Análise: o que esperar de Dorival Júnior no comando do Ceará

Novo técnico do Vovô implementou novas ideias em última passagem e pode replicá-las em Porangabuçu, mudando o sistema tático e a maneira de como a equipe ataca

Dorival Júnior chegou ao Ceará na última segunda-feira, 28, para assinar o contrato até o final da temporada e já comandar a equipe para os próximos desafios na temporada. Com três competições a serem disputadas no mês de abril, o novo técnico do Vovô terá uma semana até a estreia, no dia 5, contra o Independiente-ARG, pela primeira rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana.

Com passagem recente pelo Athletico-PR, Dorival Júnior realizou apenas 18 jogos sob o comando do time, onde foi demitido com nove vitórias e seis derrotas, o que representa um aproveitamento de 55%.

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O Esportes O POVO analisou os jogos do treinador pela equipe paranaense e traçou quais as ideias que ele pode implementar no Alvinegro.

Alteração do sistema tático

O Ceará de Tiago Nunes utilizava-se principalmente do sistema tático 4-2-3-1, onde os volantes participavam da construção do jogo junto aos zagueiros e também infiltravam-se no setor de ataque, dando apoio aos meias ofensivos e atacantes do time.

A primeira mudança tática de Dorival Júnior pode ser a alteração do sistema. No Athletico, o treinador utilizava o 4-1-4-1, com apenas um volante, Wellington, que ficava à frente da dupla de zaga e não era um dos responsáveis pelo início da fase ofensiva do time, e servia mais como uma opção de passe para os defensores.

Time com a bola

Com a bola, os jogadores do Athletico buscavam se posicionarem em todos as zonas do campo, dentro da distribuição tática do 4-1-4-1, a fim de criarem superioridade numérica quando um atleta estivesse com a posse da bola e, dentro de sua visão de jogo, encontrasse mais de uma linha de passe para circular a bola durante a fase ofensiva.

No Ceará, é provável que Richard seja o primeiro volante e Lindoso deverá disputar a vaga pela posição com ele. Fernando Sobral deve posicionar-se mais a frente, ficando ao lado de Vina como meia central.

A formação com três volantes, onde poderia encaixar Richard, Rodrigo Lindoso (ou Richardson) e Fernando Sobral é pouco provável, uma vez que Dorival implementou dois jogadores de lado bem abertos pelas extremidades do campo no Athletico (Rony e Nikão), que devem ser ocupadas por Mendoza e Lima. Logo, essa escolha sacrificaria Vina, um dos jogadores mais técnicos do time, que não tem a característica de jogar como ponta e o Ceará já conta com Matheus Peixoto, Dentinho e outros nomes para ser o atacante de referência da equipe.

Provável escalação do Ceará no possível novo sistema de Dorival Júnior
Provável escalação do Ceará no possível novo sistema de Dorival Júnior (Foto: Pedro Mairton)

Sem a bola

Sem a bola, o Athletico se configurava em um 4-4-2, onde um dos homens de frente iniciavam a pressão para retomar a bola o mais rápido possível.

Isso não deve ser um problema para o provável titular da equipe na fase Dorival: Matheus Peixoto. O atleta costuma desempenhar a função de pressionar o portador da bola e de fechar as linhas de passe, e pode ser peça importante para o novo modelo de jogo da equipe.

Na saída de bola adversária, os homens de frente realizavam a marcação por encaixe nos defensores, e induzia o goleiro e os zagueiros a realizarem lançamentos longos, com o intuito de brigar pela bola no alto e recuperá-la, dando início à fase ofensiva.

Provável distribuição tática do Ceará de Dorival Júnior sem a posse de bola
Provável distribuição tática do Ceará de Dorival Júnior sem a posse de bola (Foto: Pedro Mairton)

Novo modelo de jogo

Diferente de Tiago Nunes, o Ceará de Dorival Júnior deve mudar sua postura de atacar e construção de jogo. Isso porque o novo técnico do Alvinegro implementou o Ataque Posicional no Athletico.

O que é o Ataque Posicional, segundo o Glossário do Futebol Brasileiro, produzido pela CBF.

É o tipo/método de ataque caracterizado por uma elevada fase de elaboração da construção do ataque, em que a equipe apresenta uma forma de jogar que evidencia um bloco homogêneo e compacto, que utiliza um grande número de jogadores/jogadoras e de ações para concretizar os objetivos. Nesta forma de organização ofensiva as atitudes e comportamentos individuais e coletivos são pautados na segurança das ações ofensivas, fato que exige a criação constante de condições mais favoráveis para a concretização de uma ação tática e com busca permanente pela ocupação racional do espaço.

