Veterinária marca rosto de bezerro com número de Bolsonaro; Conselho abre investigação
A profissional se defende afirmando que a técnica utilizada diz respeito a controle de rebanho. No entanto, número não se encaixa no padrão recomendado pelo Ministério da Agricultura
16:49 | Out. 20, 2022
Viralizou nas redes sociais nesta semana, um vídeo de uma mulher marcando um bezerro no rosto com “22”, número do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Embora seja apoiadora do mandatário, Fernanda Paula Kajozi nega que a ação tenha conotação política. No entanto, a marcação feita pela veterinária não se encaixa no padrão exigido.
Nas filmagens, o animal aparece deitado, sendo contido por um homem, enquanto a profissional realiza a marcação. Ao fundo, toca um jingle em apoio a Bolsonaro: “Vota, vota e confirma. 22 é Bolsonaro”.
Ao som de "vota, vota e confirma, 22 é Bolsonaro", veterinária ferra número do atual presidente e candidato à reeleição em rosto de bezerro, no Tocantins. pic.twitter.com/VpFrBiNfk7
Conforme informações do Ministério da Agricultura, há sim a liberação para a marcação no rosto para vacinação e controle de rebanho. Todavia, o número usado pela veterinária não se adequa em nenhum padrão que libere a marcação.
O Ministério orienta que no caso de fêmeas vacinadas contra a BruceloseA Brucelose bovina é uma doença causada por uma bactéria denominada Brucella abortus (conhecida como moléstia de Bang), ocasionando frequentemente aborto em vacas, principalmente no terço final da gestação. (o que especialistas apontam ser o caso filmado), a técnica padronizada seria a marcação “V” ou o último algarismo do número do ano da vacinação, no caso 2.
"As fêmeas vacinadas de 3 a 8 meses devem, obrigatoriamente, ser marcadas com ferro candente ou nitrogênio líquido, no lado esquerdo da face. Fêmeas vacinadas com a vacina B19 deverão ser marcadas com o algarismo final do ano de vacinação. Fêmeas vacinadas com a amostra RB51 deverão ser marcadas com um V", diz trecho do regulamento do Ministério.
Após a repercussão do caso, a veterinária gravou outro vídeo no qual explica que a marcação feita por ela corresponderia a marcação de rebanho. Entretanto o número “22” não segue o que é estabelecido pelo Ministério da Agricultura.
Um médico veterinário, ouvido pelo G1, esclareceu também que a técnica usada pela profissional não vai de acordo com o regulamento da Agência de Defesa Agropecuária (Adapec).
"A marcação do gado por outro motivo, para controle do rebanho, pode marcar na paleta, na face, onde ficar melhor a visualização no curral na hora do manejo. Agora, com número do ano (no caso 2), só no caso das fêmeas vacinadas. Nesse caso, é no lado esquerdo da face. Esse lado das fêmeas bovinas é destinado para controle da vacinação de brucelose. É controle de serviço oficial", disse Eudes Vieira Castro, mestre em reprodução e sanidade animal.
Com a repercussão, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Tocantins informou que vai abrir uma investigação para apurar o caso. “Caso fique provado ilícito, a profissional poderá responder processo ético que será analisado e julgado em plenária, podendo ser punida", disse o órgão.
A versão da veterinária
Em vídeo gravado pela profissional, ela explica que fez a marcação por controle de rebanho, apesar de não estar no padrão do Ministério da Agricultura. Na gravação, ela também admite ser apoiadora de Bolsonaro.
"Eu não marquei 22 na cara do bezerro por conta do Bolsonaro, não. É porque você marca na cara do bezerro o ano, na paleta você marca o mês e atrás, na anca do bezerro, você marca a marca da propriedade, no caso a do meu pai é F1. Eu apenas filmei fazendo um procedimento que desde o mês um está fazendo e até o mês 12 vai estar fazendo. Ano que vem vai ser 23 e, assim, sucessivamente. Então não tem nada a ver com Bolsonaro. Mas eu sou Bolsonaro", disse.
Fernanda Paula Kajozi apagou ambos os vídeos da rede social, além de fechar a conta. No entanto, os materiais continuam circulando em outras páginas.