O que é Maçonaria, instituição em que Bolsonaro discursou em vídeo

A Igreja Católica e alguns seguimentos evangélicos são publicamente contra a instituição

O vídeo do presidente Jair Bolsonaro (PL) em templo da Maçonaria viralizou nesta terça-feira, 4. A gravação antiga, de meados de 2017, mostra Bolsonaro discursando para maçons e afirmando uma possível candidatura em 2018, ano em que foi eleito presidente da República. As imagens tiveram repercussão entre apoiadores e críticos do presidente, mas também impulsionou o termo Maçonaria, que chegou a ficar nos assuntos mais comentados do Twitter.

De acordo com a Grande Oriente do Brasil, um dos templos mais antigos da instituição no país, a Maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista. A instituição se considera religiosa, mas não como uma religião. Isso porque reconhece a existência de um único princípio criador, também conhecido como "Grande Arquiteto do Universo", mas se identifica como uma sociedade que tem por objetivo "unir os homens entre si".

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Segundo eles, a instituição defende a "liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, a igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, a raça ou nacionalidade; a fraternidade de todos os homens".

A instituição tem como lema: Ciência – Justiça – Trabalho. Segundo eles, a ciência, seria para "esclarecer os espíritos e elevá-los"; justiça, para "equilibrar e enaltecer as relações humanas"; e trabalho "por meio do qual os homens se dignificam e se tornam independentes economicamente".

A Maçonaria tem raízes antigas em fraternidades medievais de pedreiros escoceses que usavam símbolos secretos para garantir legitimidade em seus trabalhos. A Maçonaria brasileira, segundo a Grande Oriente do Brasil, se iniciou em 1797 com a Loja Cavaleiros da Luz, criada na povoação da Barra, em Salvador, na Bahia. Foi fundada alguns anos depois ainda a Loja União, em 1800, sucedida pela Loja Reunião em 1802, no Rio de Janeiro.

O processo de independência do Brasil, em 1822, teve participação da instituição, como clamam. "Quando a campanha pela independência do Brasil se tornava mais intensa é que iria ser criada sua primeira Obediência, com Jurisdição nacional, exatamente com a incumbência de levar a cabo o processo de emancipação política do país", apresenta.

Anos depois, quando o Brasil tentava se tornar República, os maçons também estiveram presentes. "Campanha republicana também contou com intenso trabalho maçônico de divulgação dos ideais da República, nas Lojas e nos Clubes Republicanos, espalhados por todo o país", explica a Obediência.

Seguindo no tempo, a instituição identifica maçons no período denominado “República Velha”, além de Deodoro da Fonseca, Marechal Floriano Peixoto Moraes, Manoel Ferraz de Campos Salles, Marechal Hermes da Fonseca, Nilo Peçanha, Wenceslau Brás e Washington Luís Pereira de Souza também faziam parte da instituição.

Entre os maçons mais famosos no Brasil, estão: D. Pedro I, imperador do Brasil, José Bonifácio, Gonçalves Lêdo, Luis Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campos Salles e Rui Barbora. Já no cenário mundial, aparecem: Voltaire,os músicos Beethoven e Mozart; os militares como Frederico o Grande, Napoleão e Garibaldi e os poetas como Byron e Lamartine.

Maçonaria é secreta?

A própria Ordem considera que há um "folclore" que associa a Maçonaria a um sociedade secreta, o que é negado pela instituição. O motivo seria porque eles exercem suas atividades administrativas, fiscais e tributários publicamente. "Propriedades, constituições, emendas, regimentos e estatutos são registados em cartório de imóveis, títulos e documentos, e publicados em Diário Oficial", afirmam.

A instituição mantém sites e redes sociais com fotos dos templos e dos membros. O que fica em sigilo é como identificar outros membros e alguns ritos que acontecem nos templos, os locais físicos onde acontecem os encontros maçons. A Assembleia Legislativa do Ceará realizou, em 2019, sessão solene, em homenagem ao Dia do Maçom Cearense. O evento atendeu requerimento do deputado Heitor Férrer (União Brasil).

Após a Maçonaria também viralizar em 2020, o grão-mestre do Grande Oriente de São Paulo (GOSP), Kamel Aref Saab, falou sobre o "estigma" que a instituição teria por ser chamada de secreta. A fala aconteceu após o casamento da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o coronel Antônio Aginaldo de Oliveira, da Força Nacional de Segurança Pública. Na época, o ex- ministro da Justiça, Sérgio Moro, brincou com o fato de estar em um templo Maçônico e não saber o que poderia ou deveria falar.

“A Maçonaria não é secreta, ela é uma sociedade discreta. Existem sim alguns que ritos e particularidades que como qualquer organização a Maçonaria tem o intuito de preservar”, explicou o grão-mestre, como é chamado o principal líder da Ordem Maçônica que reúne mais de 15 mil membros. 

Para se tornar maçom, é preciso falar com outro maçom ou preencher um fomulário online. Os homens precisam ser emancipado e ter completado 18 anos, bem como ter emprego, residência e domicílio fixos. A instituição pede que sejam "homens livres, de bons costumes, capazes de realizar obras poderosas em benefício da Humanidade, da Pátria e da Família", como aponta o site da Grande Oriente do Brasil.

Embate com as Igrejas

Uma das bases eleitorais de Bolsonaro, religiosos de segmentos cristãos são contra a maçonaria. Em 1983, o papa João Paulo II aprovou a declaração que proíbe que católicos sejam associados à maçonaria. "Os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas", afirma o texto. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de "pecado grave", diz o texto.

A Maçonaria também não é bem vista por algumas igrejas evangélicas.O Colégio Episcopal não recomenda que membros da Igreja Metodista participem de Sociedades Secretas e de Associações Religiosas que não professem os princípios de fé aceitos pelo Metodismo Universal. "Membros da Igreja Metodista que sejam convidados/as a participar da maçonaria ou outra sociedade chamada secreta devem observar os compromissos a serem assumidos e verificar sua fundamentação bíblica, teológica e doutrinária", diz carta de 2008.

Em 2017, circulou informação que o bispo Edir Macedo, principal nome da Igreja Universal, seria maçom. A Universal negou e disse que a ligação entre o bispo e a Maçonaria “causa danos à sua imagem e honra perante seus fiéis, diante da incompatibilidade das filosofias pregadas pela Igreja e a Maçonaria”.

 

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