Eleição em SP espelha polarização nacional com Haddad e Tarcísio

A disputa pelo governo do Estado mais rico e com mais eleitores do País espelhou neste ano como nunca a polarização travada na eleição presidencial. Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), que representam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL), nacionalizaram o discurso ao longo de toda a campanha e, segundo as pesquisas, devem se enfrentar no segundo turno. Pela primeira vez, o PSDB, com o atual governador Rodrigo Garcia, pode ficar de fora.

O ineditismo também marca a trajetória de Haddad, que lidera a corrida desde os primeiros levantamentos e chega ao dia da eleição com 39% a 41% dos votos válidos, segundo as pesquisas Datafolha e Ipec (ex-Ibope), respectivamente, divulgadas ontem. Os índices são os maiores já alcançados por um petista em São Paulo. No Agregador de Pesquisas do Estadão, Haddad tem 41% dos votos válidos, Tarcísio soma 30% e Garcia, 23%.

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Colado em Lula e rodeado de aliados não apenas da esquerda, mas do centro político - como o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSD) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) -, o petista focou suas críticas aos governos João Doria/Rodrigo Garcia, do PSDB, e os alternou com ataques calculados à gestão Jair Bolsonaro.

Minar as chances do atual governador chegar ao segundo turno foi estratégia não só de Haddad, mas também de Tarcísio. Ambos chegaram a fazer dobradinhas em debates de TV numa exposição clara da tentativa de se evitar a debilitada, mas persistente tradição tucana em São Paulo.

Com o bolsonarismo simbolizado em Tarcísio nesta eleição, Garcia tentou retomar o posto de candidato antipetista ao longo da campanha, centralizando suas críticas à gestão de Haddad na Prefeitura de São Paulo. E, para isso, usou também o tempo de TV e rádio de seu candidato ao Senado, Edson Aparecido (MDB). Coube a ele listar obras atrasadas de Haddad na saúde e a Garcia, relembrar o eleitor dos escândalos de corrupção do PT.

Nesta eleição, no entanto, sem o peso de ter de defender um padrinho político preso, Haddad se arriscou a confrontar adversários sobre políticas de combate à corrupção. Se eleito, promete ampliar e dar autonomia à Controladoria-Geral do Estado, a exemplo do que diz ter feito no Município.

A proposta de aprimorar mecanismos de controle está nos planos também de Tarcísio, que, seguindo as demandas bolsonaristas, foi o único candidato a prometer rever o programa estadual de instalação de câmeras nos uniformes de parte dos policiais militares, que derrubou a taxa de mortes praticadas por Pms.

Mas, para ultrapassar Garcia nas pesquisas de intenção de voto, Tarcísio não seguiu apenas a cartilha do bolsonarismo. Tutelado por nomes do PSD, partido que compõe sua chapa, o candidato decorou rapidamente os principais problemas do Estado, dando prioridade a projetos de mobilidade e logística, suas bandeiras à frente do Ministério da Infraestrutura na gestão Bolsonaro.

PROPOSTAS

Os compromissos assumidos pelos candidatos ao governo de São Paulo vão de impostos congelados e devolvidos a mutirões de cirurgias, conclusão de obras de mobilidade, cartão para compra de alimentos, bilhete único para o transporte entre cidades da Grande São Paulo, ampliação do crédito para o microempreendedor e planos de recuperação da aprendizagem no pós-pandemia, entre muitos outros exemplos.

Como de costume nas últimas eleições estaduais em São Paulo, parte das promessas incluem obras atrasadas de mobilidade, como linhas de metrô e o Rodoanel; ampliação da rede de restaurantes do Bom Prato (agora com a novidade de um cartão para compra de alimentos); projetos de parceria com a iniciativa privada em obras de habitação, saneamento e penitenciárias; e investimento em escolas de tempo integral e técnicas.

