Mesmo sem ainda ter nascido, Levi teve participação importante na conquista de Cícero, alcançada na noite do último sábado (31). Antes e durante a prova, realizada no Stade de France, em Saint-Denis, cidade vizinha a Paris.
"No Dia dos Pais, recebi da minha esposa aquele chaveirinho [com a foto do ultrassom do filho]. No dia da prova, quando acordei, dei um beijo na foto. E quando minha esposa acordou de manhã no Brasil, disse que, de madrugada, ele não parava [de se mexer], que nunca tinha acontecido aquilo. E na hora da prova, um companheiro de Cabo Verde falou, no quarto lançamento [o do bronze], que aquele seria para meu filho. Fico até arrepiado", contou Cícero.
"De dois anos para cá e com a vinda do Levi, mudei bastante a forma de pensar e agir. Talvez, se fosse há três, quatro anos, eu não teria a cabeça que tive na minha prova. Creio que ele já está vindo para ensinar isso, a saber dosar as coisas", completou o atleta, que tem má-formação congênita bilateral nos pés.
Cícero, agora, prepara-se para se adaptar à rotina de atleta e pai rumo à Paralimpíada de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028. E não quer estar sozinho lá. Nathalia, sua esposa, também é atleta paralímpica e compete no arremesso do peso e no lançamento de dardo. Em 2014, ela teve uma das pernas imprensadas em um acidente automobilístico e teve que amputar a perna esquerda.
"A gente está se programando para, quando ele [Levi] estiver com seis meses, ela [Nathalia] já viajar para São Paulo e a gente competir. Ela tem o sonho de chegar à seleção de atletismo, pegar uma competição importante, como os Jogos Parapan-Americanos, o Mundial, uma Paralimpíada. E a gente vai trabalhar para isso. O Levi estará presente e não vai atrapalhar nada. Creio que ele só vem somar", afirmou.
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No lançamento do dardo paralímpico, os atletas que competem sentados utilizam uma cadeira individual e não podem se erguer dela, sob pena de terem o lance invalidada. Cícero teve apenas duas de suas seis tentativas consideradas válidas na prova de sábado. A primeira garantiu o bronze. A segunda o deixou próximo da prata.
"O que eu fiquei um pouco indignado é que participei do Mundial aqui na França [2023, em Paris], participei do Mundial de Kobe [Japão], onde eu fui campeão, lançando da mesma forma e me prendendo da mesma forma na cadeira e nunca tive problema com queima. Mas o resultado foi esse, então a gente ficar com a sensação de que foi prejudicado não vai mudar em nada. É a gente virar a chave, que agora tem mais um ciclo de quatro anos, virar a chave e treinar pesado, como a gente sempre treina, para chegar igual eu cheguei aqui ou até mais preparado para qualquer adversidade dentro da prova", descreveu o paraibano.
"Já tenho a conquista mundial, tenho a conquista no Parapan, só me falta uma medalha de ouro paralímpica. Já tenho duas de bronze [a anterior foi em 2021, em Tóquio, no Japão], mas quero ouro, então você pode ter certeza que, em 2028, estando na Paralimpíada, vou brigar por essa medalha como nunca briguei", concluiu.