Padre Lino Allegri: "A religião não pode ser instrumentalizada a fins políticos"
Padre esteve presente em ato com religiosos pró-Lula em FortalezaAlvo de hostilização e ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) após críticas à sua gestão durante a pandemia da Covid-19, padre Lino Allegri, 83, criticou na manhã desta sexta-feira, 21, a exploração do voto religioso durante as eleições de 2022.
"Me parece surreal que uma eleição seja decidida por motivações religiosas. A religião é importante na vida da pessoa, não tenho dúvida nenhuma, se não fosse assim, eu também não seria padre. Mas a religião não pode ser instrumentalizada a fins políticos", disse em entrevista ao O POVO.
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Durante a manhã, Lino participou de um evento pró-Lula com representantes da igreja evangélica e católica, além de lideranças ligadas a pastorais sociais de Fortaleza.
Os religiosos defenderam que, em comparação com a candidatura de Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente petista incorpora a atuação de combate das desigualdades sociais no seu projeto de governo, o que se aproxima dos verdadeiros ensinamentos cristãos.
Durante o encontro, Lino apontou "contradições" no discurso eleitoral do chefe do Executivo, que tem focado sua campanha, principalmente, no público religioso.
"Este Deus que é pregado pelo Bolsonaro, pelos bolsonarismo, por aqueles que, digamos assim, exploram na religião, é um Deus, não de Jesus Cristo, é um Deus que faz parte de uma ideologia que eles próprios criaram, não é o Deus do evangelho", ressaltou.
Em 2021, o padre foi vítima de hostilização e ameaças por apoiadores do presidente. Na época, Lino precisou de proteção policial para voltar a celebrar missas na Paróquia da Paz, no bairro Aldeota.
"Se eu acredito que Deus é pai, que Deus é justiça, que Deus o amor, não posso apoiar o ódio, não posso pregar a tortura, não posso pregar a violência, não posso pregar a mentira deslavada, porque seria, então, contradição política de Deus em quem eu digo de acreditar", disse.
Ainda durante a entrevista, Lino ressaltou que um "voto religioso" tem de ser também um "voto político". "Nas eleições se discute não religião, se discute políticas públicas, trabalho, economia e saúde", acrescentou.