Coluna - Paralimpíada Escolar abre caminho para o alto rendimento
Petrúcio Ferreira, Talisson Glock, Gledson Barros, Leomon Moreno, Alex de Souza, Yeltsin Jacques, Wendell Belarmino e Gabriel Geraldo. O que eles têm em comum, além de terem conquistado medalhas de ouro na Paralimpíada de Tóquio (Japão)? Os oito foram revelados em edições da Paralimpíada Escolar, evento voltado a jovens de 11 a 18 anos de todo o país e que, segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), é o maior do gênero voltado a crianças com deficiência em idade escolar no mundo.
"Foi uma experiência incrível competir na Escolar. O primeiro contato que tive com o esporte paralímpico, com uma competição de verdade, onde descobri que era possível me tornar um atleta de alto rendimento. Gostei daquela atmosfera. É uma porta de entrada para outros atletas, como foi para mim", destacou Wendell, nadador da classe S11 (deficiência visual), que disputou o evento em 2013 e 2015, à Agência Brasil.
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Tendo como precursor o projeto “Paraolímpicos do Futuro”, em 2006, a Paralimpíada Escolar é realizada desde 2009. Talisson (natação), Gledson (futebol de 5), Alex (goalball), Yeltsin (atletismo) e Leomon surgiram justamente nesta edição, disputada em Brasília. O último deles, campeão paralímpico no goalball em Tóquio, assim como Alex, curiosamente se destacou nas pistas. Outros medalhistas também foram revelados naquele evento pioneiro, como o velocista e campeão paralímpico Alan Fonteles, a arremessadora de peso Marivana Oliveira, o saltador Mateus Evangelista, a mesatenista Bruna Alexandre e os nadadores Ruiter Santos, Andrey Garbe e Matheus Rheine.
“O evento oferece aos estudantes a oportunidade de mostrarem seus talentos, como em 2009, quando o Alan Fonteles correu com uma prótese de madeira. Além disso, impacta outros projetos da iniciação esportiva, principalmente no Camping Escolar, onde nós selecionamos os melhores da Paralimpíada Escolar e eles passam a ser acompanhados, por um ano, por técnicos de alto rendimento do Comitê, além de participarem de dois encontros no Centro de Treinamento Paralímpico [em São Paulo] e disputarem torneios regionais e nacionais [das respectivas modalidades]”, explicou o coordenador de Desporto Escolar do CPB, Ramon Pereira, à Agência Brasil.
Segundo o dirigente, 65 dos 236 atletas com deficiência que representaram o país em Tóquio (27,5%, ou seja, mais de um quarto do total) disputaram a Paralimpíada Escolar em algum momento. Alguns, inclusive, em edições recentes. Bronze no revezamento 4x100 metros livre da classe S14 (deficiência intelectual), a nadadora Ana Karolina Soares competiu em 2018. No ano seguinte, o evento teve a velocista e saltadora Jardênia Felix, mais jovem integrante da seleção de atletismo no Japão, onde foi bronze nos 400 metros da classe T20 (deficiência intelectual).
“Para descobrirmos esses talentos, trabalhamos com três planilhas. A primeira, desenvolvida pela Ciência do Esporte do CPB, detecta no mundo inteiro, com dados atualizados a cada seis meses, os resultados dos oito melhores atletas de acordo com a modalidade, o gênero, a classe e a prova. O professor que tem um atleta com deficiência visual, por exemplo, pode consultar os melhores tempos do mundo e equipará-los conforme a idade do atleta, para ter um parâmetro. Em paralelo, temos uma cartilha de classificação que mostra, superficialmente, a classe do aluno [de acordo com o tipo e o grau de deficiência]. E temos avaliações funcionais e antropométricas. Juntamos todos esses dados para identificar talentos e os pinçarmos”, descreveu Pereira.
Cancelada no ano passado devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), a Paralimpíada Escolar será realizada novamente entre 22 e 27 de novembro deste ano, em São Paulo. São 12 modalidades: atletismo, bocha, judô, natação tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, futebol de 5, vôlei sentado, futebol de 7 (paralisia cerebral), goalball, basquete em cadeira de rodas e parabadminton.
Em 2019, última ocasião em que ocorreu, o evento reuniu mais de dois mil participantes, entre alunos, professores, dirigentes e estafe. O coordenador do CPB entende que com a expansão dos centros de referência paralímpicos (que fomentam o paradesporto da iniciação ao alto rendimento, replicando atividades desenvolvidas no CT Paralímpico), será possível ampliar o alcance do esporte e qualificar a captação de potenciais atletas. Segundo ele, 14 estados do país contam atualmente com estes centros.
“Com a oportunidade dos centros de referência, teremos um quadro de recursos humanos especializados na descoberta de talentos. Estamos falando de um projeto criado em março de 2019, que precisou ser interrompido por causa da pandemia e está sendo reativado, e que teve 24 atletas em Tóquio. Os centros têm papel de fazer a iniciação, massificar e pinçar os alunos com desempenho diferenciado. São projetos que sabemos que vão repercutir em Paris [França, sede da próxima Paralimpíada, em 2024], com resultados de representantes destes projetos envolvendo o esporte escolar”, concluiu o dirigente.