Torcedores do Ceará relatam racismo e temor em jogo contra Independiente na Argentina
A noite de quarta-feira, 25, que deveria ser de festa para a torcida do Ceará, acabou sendo manchada por atos racistas vindos da torcida do Independiente
20:01 | Mai. 26, 2022
A classificação histórica do Ceará para as oitavas de final da Copa Sul-Americana, na noite da última quarta-feira, 25, foi manchada por mais casos de racismo. Desta vez, torcedores do Independiente, que perdeu para o time cearense por 2 a 0, imitaram macacos em direção a torcida alvinegra após o jogo. A partida foi disputada no Estádio Libertadores da América, em Buenos Aires, válida pela última rodada da fase de grupos da competição.
Um dos torcedores que presenciou os atos racistas foi o engenheiro eletricista Lucas Rodrigues, de 28 anos, que esteve em Avellaneda. Ele relata tristeza, mas não surpresa com os casos de preconceito e revelou ter receio de que pudesse acontecer algum tipo de agressão física:
“Sobre os casos de racismo, é lamentável. Eu vim pra essa viagem com a certeza de que isso iria acontecer e com receio de algo pior. Eu preferi não ficar olhando, é algo que mexe muito comigo”, disse Lucas em depoimento ao Esportes O POVO.
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Os casos de racismo e o medo que sentiu no Estádio Libertadores da América impediram Lucas de visitar mais um estádio na Argentina. O brasileiro revelou ter desistido de assistir uma partida do Boca Juniors, na La Bombonera, por receio de “algo pior”:
“Estava nos meus planos de ir ao jogo do Boca Juniors, mas todo jogo está tendo casos como esses. Eu fiquei com medo de ir. Passei em frente ao estádio, com vontade imensa de ir, mas não tive coragem. Foi algo que me impediu de comprar o ingresso, de me preparar e ir. Fiquei com medo. Sabe-se lá o que vão fazer. De repente eles me identificam como brasileiro e, pela minha cor, querem me bater”, terminou.
Os torcedores Yan Sucupira Amaral, de 26 anos, e Francisco Chagas Lima Dantas, de 39 anos, também presenciaram os casos de racismo no jogo contra o Independiente. Ambos demonstraram tristeza e indignação com a atitude dos torcedores adversários:
“O torcedor que fez aquele gesto é inferior, mal educado, que não conhece os limites que existem dentro de uma sociedade. Este é o gesto de uma pessoa que não sabe o mundo que vive, e que talvez esteja vivendo nos anos 60 ou 70”, disse Yan.
“Como ser humano ficamos bem desapontados. Depois de tudo que passamos durante essa pandemia, achamos que teríamos mais humanidade, respeito entre as pessoas. E o mais triste é que também vemos crianças fazendo gestos racistas, onde temos a certeza que cenas assim, ainda se repetirão por muito tempo”, relatou Francisco.
Diante dos casos de racismo avistados no Estádio Libertadores da América, a diretoria do Ceará vai dar entrada em uma representação oficial junto à Conmebol, para que o Independiente seja notificado.