É falso que todos os estados com mais analfabetismo foram governados pelo PT, como diz Bolsonaro
Dados da reportagem da CNN, citada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), mostra ainda queda do analfabetismo em estados do Nordeste durante a gestão do ex-presidente Lula (PT), iniciada em 2003.É falsa a fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) que atribui aos governos do PT a alta taxa de analfabetismo do nordeste. Em live nas redes sociais, o mandatário desinforma ao considerar que "os estados do Nordeste estão há vinte anos sendo administrados pelo PT. Onde a esquerda entra leva o analfabetismo".
O presidente se baseia em matéria jornalística da CNN com o título: "Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo; veja resultados", publicada no dia 3 de outubro. A reportagem traz o nome de nove estados nordestinos que apresentam elevadas taxas de analfabetismo: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Apenas o Acre se difere ao fazer parte da região norte.
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Ao mencionar o material, o presidente alega:
"Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são os estados? Do nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta. Ou mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores nas regiões. Por que esses estados do Nordeste estão há vinte anos sendo administrados pelo PT. Onde a esquerda entra leva o analfabetismo. Leva a falta de cultura. Leva o desemprego, leva a falta de esperança"
O trecho destacado, no entanto, é falso. Nenhum estado do Nordeste está sendo governado pelo PT há 20 anos. No Ceará, por exemplo, o partido iniciou seu primeiro governo na primeira gestão de Camilo Santana, em 2015. O petista saiu do Palácio da Abolição em abril deste ano para disputar o Senado Federal, logo, ficou no poder por 7 anos e 4 meses.
Em Alagoas, Pernambuco e Maranhão, o PT sequer esteve na gestão do estado. No Piauí, o PT comandou várias gestões, porém, de forma intercalada. O ex-governador Wellington Dias (PT) assumiu o Governo do Estado entre 2003 e 2010. O petista não foi eleito nas eleições posteriores, mas retomou o poder em outras duas gestões (2015-2022). Neste ano, o Partido dos Trabalhadores manteve o Executivo estadual após a eleição Rafael Fonteles.
Na Bahia, em toda a sua história, o PT chegou no Palácio de Ondina em 2007, há 15 anos, com Jaques Wagner. O estado foi governado, recentemente, por Rui Costa (PT), e agora tenta eleger Jerônimo Rodrigues (PT). Na Paraíba, a gestão está com o PSB desde 2011. Antes, a região já chegou a ser comandada pelo então PMDB (2009 - 2010) e pelo PSDB (2003-2009). O PT sequer conseguiu emplacar um governador até o momento.
No Rio Grande do Norte, o PT conseguiu o governo apenas em 2018, com a eleição de Fátima Bezerra. Em Sergipe, os petistas saíram do Palácio Olímpio Campos em 2013, com a saída do ex-governador Marcelo Déda (PT) e a entrada de Jackson Barreto, do antigo PMDB.
Queda do analfabetismo no Nordeste
Se citar o PT, Bolsonaro também destaca a reportagem da CNN para falar: "Onde a esquerda entra leva o analfabetismo. Leva a falta de cultura. Leva o desemprego, leva a falta de esperança. É assim que age a esquerda no mundo todo. A notícia aqui é da imprensa e é verdadeira. Vejam quais são os estados que o Lula venceu que tem uma taxa de analfabetismo".
No entanto, o presidente oculta um levantamento importante da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O conteúdo mostra que, apesar dos altos índices de analfabetismo no Nordeste, os números eram ainda maiores em 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu o governo e o PT chegava ao Palácio do Planalto. O petista esteve no poder de 2003 até 2006 e de 2007 até 2011. = Veja os números:
Alagoas
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 16%
2008: 20,74%
2003: 30,14%
Paraíba
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 15,1%
2008: 23,49%
2003: 25,21%;
Piauí
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 15%
2008: 24,33%
2003: 28,4%
Maranhão
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 14,6%
2008: 19,46%
2003: 23,77%
Ceará
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 12,7%
2008: 19,06%
2003: 22,75%
Rio Grande do Norte
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 12,6%
2008: 19,99%
2003: 23,42%
Sergipe
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 12,6%
2008: 16,87%
2003: 19,17%
Bahia
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 12%
2008: 17,3%
2003: 21,27%
Pernambuco
Analfabetismo (pessoas acima de 15 anos)
2022: 11%
2008: 17,86%
2003: 21,77%
Em 2011, último ano da gestão Lula, a então presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, revelou dados da Pnad que mostraram a continuidade do processo de redução das desigualdades no país. Segundo ela, houve também resultados muito positivos nas análises da escolarização do brasileiro.
Um dos resultados positivos da pesquisa, segundo Bivar, foi a redução da taxa de analfabetismo. Segundo a Pnad, o percentual da população de 15 anos ou mais que não sabe ler ou escrever passou de 9,7% em 2009 para 8,6% em 2011 (queda de 1,1 ponto percentual). Com isso, o total de analfabetos no país caiu de 14,1 milhões para 12,9 milhões, no período. De 2007 para 2009, havia sido registrada queda apenas de 0,4 ponto percentual, de 10,1% para 9,7%.
No Brasil, em 2015, penúltimo ano do governo de Dilma Rousseff (PT), última representante petista no governo federal, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos de idade ou mais foi estimada em 8,0% (12,9 milhões de analfabetos), permanecendo com tendência de queda. No ano de 2014, esse indicador havia sido 8,3% (13,2 milhões) e, em 2004, 11,5% (15,3 milhões).
Na época, a região Nordeste continuou a apresentar a maior taxa de analfabetismo (16,2%), embora com proporção menor que a observada em 2014 (16,6%). As menores taxas também continuaram sendo nas Regiões Sul (4,1%) e Sudeste (4,3%). No mesmo ano, o Nordeste apresentou taxa de analfabetismo superior à das demais regiões em todos os anos analisados, mas também foi a que mostrou a maior redução, passando de 22,4%, em 2004, para 16,2%, em 2015.
Logo, no âmbito do governo federal, a taxa de analfabetismo não aumentou durante os governos de esquerda no Brasil, ao contrário do que diz Bolsonaro quando ele cita: "Onde a esquerda entra leva o analfabetismo".