Antes críticos, Edir Macedo e Malafaia acenam a Lula: "Ganhou segundo a vontade de Deus"

Pastor Silas Malafaia também suavizou o discurso e disse que só podia "orar" pelo presidente eleito

16:35 | Nov. 03, 2022

Por: Israel Gomes
Edir Macêdo, líder da Igreja Univeresal, e Silas Malafaia, dirigente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. (foto: Reprodução/Instagram - Marcos Corrêa/PR)

A vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último domingo, 30, sobre Jair Bolsonaro (PL) gerou, ao menos em um primeiro momento, recuo de figuras representativas do meio evangélico, como Edir Macedo e Silas Malafaia. O fundador da Igreja Universal falou durante uma live em "perdoar" o petista e atribuiu a vitória no pleito à "vontade" divina.

"Não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer", disse o bispo. E acrescentou: "O diabo quer acabar com sua fé, com seu relacionamento com Deus por causa de Lula ou dos políticos. Não dá, não dá, minha filha, bola pra frente, vamos olhar pra frente".

A igreja liderada por Macedo foi uma das opositoras mais ferrenhas ao petista e apoiadora do atual chefe do Executivo. A suavização do discurso ocorre no momento em que grupos golpistas protestam no País contra os resultados das eleições.

"Eu orei, ‘ó, Deus, quero que Bolsonaro ganhe’. Mas seja feita Vossa vontade, sobretudo, porque o Senhor é quem manda", disse e ressaltou: "(Lula) supostamente ganhou segundo a vontade de Deus, mas quem ganhou fomos nós, os que cremos".

Em 2018, durante a ascensão de Bolsonaro na campanha presidencial, a Igreja Universal, chefiada por Macedo, voltou às suas origens da década de 80 e 90. Passou a insuflar o antipetismo como fez nas eleições em que Lula foi derrotado por Fernando Collor (PTB) - em 1989 - e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - em 1994 e 1998 - na disputa pela Presidência.

Apesar da aversão ao PT, a Igreja já havia se aproximado do presidente eleito. A ação ocorreu em 2002, ano em que o político foi eleito para o Planalto pela primeira vez. Naquela época, Carlos Rodrigues, então bispo e deputado pelo PL de José Alencar, o vice de Lula, foi o mediador.

Anos depois, a eleição da sucessora do petista, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) ainda contou com apoio do líder religioso. Em 2010, quando a ex-ministra foi eleita para o primeiro mandato, a Folha Universal publicou uma reportagem intitulada "Boato do Mal", no intuito de defendê-la da pressão de católicos e evangélicos por uma declaração favorável a descriminalização do aborto.

"No Brasil, é um absurdo que não haja, até porque nós sabemos em que condições as mulheres recorrem ao aborto", disse a petista durante sabatina na Folha de S.Paulo. Dias antes da votação de 2010, Edir publicou uma carta em defesa da candidata do PT. Ele dizia que faziam "o jogo do diabo" espalhando mentiras sobre a política.

"O Senhor Jesus não precisa de advogados, nem de assessores de comunicação que saiam em 'defesa' de Seu Nome. Ele precisa de verdadeiros cristãos, que entendam, vivam e preguem a Verdade", escreveu.

Silas Malafaia adota tom leniente

O pastor Silas Malafaia foi um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro e opositores do PT nos últimos anos. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele afirmou que seu "papel é orar" por Lula. O religioso estava em um culto na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, a qual é líder, quando a derrota do correligionário foi confirmada.

"O cara ganhou? Meu papel é orar por ele, esse é o meu papel. Já fiz a oração aqui na igreja. Até os idiotas do PT tentaram usar, mas sempre disse que a igreja não apoia ninguém, quem apoia somos nós. A igreja é uma instituição que está acima disso. Eu que apoio, que sou cidadão, entendeu?", disse.

Aceno de líder evangélico

O deputado Cezinha de Madureira (PSD) informou estar disposto a trabalhar pautas em comum com o futuro governo de Lula, depois de ser procurado por emissários do petista.

O deputado é um dos principais nomes da bancada evangélica no Congresso. Ele é Porta-voz do bispo Samuel Ferreira e expoente da Assembleia de Deus de Madureira, uma das maiores denominações evangélicas do País. O religioso ressaltou que o interesse em sentar à mesa com os petistas não significa incoerência ou traição a Bolsonaro, de quem é apoiador.

Com informações do Jornal Folha de S.Paulo e Agência Estado