Em outras palavras, os jogadores devem se posicionar dentro do sistema tático implementado, com bastante troca de posição, mantendo-se a estrutura da configuração tática. A construção de jogadas deve ser paciente, com muita circulação de bola e procura por espaços, que devem ser atacados pelos jogadores quando estão sem a bola, com o intuito de gerar superioridade numérica sobre o adversário.

Quando a bola está na posse de um determinado atleta, os demais posicionados próximo ao portador dela devem se aproximarem para gerar linhas de passe, na qual permite a facilidade da manutenção da posse.

Exemplo do jogo apoiado aplicado por Dorival Júnior no Athletico Paranaense
Exemplo do jogo apoiado aplicado por Dorival Júnior no Athletico Paranaense (Foto: reprodução/InStat/Ilustração: Pedro Mairton)

Além disso, essa proximidade também permite ao time recuperar a bola no momento da perda, com os jogadores pressionando os adversários e recuperando a bola logo em seguida, dando início a transição ofensiva e a construção do jogo ainda no campo de ataque.

Dessa forma, o Ataque Rápido de Tiago Nunes deve ser substituído pelo Ataque Posicional de Dorival Júnior. Nesse modelo, a equipe deve acelerar o jogo quando encontrar circunstâncias, e principalmente espaços, que a permite atacar o adversário fragilizado. Assim, é comum a equipe girar a bola, realizar inversões e tocar pacientemente até encontrar o momento certo de agredir o oponente.

Saída de bola e fase ofensiva

No 4-1-4-1 do Athletico, o time realizava a saída de bola com os dois zagueiros, com auxílio do goleiro, e os dois laterais bem abertos, posicionados um pouco mais a frente. O volante ficava no meio, mas dificilmente participava da saída de bola, auxiliando apenas como uma linha de passe a mais no momento que os laterais e os meias estivessem com a posse.

Além disso, os dois pontas e o centroavante ficavam posicionados no limite da linha lateral do campo e distantes dos zagueiros, criando amplitude e também profundidade, que é o espaço da linha defensiva até a linha ofensiva, ambas com o fim de gerar espaços na defesa adversária. Como o Ataque Posicional permite a constante troca de movimentações sem que o sistema tático saia do desenho inicial, será comum os pontas trocarem de posição com os laterais quando esses realizarem o movimento de ultrapassagem, e a equipe se configurar em um 3-2-5 quando estiver totalmente no campo de defesa do oponente.

Distribuição tática dos atletas do Athletico Paranaense sob o comando de Dorival Júnior; repare na amplitude criada pelos dois pontas
Distribuição tática dos atletas do Athletico Paranaense sob o comando de Dorival Júnior; repare na amplitude criada pelos dois pontas (Foto: reprodução/InStat/Ilustração: Pedro Mairton)

Quando um dos laterais do Athletico avançava, o outro deveria manter a posição junto à linha defensiva, com o objetivo da equipe não sofrer com inferioridade numérica em caso do adversário escapar da zona pressionante ao recuperar a bola e realizar o contra-ataque em velocidade.

O atacante de referência também deve exercer a função sem a bola, pois a movimentação que atrai os defensores pode ser aproveitada por um dos extremos ou meias, que atacam o espaço gerado.

Zagueiros construtores

Nesse sistema, é comum os zagueiros participarem ativamente da fase ofensiva. Com cada um dos 11 atletas respeitando seu posicionamento e função dentro de campo, os defensores são responsáveis por iniciar a construção do ataque efetuando passes que passam pelo volante e encontram os meias centrais ou um dos dois pontas, desorganizando a estrutura defensiva da equipe rival e permitindo o progresso do time pelo campo.

Robson Bambu, ao lado de Thiago Heleno, era um dos responsáveis pela saída de bola e criação de jogadas do Athletico de Dorival Júnior
Robson Bambu, ao lado de Thiago Heleno, era um dos responsáveis pela saída de bola e criação de jogadas do Athletico de Dorival Júnior (Foto: reprodução/InStat/Ilustração: Pedro Mairton)

Logo, Messias e Luiz Otávio devem exercer essa função, que será um dos pilares da construção do time.

Considerações finais

Com apenas uma semana antes da estreia do Ceará na Copa Sul-Americana, Dorival Júnior terá pouco tempo útil para implementar todas as ideias de uma vez no elenco, principalmente de um estilo de jogo que exige tempo para os jogadores entenderem e coordenarem essas ações de tamanha complexidade em campo.

Logo, deve ser comum ver resquícios do Ceará de Tiago Nunes nos primeiros jogos do novo treinador, e na medida em que o calendário permitir folga aos atletas, Dorival dê cada vez mais uma nova cara ao time.

Referências

THIENGO, Carlos. Glossário do Futebol Brasileiro: termos e conceitos relacionados às dimensões técnicas e táticas. 2° edição. CBF. 2020

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