Eleitores de Bolsonaro ofendem nordestinos em grupos de Whatsapp
Em grupos bolsonaristas, apoiadores do atual presidente ofenderam o Nordeste e os eleitores nordestinos. Preconceito regional é tratado como crime pela Justiça
14:54 | Out. 03, 2022
De acordo com a BBC Brasil, as apurações eleitorais do último domingo, 2, foram marcadas por ofensas deferidas aos nordestinos por parte de apoiadores do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). As injúrias, feitas em grupos de Whatsapp bolsonaristas, são casos comumente tratados pela Justiça como crime de racismo.
As declarações preconceituosas foram feitas com base nos resultados da apuração, cujos resultados começaram a mudar a partir do início da contagem de votos em estados do Nordeste, que costumeiramente é feita por último.
Na medida em que mais estados nordestinos fechavam as urnas e enviavam os resultados para o TSE, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva via sua porcentagem de votos válidos crescer, passando e superando o reelegível Bolsonaro em mais de seis milhões de votos até o fim da apuração.
Nos grupos de Whatsapp a que a BBC Brasil teve acesso, eleitores de Bolsonaro desferiam ataques a nordestinos, culpabilizando a região e seus habitantes pela liderança de Lula no primeiro turno.
Eleições: mensagens ofensivas contra Nordeste e nordestinos são compartilhadas no Whatsapp
Entre as ofensas, alguns dos termos utilizados nos chats foram "Cuba do Sul", para se referir ao Nordeste; "Povo ignorante e mal informado", em referência aos nordestinos; além de frases como: "O que é o Nordeste do Brasil. Nem água tinham."
Em maio de 2022, a Justiça do Distrito Federal manteve a condenação de um homem que atacou nordesticos, chamando-os de "escória do país" e "tudo de ruim".
Racismo: ofender nordestinos é tratado como crime de racismo pela Justiça
Ataques ao Nordeste e aos nordestinos são comuns em época de eleições, especialmente nos dias de apuração. A visão empregada por brasileiros das demais regiões é de que o Nordeste, por tradicionalmente votar em candidatos de esquerda, é uma região que "puxa" as outras.
Questionamentos sobre a confiabilidade dos votos e a veracidade da apuração também permearam as mensagens trocadas nos grupos bolsonaristas.
Casos semelhantes foram vistos em 2014, quando, duas horas e meia após o fim do horário de votação, às 19h30, e com quase 90% das urnas brasileiras, Dilma Rousseff (PT) passou à frente de Aécio Neves (PSDB), no segundo turno das eleições presidenciais. Dilma se reelegeu com amplo apoio de eleitores nos estados do Nordeste.
A inversão de liderança ocorreu quando os votos remanescentes passaram a ser, majoritariamente, de estados do Nordeste, que liberam os números mais tarde. Na época, o candidato derrotado Aécio Neves questionou se as urnas eletrônicas e seus resultados poderiam ser confiáveis.
Eleições: o Nordeste realmente decide as eleições presidenciais?
Em agosto de 2022, um levantamento da Quaest Consultoria revelou a importância que determinados estados têm na decisão das eleições para presidente. E, em especial, o papel que Minas Gerais exerce na conquista do pleito. Minas é um estado situado no Sudeste do Brasil.
A última vez que um presidente conseguiu se eleger no Brasil sem ganhar em MG foi há mais de 70 anos atrás, com Vargas em 1950. As próximas eleições e, particularmente, as ocorridas após a redemocratização de 1985, tiveram um ponto em comum: quem ganha Minas, ganha a Presidência.
As declarações em grupos bolsonaristas de Whatsapp podem levar à conclusão de que o Nordeste, e o candidato escolhido em seus estados, são quem ditam a corrida pelo Palácio da Alvorada, o que é falacioso.
O que realmente acontece é que, devido à demora do fechamento das urnas no Nordeste, os votos da Região tendem a ser computados tardiamente, quase no fim das apurações. Isso revela o verdadeiro líder, que já estaria na liderança se votos de estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste fossem apurados por último.
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