Ciro Gomes: semelhanças e diferenças das posições no 2º turno em 2018 e 2022

O verdadeiro risco à democracia, disse Ciro no vídeo de 2022, provém não de Bolsonaro e das ameaças de que pode não aceitar o resultado das urnas, mas da ausência de alternativas a Lula e Bolsonaro

12:14 | Out. 05, 2022

Por: Carlos Holanda
Ciro Gomes nos vídeos de apoio ao PT no segundo turno em 2018 e 2022 (foto: Reprodução / vídeos)

Candidato derrotado em 2018 e 2022, Ciro Gomes (PDT) gravou dois vídeos com semelhanças e diferenças sobre a posição nos segundos turnos daquele e deste ano. Se há quatro anos atrás ele somente afirmou que não votaria no candidato e então deputado federal Jair Bolsonaro (PL), sem menções a Fernando Haddad (PT), agora ele assegurou que seguiria o PDT, que fechou questão em favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, também não mencionou o nome de Lula.

O verdadeiro risco à democracia, disse Ciro no vídeo de 2022, provém não de Bolsonaro e das ameaças de que pode não aceitar o resultado das urnas, mas da ausência de alternativas aos dois remanescentes da disputa. Em 2018, ele pediu um voto em favor da democracia e contra a intolerância

"Quero que Deus, como disse lá no primeiro dia, abençoe essa grande nação para que todo mundo possa caminhar amanhã, votar compreendendo a necessidade de votar com a democracia, contra a intolerância, pelo pluralismo, mas ninguém também está obrigado a votar contra convicções e ideologias", disse em 2018, após voltar de Paris para votar, em Fortaleza.

"Sempre me posicionei e me posicionarei na defesa do País contra projetos de poder que levaram nosso povo a essa situação grave e ameaçadora. Espero que essa decisão ajude a oxigenar temporariamente que seja a nossa democracia", afirmou Ciro nesta terça-feira.

A data em que os dois vídeos foram ao ar também é um diferencial. Agora, Ciro Gomes grava dois dias após o segundo turno. A votação ocorrerá em 30 de outubro. Em 2018, o segundo turno foi em 28 de outubro; o vídeo fora publicado um dia antes. Nesta segunda-feira, por unanimidade, a executiva nacional do PDT fechou questão sobre o apoio a Lula no segundo turno da eleição presidencial.

Confira os dois discursos na íntegra:

Ciro Gomes em 2018

 

Ai turma boa, cheguei ontem e quero agradecer, agradecer, assim, muito sensibilizado, muito comovido todas as expressões de carinho, de afeição, de apoio, de estímulo. Eu estou energizado, estou inteiro, apesar da muito grave preocupação com o nosso País, com o nosso futuro. Não é se queixando e nem se lamentando que nós vamos resolver isso. Pelo contrário, quero que Deus, como disse lá no primeiro dia, abençoe essa grande nação para que todo mundo possa caminhar amanhã, votar compreendendo a necessidade de votar com a democracia, contra a intolerância, pelo pluralismo, mas ninguém também está obrigado a votar contra convicções e ideologias. Claro que todo mundo preferia que, com meu estilo, eu tomasse um lado e participasse da campanha, mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática que eu não quero dizer agora, porque se eu não posso ajudar, atrapalhar é que eu não quero. Mas o que precisa o Brasil a partir de segunda-feira é que a gente construa um grande movimento que, de um lado, proteja a democracia brasileira e de outro lado proteja a nossa sociedade mais pobre dos avanços contra os direitos. Que se protejam os interesses nacionais contra a entrega e a cobiça estrangeira. Tudo isso está armado nesse debate, coisa que eu avisei bastante, cansei de dizer. Quem tiver um pouco de equilíbrio, de serenidade, vai recuperar. Hoje a internet permite que você veja isso com equilíbrio. Por agora só queria dizer que estou muito agradecido a todos e estou cumprindo a obrigação que minha consciência me indica. Minha consciência me aponta a necessidade de preservar um caminho em que a população brasileira amanhã possa ter uma referencia para enfrentar os dias terríveis que, imagino, estão se aproximando.

Ciro Gomes em 2022

"Meus amigos e minhas amigas, acabamos de realizar uma reunião da executiva nacional ampliada do PDT em que por unanimidade nós tomamos uma decisão. Eu gravo esse vídeo para dizer que acompanho a decisão do meu partido, o PDT. Frente às circunstâncias, é a última saída. Lamento que a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que reste para os brasileiros duas opções, a meu ver, insatisfatórias. Não acredito que a democracia tenha esteja em risco nesse embate eleitoral, mas sim no seu absoluto fracasso em construir um ambiente de oportunidades que enfrente a mais massiva crise social e econômica que humilha a esmagadora maioria do nosso povo. Ao contrário da campanha violenta da qual fui vítima, nunca me ausentei ou me ausentarei da luta pelo Brasil. Sempre me posicionei e me posicionarei na defesa do País contra projetos de poder que levaram nosso povo a essa situação grave e ameaçadora. Espero que essa decisão ajude a oxigenar temporariamente que seja a nossa democracia. Mas se não houver a busca efetiva de novos ares, de novos instrumentos, estaremos a mercê de um respirador artificial frágil e precário, limitadíssimo no tempo e no espaço. Pelo Brasil, minha luta e a do PDT seguirão sempre firmes. Não aceitaremos imposições ou cabrestos de quem quer que seja. Adianto que não pleiteio e nem aceitarei qualquer cargo em eventual futuro governo. Quero estar livre ao lado da sociedade, em especial da juventude, lutando por transformações profundas como as que propusemos durante nossa campanha. E ao povo brasileiro me dirijo, fiquem certos de que como sempre fiz vou fiscalizar, acompanhar e denunciar qualquer desvio do governo que assumirá em janeiro assim como vou seguir estudando e apresentando ideias para recuperar o nosso país. Um grande, forte e agradecido abraço a todos e todas e que Deus ilumine a nação brasileira."