhas laterais para criar amplitude, permitindo que Igor Vinícius e Reinaldo avancem para formar outra linha com os meio-campistas.

A saída de bola do São Paulo por passes curtos.
A saída de bola do São Paulo por passes curtos. (Foto: Pedro Mairton)

Gabriel Neves se posiciona à frente do zagueiro central, Arboleda, e, por vezes, recebe apoio de Rodrigo Nestor, Igor Gomes ou até Patrick quando o time deseja realizar a saída de bola pelo centro do campo. Em geral, o camisa 15 serve apenas como isca para atrair a marcação dos adversários.

Rogério Ceni, contudo, prefere que o time realize a saída de bola pelas laterais, principalmente com Léo, que é lateral-esquerdo de origem e tem qualidade no passe e lançamento. O zagueiro, além de acionar Reinaldo, posicionado mais à frente, também pode executar lançamentos que buscam Calleri.

A segunda opção de saída do São Paulo é através da bola longa e tem participação importante de Jandrei, que é o homem adicional nessa função e posiciona-se centralizado, enquanto Arboleda fica próximo à linha lateral direita e Léo na esquerda.

A saída de bola do São Paulo por bola longa.
A saída de bola do São Paulo por bola longa. (Foto: Pedro Mairton)

O time, neste momento, não sai com os três zagueiros, mas sim com dois, e permite que Diego Costa se posicione adiantado, onde costuma ficar Igor Vinícius, que, por sua vez, posta-se como um ponta e realiza a função de batalhar pela segunda bola, uma vez que Calleri é o jogador preferido dos defensores durante os lançamentos.

Fase ofensiva

Na fase ofensiva, o São Paulo de Ceni se posta em um 3-4-3, que pode ser melhor definido como um 3-1-3-3, com Gabriel Neves à frente do trio de zaga, e Igor Vinícius, Igor Gomes, Rodrigo Nestor, Patrick e Reinaldo posicionados à frente do volante e atrás de Calleri.

O São Paulo durante a fase ofensiva.
O São Paulo durante a fase ofensiva. (Foto: Pedro Mairton)

Apesar de ser centroavante, o camisa 9 do Tricolor não se limita a ficar dentro da área e costuma cair para as laterais, seja para servir de opção de passe e realizar a proteção da bola, abrir espaços para a infiltração dos meias ou até tentar uma jogada individual.

É comum os meias de lado, Igor Gomes e Patrick, trocarem de posição com Igor Vinícius e Reinaldo, que ficam nas extremidades enquanto a dupla serve de opção pelo centro. Os dois laterais costumam realizar ultrapassagens e chegar à linha de fundo em busca do cruzamento.

Adepto do jogo apoiado e de movimentação, Rogério Ceni ordena que os jogadores joguem próximos uns dos outros para circular melhor a bola através de passes curtos rápidos, que são eficientes para quebrar uma marcação mais encaixada do adversário. Com atletas de características ofensivas pelo lado, é comum eles receberem auxílio de dois companheiros próximos ao setor para realizar tabelas e infiltrar na defesa do oponente.

Um exemplo do jogo apoiado do São Paulo pelo lado esquerdo do ataque.
Um exemplo do jogo apoiado do São Paulo pelo lado esquerdo do ataque. (Foto: Pedro Mairton)

Contra adversários que adotam linhas altas de marcação, o time do Morumbi usufrui de lançamentos para explorar os espaços nas costas da defesa. Nesta variação de ataque, é comum Léo ser o autor das bolas longas procurando Calleri, que é o responsável pela primeira bola, enquanto Patrick, Igor Gomes, Reinaldo e Igor Vinícius – a depender do lado do campo – batalham pelo rebote.

Quando um dos jogadores recebe uma marcação individual, como foi o caso de Patrick no duelo de volta contra o Palmeiras, Ceni ordena que o comandado saia da posição e faça parte da ligação entre defesa e ataque. Essa estratégia tem como finalidade atrair o oponente e abrir espaços, que em geral são ocupados por Reinaldo, além de permitir que o atleta participe mais do jogo e não fique ofuscado pela pressão do oponente.

Vale ressaltar que a troca de posição é importante no jogo do São Paulo para superar as pressões do adversário e quebrar a segunda linha de defesa.

Quando envolve o oponente e chega ao setor ofensivo, principalmente pelas laterais, o treinador pede que muitos jogadores pisem na área, com o objetivo de diminuir a desvantagem numérica contra os defensores, além de adiantar as linhas e permitir que outros jogadores fiquem próximos da grande área para uma eventual sobra.

Um exemplo da disposição dos jogadores de meio para frente do São Paulo quando a equipe chega ao ataque; repare que Igor Vinícius (2) também penetra na grande área.
Um exemplo da disposição dos jogadores de meio para frente do São Paulo quando a equipe chega ao ataque; repare que Igor Vinícius (2) também penetra na grande área. (Foto: Pedro Mairton)

Até mesmo quando um lateral chega à linha de fundo com a posse de bola, o outro também penetra na grande área buscando o espaço nas costas do último defensor por aquele lado. Diferente de algumas equipes que atacam pelos flancos, onde um ala avança e o outro permanece na defesa, no São Paulo ambos progridem.