Para o cientista político Márcio Black, o segundo turno deve se nortear por propostas de redução das desigualdades no Estado que, apesar de ser o mais rico, viu sua população mais carente crescer nos últimos quatro anos. "Uma eventual disputa entre Haddad e Tarcísio no segundo turno forçará o PSDB a se posicionar também neste sentido."

AGENDA COM PRESIDENCIÁVEIS

No último dia do primeiro turno, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas priorizaram neste sábado agendas com seus respectivos candidatos à Presidência na capital paulista. O ex-prefeito de São Paulo participou de uma caminhada na Avenida Paulista pela manhã e de uma carreata na região, de tarde, ao lado de Lula (PT). Tarcísio subiu na garupa do presidente Jair Bolsonaro (PL) em motociata que teve início na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da cidade, e seguiu até o Parque do Ibirapuera, na zona sul.

Já projetando um segundo turno com Tarcísio, o petista Haddad destacou ontem os efeitos da polarização nacional em São Paulo. "Desde a redemocratização do País não tínhamos nenhuma força política que pregasse a violência. Não havia pregação de violência entre PT e PSDB. Agora, o chefe do Executivo (Jair Bolsonaro) acha que as armas são a solução para a segurança pública", afirmou a apoiadores, entre eles o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB).

Antes mesmo da divulgação das pesquisas que o colocaram isolado na segunda colocação, Tarcísio ressaltou a sua crescente nos levantamentos eleitorais. "Foi uma campanha que empolgou. A gente cresceu bastante e a nossa mensagem foi bem acolhida", afirmou, usando uma camiseta amarela que estampava sua foto ao lado de Bolsonaro. Ambos não usavam capacetes.

Já Rodrigo Garcia (PSDB) preferiu não fechar a campanha ao lado de Simone Tebet (MDB), presidenciável apoiada por seu partido que também teve agenda em São Paulo. Com aliados locais, o governador começou o dia com uma carreata na zona sul da capital e seguiu para Osasco, na Grande São Paulo; depois foi para São Bernardo do Campo, no ABC. Simone chegou a esperar o tucano em encontro realizado na quadra da escola de samba Caprichosos do Piqueri, na zona norte.

Em discurso, Garcia defendeu seu trabalho como governador - ele assumiu em abril, após a renúncia do então governador João Doria (PSDB), que deixou o cargo para tentar, sem sucesso, disputar a Presidência. "Fiz uma campanha limpa, fui atacado por diversos adversários, mas procurei proteger as conquistas de São Paulo, mostrando que São Paulo é o melhor Estado do Brasil. E eu quero quatro anos de governo para colocar em prática tudo aquilo que eu aprendi de uma vida dedicada a São Paulo", disse o tucano.

INDECISOS

O candidato do PDT, Elvis Cezar, esteve em ato no Mercado Municipal, na região central paulistana, pedindo votos a visitantes do principal ponto turístico da capital. Em vídeo publicado nas redes sociais, o ex-prefeito de Santana do Parnaíba fez um apelo ao eleitor indeciso.

"Vamos até o final. Temos 40% dos votos indecisos (embora pesquisa estimulada do Ipec de ontem mostrou uma taxa menor, de 17%, entre brancos, nulos e os que não souberam responder). Preciso do seu voto para chegar ao segundo turno. Vamos para cima", disse.

Assim como Haddad e Tarcísio, Vinicius Poit (Novo) esteve em carreata na capital ao lado do nome da legenda à Presidência, Felipe d'Avila. Eles percorreram os bairros de Jardim Maria Luiza e Jardim Niteroi, na região de Santo Amaro, zona sul.

Candidata da UP, Carol Vigliar fez caminhada em Itaquera, na zona leste, ao lado do presidenciável do partido, Leonardo Péricles. Ela apelou pelo voto a candidatos da sigla nas eleições ao Legislativo. "Somos um partido novo e precisamos de representantes na Câmara para ampliar a nossa voz. Conto com vocês", postou nas redes.

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