Trabalho na roça, rápida ascensão e pré-contrato com o Ceará: conheça a história do atacante Jacaré
Até 2017, Jacaré dividia sua rotina entre plantações na roça, escola e jogar bola com os amigos. Três anos depois, o garoto se tornou jogador profissional e está acertado com o AlvinegroTrabalho na roça em Caririaçu, município com 26 mil habitantes no interior do Ceará. A rotina de plantações de milho, feijão e fava era dividida com os horários da escola e de lazer — ou, no caso dele, a hora de jogar bola. Até 2017, era esta a realidade de Vitor Silva, mais conhecido como Jacaré, atacante do Caucaia com pré-contrato assinado com o Ceará.
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Apesar de surgir jovem no futebol profissional, o cearense nunca passou pelo processo de lapidação das categorias de base. A oportunidade apareceu para o então adolescente aos 17 anos, em partida amistosa. Bastaram 15 minutos para a vida do neto da dona Francisca começar a mudar. Ele entrava de vez no mundo futebolístico profissional.
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Em junho de 2017, o garoto que só jogava "rachas" com amigos foi chamado para disputar um amistoso contra o Icasa, representando a seleção de Caririaçu. Entrou em campo só na reta final. Tempo suficiente para distribuir o cartão de visitas: muita velocidade e dribles cheios de agilidade. Como ele mesmo define: fez "fumaça" na peleja. Os minutos em campo impressionaram a diretoria do Verdão do Cariri, que lhe convidou para integrar o elenco profissional.
O garoto contrariou a avó para se tornar jogador. Criado por dona Francisca, o adolescente não atendeu ao pedido da matriarca de seguir trabalhando na roça. Mas a decisão foi apoiada pelo tio Jesualdo, que acompanha todos os passos do sobrinho e tem presença paterna na vida do jovem. Jacaré nunca conheceu o pai.
"Tinha esse sonho. Nunca tinha feito base, só via pela televisão. Para mim, era distante (ser jogador). Nunca tinha ido a um clube profissional. Mas na minha primeira oportunidade, fiz questão de agarrar com as duas mãos e estou lutando até hoje", disse o atleta em entrevista exclusiva ao Esportes O POVO.
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Jacaré teve rápida ascensão. De amador se tornou profissional pelo Icasa. Em menos de um ano, o jovem atacante ganhou a chance de jogar no Fortaleza. Sob o comando de Rogério Ceni, ele só atuou em uma partida do Campeonato Cearense no elenco principal e foi utilizado na base, onde conquistou o título da Copa do Nordeste Sub-20.
Em 2019, vestiu a camisa do Caucaia e ajudou a equipe a conquistar o acesso para a primeira divisão do Estadual, com título, além do troféu da Taça Fares Lopes. Veio 2020, Jacaré seguiu na Raposa e apresentou sua melhor versão na curta carreira.
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Até a pausa do futebol por causa do coronavírus, o jogador entrou em campo 12 vezes e marcou seis gols nesta temporada. Cinco tentos foram feitos no Estadual, o que o deixa entre os quatro maiores goleadores do Cearense 2020.
O desempenho despertou o interesse dos dois principais clubes do Estado. Houve Clássico-Rei no mercado da bola por Jacaré. O Ceará levou a melhor, oferecendo pré-contrato de três anos.
"Minha decisão pelo Ceará foi por entender que já tinha passado a fase no Fortaleza e queria um novo desafio. O Ceará é um clube gigantesco e fez uma proposta financeiramente melhor. Não tinha como não aceitar", revelou o atacante.
Diante da quarentena, Jacaré está em Caririaçu com a avó. Por lá, segue fazendo treinos físicos para manter a forma. O acordo com o Ceará é para se apresentar ao clube e se juntar ao elenco profissional após o Estadual.
"Deram 15 dias de folga. A gente não sabe se vai voltar para lá (Caucaia). Estamos conversando sobre qual a melhor forma para ser bom para todos. O pessoal do Caucaia está torcendo muito por mim. O que for melhor para eles vamos acatar", explicou o jogador em meio às incertezas provocadas pela pandemia.
Trabalho na roça
O serviço na roça se resumia em ajudar o avô Antônio Gabão. A rotina na zona rural trouxe aprendizados para o atacante.
"Plantava milho, feijão e fava e limpava o mato na roça. Me ensinou muitas coisas. Primeiro de tudo: a roça me ensinou a me comportar, sempre respeitando os mais velhos. Mas a minha maior vontade sempre foi se tornar jogador."
Sonho de disputar a Série A
No Ceará, Jacaré ficará próximo de uma realização profissional: atuar na elite do futebol nacional. "É um sonho de criança jogar o Campeonato Brasileiro. Se depender de mim, não vai faltar vontade, raça. Tenho uma grande oportunidade e vou conseguir", afirmou.
Oportunidade no Ceará
"Encaro da melhor forma possível. Com competência e trabalho, as coisas vão acontecendo muito rápido. Estou fazendo de tudo para chegar ao Ceará e dar o máximo de mim dentro e fora de campo. Profissional não é só dentro de campo, tem que ter competência fora."
Avaliação sobre a passagem pelo Fortaleza
"Acho que tive poucas oportunidades, mas sou grato com as oportunidades que tive. O professor Rogério achou que eu não estava pronto naquele momento. Respeito a opinião. Mas a carreira na base lá foi emocionante. Conquistamos um título que a base do Fortaleza não tinha, o Sub-20 da Copa do Nordeste. Meu foco agora é o Caucaia e depois o Ceará."
Origem e quase fim do apelido
Vitor passo a ser chamado de Jacaré a partir dos quatro anos, quando ganhou o apelido na infância. "É por causa da boca grande", conta o atacante aos risos.
Quando estava no Fortaleza, o jogador recebeu o conselho de que deveria retirar o apelido Jacaré no futebol. "Pediram para eu mudar no Fortaleza. Mas vou com esse apelido até o fim", diz.
Gratidão ao Caucaia
"Venho fazendo um bom campeonato pelo Caucaia. É a minha melhor fase no futebol. Tive oportunidade de jogar bem. Significa muito na minha vida, que a gente precisa batalhar pelos nossos sonhos, nada é impossível. Sou muito grato ao Caucaia. O clube já ficou marcado na minha história."
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