Fase defensiva

Na fase defensiva, a equipe se posta inicialmente em um 5-3-2, com uma marcação mista e bastante agressiva, na qual os jogadores, a priori, protegem o espaço e depois colam no portador da bola para tentar o desarme, interceptação ou apenas diminuir o espaço de jogo do oponente, obrigando-o a recuar ou induzí-lo a perder a posse.

O São Paulo no primeiro momento da fase defensiva.
O São Paulo no primeiro momento da fase defensiva. (Foto: Pedro Mairton)

Com as linhas bem adiantadas, principalmente contra adversários mais frágeis na saída de bola, o São Paulo praticamente inicia a fase defensiva totalmente no campo de ataque, diminuindo o espaço de jogo dos oponentes.

Desta forma, a defesa começa com o atacante, Calleri, que recebe o apoio de Patrick para pressionar os zagueiros e cercá-los para diminuir as opções de passe. Os demais jogadores do Tricolor encaixam a marcação nos homens próximos da defesa do oponente, sendo comum ver Igor Vinícius e Reinaldo colando nos laterais do outro time.

O objetivo é claro: encolher o oponente no próprio campo de defesa e induzi-lo a devolver a bola ao São Paulo. Seja com um passe errado próximo ao gol, que eleva as probabilidades da equipe tricolor de marcar, ou com um chutão, permitindo que os comandados de Rogério Ceni volte a trabalhar a bola desde os defensores.

Entretanto, quando o rival supera a pressão de Calleri e Patrick e quebra a segunda linha de marcação, o camisa 88 tem a obrigação de recuar e fechar o espaço pela esquerda, auxiliando Reinaldo, e o time se estabelece em um 5-4-1.

Patrick auxilia na marcação pelo lado esquerdo quando o adversário supera a segunda linha de marcação do São Paulo.
Patrick auxilia na marcação pelo lado esquerdo quando o adversário supera a segunda linha de marcação do São Paulo. (Foto: Pedro Mairton)

Contra adversários que têm bons jogadores para executar a saída de bola, Ceni atribui a um comandado a função de realizar uma marcação individual. No duelo contra o Palmeiras, por exemplo, Rodrigo Nestor foi o encarregado de marcar Danilo, o volante alviverde.

Rodrigo Nestor realizando a marcação individual em Danilo, do Palmeiras.
Rodrigo Nestor realizando a marcação individual em Danilo, do Palmeiras. (Foto: Premiere)

Essa estratégia dificulta aos rivais transitarem em passes curtos com qualidade, uma vez que o jogador responsável pela ligação entre defesa e o ataque está sendo perseguido por um atleta são-paulino, obrigando o adversário a variar a construção de jogo.

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, chegou a trocar Danilo de posição, fazendo-o cair pelo lado direito da defesa, para que Nestor não aproximasse tanto e fizesse um buraco na defesa são-paulina. Além disso, o português também recuou Scarpa para atribuí-lo essa função de ligação entre o sistema defensivo ao ofensivo e de ordenou aos jogadores de meio-campo movimentações inteligentes para usufruírem do espaço nas costas do camisa 25 do São Paulo.

O Palmeiras conseguiu abrir um buraco na defesa do São Paulo se aproveitando da marcação individual de Rodrigo Nestor em Danilo.
O Palmeiras conseguiu abrir um buraco na defesa do São Paulo se aproveitando da marcação individual de Rodrigo Nestor em Danilo. (Foto: Premiere)

Já contra adversários que possuem qualidade na saída de bola, o São Paulo recua as linhas para um bloco médio. A intenção é evitar que o oponente se desvencilhe da marcação pressão e avance em superioridade numérica contra a defesa, e também se preservar de lançamentos nas costas dos defensores.

No jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Verdão, Rogério Ceni orientou Calleri e Patrick a cercarem os defensores e dessem certo espaço para eles avançarem com a bola, recuando as linhas. A intenção era fazer com que os zagueiros do rival conduzissem a bola entre eles e logo depois fortalecer a marcação para recuperar a bola e engatar o contra-ataque em velocidade.

Transições

Transição ofensiva

O São Paulo ataca com muitos homens, e isso não é diferente no momento dos contra-ataques. Além de acelerar ainda mais o jogo, buscando espaços principalmente pelas laterais, os jogadores de meio para frente do Tricolor partem em velocidade em direção ao gol durante as transições ofensivas.

É comum, no momento de conclusão da jogada, a grande área do adversário estar preenchida com um grande volume de jogadores do São Paulo. Isso se deve ao jogo de aproximação desde a fase ofensiva, uma vez que, quando a equipe perde a bola, rapidamente os atletas executam o movimento de recuperá-la o mais rápido possível, e o jogo apoiado permite que o time concentre um número expressivo de jogadores para agredirem o oponente.

Assim, a equipe tem mais opções de sair em contra-ataque através de passes curtos e os jogadores chegarem juntos à grande área.

