Caso Robinho: escutas telefônicas mostram que o jogador sabia que mulher estava fora de si
O jogador foi condenado em primeira instância na Itália e os áudios tiveram grande influência no veredito
13:54 | Out. 16, 2020
No último fim de semana, o Santos anunciou o retorno do jogador Robinho, decisão desagradou muitos dos torcedores. Isso porque o jogador foi condenado em primeira instância por estupro de uma mulher na Itália. Ele foi sentenciado a nove anos de prisão por violência sexual de grupo contra uma jovem de origem albanesa. A decisão do Tribunal de Milão é de novembro de 2017, mas ainda não é definitiva e foi contestada pelas defesas do jogador do Santos e de Ricardo Falco, outro acusado brasileiro no crime. No processo, são usados áudios que mostram que Robinho sabia das condições da vítima.
Nesta sexta-feira, 16, o Conselho Deliberativo do Santos afirmou que vai se reunir na próxima quarta-feira para tratar da contratação de Robinho. Segundo a decisão judicial, as escutas telefônicas foram cruciais para chegar ao veredito. Nas transcrições, conseguidas por meio de grampos nos telefones, Robinho e os amigos comentam sobre o caso e afirmam saber das condições de embriaguez da jovem. O caso aconteceu numa boate de Milão, a Sio Café, na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013. Além de Robinho e Falco, outros quatro brasileiros teriam se envolvido no ato classificado pela Procuradoria de Milão como violência sexual.
O jogador e o amigo foram enquadrados no artigo “609 bis” do código penal italiano. Trata sobre a participação de duas ou mais pessoas reunidas para ato de violência sexual, forçando alguém a manter relações sexuais, diante de condições físicas ou psíquica inferiores. Em reportagem exclusiva, o Globo Esporte apresenta a transcrição das escutas, como também informações do advogado da jovem.
Além dos telefones grampeados, a polícia colocou escutas no carro utilizado por Robinho na Itália. A sentença diz que “os conteúdos dão pleno conhecimento do que aconteceu”. Em uma das falas no carro dele, o jogador mostra preocupação com a possibilidade da vítima prestar depoimento.
Falco: –Ela se lembra da situação. Ela sabe que todos transaram com ela.
Robinho: – O (NOME DE AMIGO 1) tenho certeza que gozou dentro dela.
Falco: – Não acredito. Naquele dia ela não conseguia fazer nada, nem mesmo ficar em pé, ela estava realmente fora de si.
Robinho: – Sim.
Já com a investigação, em resposta ao músico Jairo Chagas, que tocou naquela noite na boate, Robinho respondeu:
– Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu.
– Olha, os caras estão na merda... Ainda bem que existe Deus, porque eu nem toquei aquela garota. Vi (NOME DE AMIGO 2), e os outros foderam ela, eles vão ter problemas, não eu... Lembro que os caras que pegaram ela foram (NOME DE AMIGO 1) e (NOME DE AMIGO 2).... Eram cinco em cima dela.
Eles voltaram a se falar um tempo depois:
Robinho: –A polícia não pode dizer nada, eu direi que estava com você e depois fui para casa.
Jairo: – Mas você também transou com a mulher?
Robinho: – Não, eu tentei. (NOME DE AMIGO 1), (NOME DE AMIGO 2), (NOME DE AMIGO 3)...
Jairo: – Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela.
Robinho: – Isso não significa transar.
Em outra gravação, Jairo conversa com uma amiga e ela diz: “Isso é coisa de covarde, pessoas de merda que dão realmente nojo”. Jairo respondeu que o que aconteceu tinha nome: “se chama estupro”. Além dele, outro amigo do jogador também mostra preocupação com a investigação:
AMIGO 4: – Irmão, tive dor de barriga de nervoso, eu me preocupo por você, amigo.
A resposta de Robinho, segundo a transcrição das gravações, foi:
– Telefonei a (NOME DE AMIGO 3), e ele me perguntou se alguém tinha gozado dentro da mulher e se ela engravidou. Eu disse que não sabia, porque me recordo que eu e você não transamos com ela porque o seu pênis não subia, era mole... O problema é que a moça disse que (NOME DE AMIGO 1), (NOME DE AMIGO 2) e (NOME DE AMIGO 3) a pegaram com força.
Segundo a reportagem, a sentença mostra que Robinho e Falco combinaram as respostas e afirmaram que a "salvação" é que não havia câmeras no clube para mostrar eles com a jovem.
A noite do crime
A vítima de origem albanesa disse que foi ao Sio Café em 21 de janeiro de 2013 para comemorar seu aniversário de 23 anos ao lado de duas amigas. Segundo ela, Robinho estava na mesma boate com sua esposa e um grupo de quatro amigos. Ela teria sido informada por um dos amigos dele, para que só se aproximasse quando a esposa do jogador fosse embora.
Quando isso aconteceu, ela e duas amigas foram se juntar ao grupo de brasileiros, que depois passou a ter também a presença de Ricardo Falco. Segundo ela, eles ofereceram várias bebidas alcoólicas, mas só ela estava bebendo, porque uma das amigas estava grávida e a outra estava dirigindo.
A violência contra a jovem teria ocorrido dentro do camarim do músico Jairo Chagas. Ele trabalhou no Sio Café por nove anos e disse ao Globo Esporte que todos que estavam com Robinho eram brasileiros. A vítima disse ainda que já conhecia Robinho há dois anos antes do crime e ele já tinha dado em cima dela. Ela conta que, primeiro encontro, Robinho pegou a mão dela e colocou no seu abdômen. Depois, na segunda vez em que estiveram juntos, conforme a vítima, eles dançaram numa festa, e o jogador “tentou lamber o seu seio”, mas não achou preocupante.
Ela lembra de "flahs" da noite do crime, como conta no depoimento. Por volta de 1h30min da madrugada, as duas amigas foram embora, e uma delas se comprometeu a voltar para buscá-la. Ela disse que ficou sem ar e tonta enquanto dançava e foi para uma área externa da boate, quando encontrou um dos amigos do jogador, que tentou beijá-la. Depois, foram para o camarim.
Ela acrescentou que não tinha condições de “falar” nem de “ficar em pé”. Segundo suas recordações, ela ficou no local sozinha por alguns minutos e "percebeu" que o mesmo amigo e Robinho estavam “aproveitando” dela. Ela lembra que ouviu Robinho pedir ao amigo uma "camisinha". E que, ao fim, se lembrou de que começou a chorar e que Jairo apareceu para consolá-la.
Acredito que no início estivesse fazendo sexo oral em [NOME DO AMIGO 3], e Robinho aproveitava de mim de outro modo, e depois eles trocaram de papel, dali não me recordo mais nada porque me encontrei rodeada pelos rapazes, não sabia o que acontecia – disse a vítima no depoimento
No julgamento, realizado na 9ª Seção do Tribunal de Justiça de Milão, em 2017, os dois brasileiros foram analisados por três juízes, normal no Judiciário Italiano. Quem presidiu o julgamento foi a juíza Mariolina Panasiti, ainda hoje na 9ª Seção do Tribunal de Justiça de Milão. Em conversa por telefone, ela afirmou que foi um julgamento complexo, como costumam ser os relacionados à violência sexual.
O advogado de Robinho, Alexsander Guttierres, disse que vai sustentar que a relação foi consensual e que não há provas que eles induziram a vítima a ingerir álcool.