Análise: Saiba como ataca o Oeste, adversário do Ceará na 2ª fase da Copa do Brasil
Pouco inspirado ofensivamente, Rubrão usa muitos lançamentos e aposta na ligação direita para superar os adversários
10:01 | Fev. 18, 2020
O Ceará entra em campo na quarta-feira, 19, às 21h30min, para enfrentar o Oeste na Arena Barueri, pela Copa do Brasil. O adversário do Vovô, já estabelecido no cenário nacional, não vem fazendo boa campanha a nível estadual. No Campeonato Paulista, o Rubrão é o 14º colocado, com apenas quatro pontos, e beira o rebaixamento para a Série A2.
Apesar de ser início de temporada, o jogo já vale muita coisa. Além da classificação, a cota de R$ 1,5 milhão para participar da terceira fase da competição nacional é uma bolada que pode ajudar bastante no planejamento das duas equipes em 2020. Para entender que tipo de oponente o Ceará vai encontrar no interior paulista, Esportes O POVO faz uma análise tática de como vem se comportando o Oeste neste começo de ano bem abaixo do esperado.
Pouco inspirado
Ao ver o Oeste jogar, organizado no sistema tático 4-2-3-1, fica nítido que a maioria das jogadas ofensivas da equipe são construídas pelo lado direito. O lateral direito Eder Sciola é uma das principais armas, acionando os atacantes com cruzamentos e, por vezes, aparecendo na área para cabecear em jogadas de bola parada. O atacante Roberto, ex-Ceará, também costuma exercer a função. Esse recurso não é usado apenas em curta ou média distância, mas também em longa distância: o Rubrão é a equipe que mais faz lançamentos no Paulistão, com média de 40 por jogo, segundo o Footstats.
Por outro lado, enquanto o Oeste se apega às bolas longas para atacar, a equipe também é a que mais erra lançamentos no Campeonato Paulista: até agora, já foram 164 errados. Por esse motivo, também é o time que mais perde a posse de bola, com 226 perdas, o que torna mais difícil a aproximação da área para executar sua jogada mais efetiva. Apesar da maioria dos gols do Rubrão terem saído de cruzamentos, o time é o que menos cruza no Estadual. Um fator que pode explicar o motivo do Oeste ter o pior ataque do campeonato, com apenas quatro tentos marcados.
Boa parte dos gols do Rubrão saíram na fase de transição ofensiva, momento em que uma equipe sai de um comportamento defensivo para começar a atacar. Quando acionado, Eder Sciola (ou outro jogador que esteja na lateral direita) quase sempre tenta cruzar a bola para o outro lado do campo, onde um jogador chega livre no corredor para finalizar. Os gols da vitória sobre o Ituano, no Paulistão, e do empate diante do Bangu, na Copa do Brasil, ainda que não sejam iguais, seguiram essa linha de pensamento.
Confira os gols:
Os outros dois gols do Oeste na temporada também começaram a ser construídos ou pelo lado direito ou por meio de um lançamento. Contra o Guarani, Eder Sciola recebeu e chutou para o gol, contando com a colaboração do goleiro Jefferson. Repare que no momento em que o lateral se posiciona para finalizar, um jogador aparece livre no lado esquerdo, levantando o braço para pedir a bola. É um padrão que se repete nos jogos do Rubrão e que dá a entender que esse tipo de jogada é algo premeditado pelo treinador Renan Freitas.
Confira o gol:
Na derrota mais desastrosa da temporada, quando perdeu de 5 a 1 para a Ferroviária em casa, o Oeste até chegou a empatar o jogo com o artilheiro João Paulo, que já marcou duas vezes em 2020 e jogou no Ceará no ano passado. No lance, o lateral esquerdo Marlon recebe um lançamento já partindo em velocidade e cruza para a chegada do atacante.
Esse foi o único tento do Rubrão em toda a temporada que foi construído pela faixa esquerda do campo e também o único utilizando o chutão, recurso mais acionado pela equipe no Campeonato Paulista. São alguns indicadores que podem explicar a ineficiência ofensiva do time de Barueri, que tem 12 impedimentos no Estadual, a segunda maior marca da competição. Apesar de ter o lançamento como principal arma, os jogadores parecem estar muito fora de sintonia com o estilo de jogo em ligação direta.
Confira o gol:
Espaço livre
Quanto à organização defensiva, o Oeste também sofre muito. O Rubrão tem a pior defesa do Paulistão, com 15 gols sofridos. Apesar de se posicionar com uma linha de quatro bem compactada, com os zagueiros e laterais próximos uns aos outros, a equipe sofre muito com infiltrações no meio da zaga. Além disso, o goleiro Caíque França também teve uma parcela de contribuição no saldo tão negativo, tanto é que foi sacado para a entrada de Felipe Lacerda no time titular.
O gol de Willian Bigode, do Palmeiras, na vitória por 4 a 0 sobre o Oeste, exemplifica bem a ideia de que, mesmo compactada, a equipe abre espaço para que jogadores do adversário apareçam em boas condições de finalizar. Já no revés diante da Ferroviária, Felipe Ferreira recebe lançamento entre a zaga e cabeceia livre, sem ser incomodado. Na derrota por 5 a 1, o Rubro-Negro ainda levou dois gols contra e contou com uma péssima atuação de Caíque França.
Confira o gol do Palmeiras e o gol da Ferroviária:
Dá pra concluir que o Oeste é uma equipe com muito pouca inspiração para atacar. Apesar de apostar nos lançamentos, esse é o recurso que a equipe mais erra e, de quebra, ainda deixa um campo aberto para que os adversários possam avançar. Sem ter como chegar próximo à linha de fundo, também não há como usar os cruzamentos pelo alto, que são as jogadas que mais levam perigo e que geraram três dos únicos quatro gols da equipe na temporada.
Para bater o Rubrão, o Ceará precisa propor o jogo. O Vovô demonstrou muita dificuldade para fazer gols em organização ofensiva neste ano, mas a partida pela Copa do Brasil pode ser o ponto de partida para que a equipe vire de vez a chave e mostre que está começando a incorporar as ideias do técnico Enderson Moreira, já que também será cobrado algo além da classificação. Por todo o investimento feito na pré-temporada, o torcedor espera ver desempenho. E isso será bastante exigido diante de uma equipe em crise como o Oeste.