Troca de farpas entre vereadores e deputado escancara crise no PDT cearense

Clima de divisão no partido saiu do contexto interno para lavação de roupa suja em tribunas dos parlamentos estadual e municipal de Fortaleza

O clima de divisão e hostilidade que dominava os bastidores do PDT cearense desde o primeiro turno das eleições se transformou em lavação de roupa suja com troca de farpas entre integrantes do partido na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) e na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). O deputado estadual Osmar Baquit (PDT) e o vereador Adail Júnior (PDT) são os protagonistas da queda de braço.

A escalada de tensão aumentou depois que Baquit usou a tribuna da AL-CE para ironizar a postura do vereador no primeiro turno das eleições. Adail ficou conhecido por divulgar vídeos com defesa ferrenha à candidatura de Roberto Cláudio (PDT) ao Governo do Estado.

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“Cadê aquele vereador que gravava vídeo todo dia dizendo que ‘o melhor prefeito do Brasil’ ia virar governador?”, alfinetou o deputado durante pronunciamento em plenário na última terça-feira, 18.

Adail reagiu à provocação na sessão da CMFor desta quinta-feira, 20, fazendo duras críticas ao colega de partido.

“Dizem na Assembleia que o senhor é um pitbull. Pois para mim é um pitbull desdentado, que não tem dente para morder, só rabo para bater. Puxe a minha história e vai ver que é só lealdade”, bradou.

O vereador também disse ter sido “ironizado, debochado e humilhado” por Baquit e acusou o colega de partido de conspirar contra os presidentes nacional e estadual do PDT, Carlos Lupi e André Figueiredo, o prefeito de Fortaleza José Sarto (PDT) e o ex-candidato a presidente Ciro Gomes (PDT).

Ainda no discurso, Adail se referiu a Baquit como “petista de sangue” e disse que há, dentro do PDT cearense, um grupo de filiados que defende mais o PT do que o próprio partido. “Deputado Osmar Baquit, tenha certeza que esse vereador não vai se curvar com as suas ironias, com o seu deboche”, completou o vereador.

Colegas de bancada de Adail saíram em defesa do parlamentar, após o pronunciamento com críticas a Baquit. Carlos Mesquita (PDT) sugeriu que a Câmara aprovasse uma nota de repúdio contra o deputado.

“Alguém se lembra de alguma coisa feita pelo Baquit pelos cearenses, por Fortaleza? Me diga alguma coisa que ele fez, um grande projeto. São pessoas que a gente não vê nada”, criticou Mesquita, insinuando que o deputado estaria interessado em ser indicado como líder do governo Elmano de Freitas (PT) na próxima legislatura.

Sobre o clima de divisão interna, Mesquita disse que o PDT “está em frangalhos” após a incômoda terceira posição na disputa pelo Palácio do Abolição. “Ninguém sabe como vai ficar (a situação do partido). Como é que se faz uma sacanagem dessas com o Roberto Cláudio? Ele não merecia o que fizeram”.

Sem citar nomes, o parlamentar afirmou que o ex-prefeito foi vítima de traição dentro do próprio partido. Ele também classificou como “palhaçada” os encontros regionais realizados com os pré-candidatos que disputavam a indicação do diretório estadual para a disputa ao Governo.

Na mesma linha do discurso de Mesquita, Lúcio Bruno (PDT) e Júlio Brizzi (PDT) fizeram pronunciamentos em apoio ao colega de bancada. O primeiro acusou Baquit de agir de acordo com as conveniências e levantou dúvidas sobre as escolhas do deputado para o Governo e Senado.

“Em quem foi que ele votou para governo e para senador? Talvez o eleitor dele não saiba. Talvez nem ele saiba porque eu vi na campanha ele declarando voto a um e para o outro de acordo com a conveniência”, disse Bruno.

Em tom mais ameno, Brizzi afirmou que Adail “não merece isso”, em referência às críticas de Baquit. O vereador também fez uma análise sobre a situação atual do PDT no Ceará, assinalando que “falta liderança” no partido. “O PDT passa por um momento difícil, acho que falta liderança no partido. A gente tem, claramente, publicamente, uma divisão”.

Baquit e Adail, estão ligados a alas distintas no partido. Enquanto o deputado é da base comandada pelo senador Cid Gomes (PDT), o vereador integra o grupo mais próximo a Ciro. Os irmãos se distanciaram desde a escolha de Roberto Cláudio como candidato, bancada por Ciro e rejeitada por Cid.

Em meio à tensão interna, Cid reuniu parte da bancada de deputados estaduais e federais do partido nesta quinta-feira, 20, para formalizar apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais. O encontro contou com a participação de Elmano de Freitas e do senador eleito Camilo Santana (PT).

Chamou a atenção, contudo, a ausência do deputado federal e presidente estadual do PDT, André Figueiredo, mais ligado a Ciro. Ambos anunciaram que vão seguir a decisão do diretório nacional do partido de votar em Lula no próximo dia 30 de outubro, mas se mantêm ausentes da campanha do petista.

Cid, por sua vez, já participou de um ato pró-Lula em Fortaleza no último dia 10 e promoverá, junto com o irmão Ivo Gomes, na próxima segunda-feira, 27, em Sobral, uma caminhada em apoio ao ex-presidente, com presenças confirmadas de Elmano, Camilo e da governadora Izolda Cela (sem partido).

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