Gerson, do Flamengo, acusa Ramírez, do Bahia, de injúria racial durante jogo; assista

Jogador Rubro-Negro afirmou em entrevista pós-jogo que o atacante do Tricolor teria dito "cala a boca, negro" para ele durante discussão. Na partida, Flamengo venceu por 4 a 3

21:14 | Dez. 20, 2020

Por: Redação O POVO
Ramírez e Gerson durante disputa de bola na partida (foto: Alexandre Vidal / Flamengo)

Apesar do desfecho positivo para o Flamengo no espetacular 4 a 3 contra o Bahia neste domingo, 20, o futebol ficou em segundo plano diante de mais um caso de injúria racial no futebol. O meia do Rubro-Negro, Gerson, acusou Índio Ramírez, do Tricolor. De acordo com o flamenguista, o colombiano se dirigiu a ele com a frase "cala a boca, negro" em discussão entre os dois atletas.

Além disso, Gerson também chamou a atenção do treinador da equipe adversária, Mano Menezes, que haveria defendido o jogador da equipe baiana, dizendo: "O menino chegou agora, é um guri", segundo o portal GE. De acordo com o meia flamenguista, a situação aconteceu quando o Tricolor descontou no placar, no início do segundo tempo. O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, buscou a bola com a intenção de chutá-la, quando Ramírez reclamou. Gerson tentou acalmar a situação, mas foi tratado com hostilidade.

"Eu fui falar com ele, ele falou bem assim: "Cala a boca, negro. Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito. Eu nunca falei de treinador, mas o Mano (Menezes) tem que saber respeitar. Eu estou aqui falando isso em nome de todos os negros do Brasil", relatou Gerson em entrevista pós-jogo ao Canal Premiere, do Grupo Globo.

O caso de injúria racial é mais um que tomou uma grande repercussão no mês de dezembro. Há 12 dias, o jogo entre PSG e Istambul Basaksehir foi interrompido, pela Liga dos Campeões da Europa, após suposta injúria racial do 4º árbitro a membro da comissão técnica da equipe turca, denunciada pelo jogador da equipe turca, Demba Ba. Cerca de uma semana depois, na sexta-feira, 18, um garoto de 11 anos foi vítima de racismo em jogo de futebol de base no interior de Goiás.

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O episódio tirou parte do brilho do confronto eletrizante travado em campo. O Flamengo, que chegou a ter vantagem por 2 a 0, sofreu a virada em 15 minutos, mas conseguiu reverter a situação no segundo tempo, conquistando a vitória por 4 a 3, com gols de Vitinho, Pedro, Bruno Henrique e Isla. O Bahia marcou com Gilberto (2) e Ramírez. Jogo também teve expulsão para os dois lados — Gabriel Barbosa (Flamengo) saiu ainda aos 9 minutos do primeiro tempo, quando a partida estava 1 a 0, enquanto Daniel (Bahia) foi expulso por reclamação no fim do confronto. Partida foi válida pela 26ª rodada da Série A do Brasileirão e foi disputada neste domingo, 20, às 18h15min, no Maracanã, Rio de Janeiro.

Em nota nas redes sociais, o Flamengo se posicionou sobre o caso exigindo apuração do ocorrido e repudiando a atitude o jogador colombiano: "O Clube de Regatas do Flamengo repudia veementemente o episódio lamentável ocorrido na partida deste domingo com o atleta Gerson, que foi vítima de injúria racial. O racismo desumaniza, fere e mata. O racismo é inadmissível. Exigimos profunda apuração do fato. #RacismoNão", publicou o time.

Gerson publicou crítica ao ocorrido: "O 'cala boca, negro' é justamente o que não vai mais acontecer", afirmou. Confira texto na íntegra, abaixo.

"Amo minha raça e luto pela cor."

O "cala boca, negro" é justamente o que não vai mais acontecer. Seguiremos lutando por igualdade e respeito no futebol - o que faltou hoje do lado contrário. Desde os meus 8 anos, quando iniciei minha trajetória no futebol, ouço, as vezes só por olhares, o “cala a boca, negro”. E eles não conseguiram. Não será agora.

"Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista". Não adianta ter o discurso, fazer campanha, e não colocar em prática em todos os aspectos da vida, inclusive dentro de campo. O futebol não é algo fora da sociedade e um ambiente onde barbaridades como o “cala a boca, negro” podem ser aceitas.

É uma pena nós, negros, termos que falar sobre isso semanalmente e nenhuma atitude no esporte ser tomada a respeito. E é mais triste ainda ver a conivência de outras pessoas que estão dentro de campo e que minimizaram e diminuíram o peso do ato de hoje no Maracanã. É nojento conviver com o racismo e ainda mais com os que minimizam esse crime.

Não vou "calar a minha boca". A minha luta, a luta dos negros, não vai parar. E repito: é chato sempre termos que falar sobre racismo e nada ser feito pelas autoridades.

Racismo é crime. E deve ser tratado desta maneira em todos os ambientes, inclusive no futebol.

Não me calaram na vida, não me calaram em campo e jamais vão diminuir a nossa cor.

A equipe também divulgou vídeo com a fala do vice-presidente de futebol, Marcos Braz.


O VP de Futebol @marcosbrazrio falou sobre o caso de injúria racial sofrido pelo meia Gerson. #RacismoNão pic.twitter.com/K9mIDd2zWa

— Flamengo (@Flamengo) December 21, 2020

[Atualização, às 21h56]

Em comunicado nas redes sociais, o Bahia anunciou a demissão de Mano Menezes e afirmou que se posicionaria sobre o episódio após a apuração do caso.

"O Esporte Clube Bahia comunica que Mano Menezes não é mais o técnico do Esquadrão. Nesta mesma ocasião aproveitamos para anunciar que, em relação à grave acusação de racismo envolvendo o colombiano Indio Ramírez, o clube se posicionará em breve após finalizar a apuração do caso", publicou o clube.