Quem é Roberto Jefferson, denunciante do Mensalão e apoiador de Bolsonaro

Ex-deputado federal teve mandado de prisão domiciliar revogado e, no momento de cumprimento da ordem de prisão, atirou e lançou granadas contra dois policiais federais

Responsável por detonar o escândalo do Mensalão durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-deputado Roberto Jefferson se converteu nos últimos anos à extrema direita, assumiu pautas antidemocráticas, com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), e se colocou com um dos mais ferrenhos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Após uma série de ataques e disseminação de fake news contra os ministros da Suprema Corte, o petebista recebeu agentes da Polícia Federal à balas neste domingo, 23, após determinação de prisão expedida pela Justiça brasileira.

Ex-deputado, Roberto Jefferson, em vídeo com duas armas. 2021
Ex-deputado, Roberto Jefferson, em vídeo com duas armas. 2021 (Foto: Reprodução)

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Condenado no Mensalão

Jefferson foi condenado por participação no esquema do Mensalão em novembro de 2012, a 7 anos e 14 dias de prisão pela venda de votos. Três anos depois, ganhou a liberdade condicional. Em 2008, em audiência na Justiça, confessou ter recebido R$ 4 milhões do esquema.

A carreira política de Jefferson começou em 1971. Foi filiado ao MDB até 1980, antes de se mudar ao PP e, posteriormente, ao PTB, partido que se transformou do trabalhismo pré-64 e do fisiologismo pós-redemocratização no reduto da extrema direita.

Em 1982, foi eleito deputado federal, sendo reeleito para cinco mandatos consecutivos, deixando a Câmara dos Deputados em 2005, após ser cassado pela Casa durante o processo do Mensalão.

Passou de um dos principais defensores do ex-presidente Fernando Collor no processo de impeachment, denunciante do Mensalão a soldado bolsonarista. No governo Michel Temer, emplacou a filha, Cristiane Brasil, como ministra do Trabalho, cargo que foi impedida de assumiu após vir à tona uma condenação que sofreu por crime trabalhista.

Em agosto do ano passado, o ex-presidente do PTB foi preso por ameaças aos ministros do STF, com vídeos em que empunhava armas. Jefferson ficou no Complexo Prisional de Gericinó, em Bangu, no Rio, mas foi transferido em janeiro deste ano para a prisão domiciliar. A defesa alegou que ele estava com a saúde fragilizada.

À época em que presidiu o PTB, Roberto Jefferson fez convite para que Bolsonaro se filiasse ao partido
À época em que presidiu o PTB, Roberto Jefferson fez convite para que Bolsonaro se filiasse ao partido (Foto: Reprodução)

A transferência de Jefferson para a sua casa, na cidade Comendador Levy Gasparian (RJ), a 142 quilômetros da capital fluminense, previa a proibição de qualquer comunicação exterior, inclusive o uso de redes sociais, o veto de visitas e entrevistas sem autorização judicial e a proibição de falar com outros investigados do inquérito das milícias digitais.

Mesmo sob prisão domiciliar, o PTB escolheu Jefferson como candidato à Presidência, no dia 1º de agosto, durante convenção em Brasília. O ex-deputado afirmou à época que sua candidatura não seria para se opor à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas para "somar forças".

"Agora, em 2022, Bolsonaro se candidata à reeleição sozinho, contra tudo e contra todos, enquanto a esquerda se apresenta como um polvo com vários tentáculos na forma de múltiplas candidaturas, preenchendo todos os nichos possíveis desse eleitorado. Essa estratégia tem dado certo para a esquerda no mundo todo", disse.

No ano passado, o ministro Gilmar Mendes foi um dos ministros que vieram à público repreender os atos antidemocráticos de Jefferson.

"Há limites para a liberdade de expressão. Eu já disse inclusive a próximos do presidente da República, que me trouxeram essa preocupação, olha é um exagero o caso da prisão do Roberto Jefferson, aqui não se trata de liberdade de expressão. Quem posa usando armas, ameaçando as pessoas, dizendo que vai atirar neste ou naquele, ou que vai receber um oficial de Justiça a bala não está usando a liberdade de expressão", disse Gilmar.

Padre Kelmon e Roberto Jefferson, companheiros de partido.
Padre Kelmon e Roberto Jefferson, companheiros de partido. (Foto: DIVULGAÇÃO)

Retorno à prisão

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que o ex-deputado federal e ex-presidente voltasse para a cadeia após ter descumprido as condicionantes de sua prisão domiciliar. Por determinação de Moraes, Jefferson estava impedido de usar as redes sociais. Ele está em prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, desde janeiro.

Na última semana, Jefferson apareceu em um vídeo publicado pela filha, a ex-deputada Cristiane Brasil, proferindo ofensas contra a ministra Cármen Lúcia, do STF. O petebista comparou a ministra com uma "prostituta" por ter acompanhado o voto do ministro relator, Alexandre de Moraes, a transmissão de declarações falsas contra Lula, candidato do PT à presidência, pela rádio Jovem Pan.

"Fui rever o voto da Bruxa de Blair, da Cármen Lúcifer, na censura prévia à Jovem Pan, e não dá para acreditar. Lembra mesmo aquelas prostitutas, aquelas vagabundas, arrombadas, que viram para o cara e dizem: Benzinho, no rabinho é a primeira vez. Ela fez pela primeira vez. Abriu mão da inconstitucionalidade pela primeira vez", afirmou.

O ex-deputado é investigado no inquérito que apura a atuação de uma organização criminosa que teria atentado contra a Democracia e as Instituições brasileiras.

Jefferson ganhou seguidores entre bolsonaristas e adeptos da extrema-direita após posar com fuzis e armas de alto calibre nas redes sociais. Ao ter a prisão determinada pelo STF, mandados de busca e apreensão foram cumpridos na casa do ex-deputado em busca de armamentos.

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