Quando está postado totalmente na defesa, Calleri é a opção preferida para desafogar o perigo na defesa e iniciar a transição ofensiva através da bola longa. Devido às características de força e pivô do camisa 9, ele consegue batalhar pela bola e protegê-la enquanto os companheiros disparam rumo ao gol.

Transição defensiva

A partir do momento em que perde a bola, o São Paulo imediatamente tenta retomar a posse para dar prosseguimento ao ataque, com o bônus de pegar a defesa do rival fragilizada. Entretanto, quando não tem êxito na recuperação, é comum o Tricolor Paulista se encontrar bastante espaçado ao sofrer os contra-ataques.

Isso ocorre devido ao fato do time adiantar bem as linhas de marcação e atacar com os dois laterais, que deixam um espaço considerável no setor do lado do campo e sobrecarregam os zagueiros de lado, que, ao cobrirem os companheiros, espaçam a defesa, permitindo infiltrações dos atacantes.

Desta forma, o time busca se recompor o mais rápido possível para que evite que o adversário usufrua os espaços e fique em superioridade numérica nos contra-ataques. E em caso de conseguir recuperar a bola, pode se aproveitar da fragilidade defensiva do oponente e contragolpear em velocidade.

Bola parada

Considerado o quinto momento do jogo, o São Paulo estabelece padrões de como ataca e se defende durante as bolas paradas.

Bola parada ofensiva

Escanteios

Nos escanteios, o São Paulo geralmente cobra com um canhoto pelo lado direito e vice-versa, sendo Reinaldo e Igor Vinícius os dois cobradores. A exceção foi no jogo de volta contra o Palmeiras, pela Copa do Brasil, quando o lateral-esquerdo estava lesionado e deu lugar a Wellington.

A ideia é executar uma batida fechada e aproveitar a movimentação dos atletas na grande área para atingir o objetivo: o gol.

De costume, dois jogadores posicionam-se no primeiro pau, enquanto um, em geral Patrick, fica no segundo. Outros três atletas postam-se fora da pequena área. Na sobra, ficam dois na entrada da grande área, um canhoto pelo lado esquerdo e um destro no direito.

Essa distribuição na sobra facilita ao jogador efetuar um chute em diagonal que pode ser desviado por um companheiro, além de facilitar uma eventual ida à linha de fundo para realizar um cruzamento em direção a grande área.

No momento da cobrança, os dois jogadores do primeiro pau se movimentam para frente com a intenção de desviar a bola e atrair a marcação, enquanto os outros três penetram na pequena área para brigar pelo rebote. Quem está no segundo pau fica no aguardo de um eventual desvio para aquele lado.

Como Patrick tem a função de ficar no segundo pau, ele às vezes pode se movimentar em direção ao primeiro, enquanto outro jogador penetra naquele espaço, com o objetivo de enganar a marcação.

Faltas

Nas cobranças de falta próximas à área, o São Paulo coloca na bola um destro e um canhoto para confundir a marcação, que espera por um cruzamento aberto ou fechado. Os demais jogadores ficam alinhados junto à linha defensiva do oponente e outros dois ficam na sobra, sendo um próximo a meia-lua da grande área e outro no lado oposto da cobrança.

Laterais

Os laterais também são uma arma do time de Rogério Ceni. Com cobradores de lateral à longa distância, como Reinaldo, é comum que o técnico ordene que muitos jogadores, incluindo os zagueiros, alinhem-se na grande área para brigar pela bola.

E assim como nos escanteios ficam dois posicionados na entrada da grande área para uma possível sobra, sendo um destro no lado direito e um canhoto pela esquerda.

A estratégia de muitos homens na grande área tem o objetivo principal de aproveitar rebotes mal executados pela defesa.

Bola parada defensiva

Escanteios

O São Paulo se defende de forma mista nos escanteios. Ou seja, alguns jogadores realizam uma marcação por espaços e outros marcam diretamente um jogador específico. Contra o Palmeiras, houve um encaixe individual em Gustavo Gómez e em Murilo, os dois zagueiros da equipe alviverde e que têm bom jogo aéreo.

A defesa por espaços é realizada na pequena área e na entrada da grande área, este último para brigar por uma eventual sobra e costumam ficar dois jogadores, um em cada lado.

Faltas

Nas faltas, a depender da proximidade ao gol, o São Paulo coloca um ou dois jogadores na barreira. O reforço acontece quando há uma possibilidade real do oponente efetuar um chute direto. Além disso, se o adversário se postar com dois batedores, tem um atleta responsável pela cobertura da movimentação de quem não realizar a cobrança.

Os demais jogadores do Tricolor se posicionam em linha, geralmente na marcação limite da grande área, para dificultar o adversário a permanecer em posição legal no momento da batida da falta. A frente dos companheiros alinhados, um atleta posiciona-se para a sobra.

Laterais

Devido ao fato de não haver impedimento em cobranças de lateral, o time do Morumbi executa uma marcação individual em todos os adversários que aguardam o arremesso em direção à grande área. O Tricolor também conta com companheiros na sobra dentro da grande área para facilitar na briga pelo rebote.

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