Servidor exonerado pelo TSE repassava dados sensíveis a agente da Abin, diz portal
Homem foi afastado, conforme informou o TSE, por reiteradas atitudes de assédio moralA exoneração de um servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esteve no centro das atenções nesta reta final das eleições de 2022. Alexandre Gomes Machado, que teve um depoimento usado pela campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) para corroborar com denúncia de falhas na veiculação da propaganda política do candidato à reeleição nas rádios, teria ligação com oficial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto do governo.
As informações são de apuração feita pelo colunista Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles. Segundo a reportagem, Machado compartilhava dados sensíveis sobre os bastidores do órgão, assim como dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, atual e ex-presidente da Corte, respectivamente.
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Conforme o colunista, o agente da Abin, que não teve o nome revelado, alcançou posição importante dentro da Abin durante o governo do atual chefe do Executivo. A matéria ainda cita que o oficial também é ligado à cúpula militar do Planalto, especialmente ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno Ribeiro.
Alexandre Gomes é ex-assessor de gabinete da Secretaria Judiciária da Secretaria Geral da Presidência. Ele ficava responsável por receber os arquivos de propagandas eleitorais e pela disponibilização dos conteúdos no site do Tribunal para que rádios e televisões tivessem acesso.
“O Tribunal Superior Eleitoral informa que a exoneração do servidor Alexandre Gomes Machado que ocupava o cargo em comissão de confiança de Assessor (CJ-1) da Secretaria Judiciária foi motivada por indicações de reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política, que serão devidamente apuradas”, disse o órgão em nota
O servidor havia dado um depoimento corroborando com a denúncia de que as rádios estariam desfavorecendo Jair Bolsonaro nas inserções da campanha eleitoral. Sobre a sua demissão, ele afirma: "Pelo fato de que desde o ano de 2018 tenha informado reiteradamente ao TSE de que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções da propaganda eleitoral gratuita”.
A campanha do candidato à reeleição denunciou, na última segunda-feira, 24, que a propaganda estava sendo "censurada" em rádios espalhadas pelo País, em detrimento do rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na alegação da campanha do presidente, Lula teria sido beneficiado porque, supostamente, os veículos de comunicação deixaram de veicular 154.085 inserções de Bolsonaro. Só no Nordeste, seriam 29 mil a menos em duas semanas. O petista teve larga vantagem no primeiro turno na região, vencendo o mandatário com quase 13 milhões de votos a mais.
As denúncias foram apresentadas pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, e pelo coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten. "Nós vamos auditar 100% do que as rádios e veículos de comunicação deveriam veicular'', disse Wajngarten. "O que a gente quer é apenas isso, é um direito igualitário para que a gente possa disputar as eleições sem sermos censurados e cerceados", alegou Faria.
A denúncia foi apresentada à Corte, mas logo arquivada por Moraes por falta de provas. "Não restam dúvidas de que os autores - que deveriam ter realizado sua atribuição de fiscalizar as inserções de rádio e televisão de sua campanha - apontaram uma suposta fraude eleitoral às vésperas do segundo turno do pleito sem base documental crível, ausente, portanto, qualquer indício mínimo de prova", disse o ministro em trecho da decisão.
Após a repercussão, Faria disse estar "arrependido profundamente" pela coletiva para denunciar as rádios. Em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, o bolsonarista admitiu que o papel de fiscalizar a veiculação das peças de campanha era do PL, ao partido do presidente, e não do TSE.