No 7 de setembro, Bolsonaro mentiu sobre corrupção, pandemia e preço da gasolina
O presidente foi impreciso ao falar sobre a criação de empregos
13:06 | Set. 08, 2022
O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, realizou um discurso com viés eleitoral nesta quarta-feira, 7, durante comemoração do Bicentenário da Independência, em Brasília. Ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, do candidato a vice, Braga Netto, e de empresários aliados, o presidente mentiu ao repetir a ausência de corrupção no seu governo e sobre o combate à chamada "ideologia de gênero".
Confira a checagem das falas de Bolsonaro e veja o que é falso e verdadeiro:
Demos uma nova vida a essa Esplanada dos Ministérios com pessoas competentes, honradas e patriotas. Começamos a mudar o nosso Brasil. Veio uma pandemia. Lamentamos as mortes.
Impreciso: Durante a pandemia da Covid-19 no Brasil, o presidente acumulou declarações em que minimizou a gravidade da doença, chegando até a ironizar os mortos. Em 2020, após ser questionado na entrada do Palácio da Alvorada sobre o número de mortes pelo novo coronavírus, Bolsonaro disse: "Ô, cara, quem fala de... Eu não sou coveiro, tá certo?". O repórter, então, insistiu na pergunta e Bolsonaro repetiu: "Não sou coveiro, tá?".
O presidente também falou: "Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, não". Durante um pronunciamento de rádio e TV, ele repetiu: "Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão."
Em outro momento, Bolsonaro também disse que Brasil tem que "deixar de ser um país de maricas" e enfrentar a pandemia de Covid-19 de "peito aberto". "Tudo agora é pandemia", queixou-se durante discurso no Palácio do Planalto, em cerimônia de lançamento de um programa de turismo, em 2020.
O presidente já lamentou as mortes, porém, afirmou que elas poderiam ter sido evitadas caso a população tivesse feito uso de remédio sem eficácia contra a Covid-19. “Lamento todos os óbitos. Lamento muito. Qualquer óbito é uma dor na família. E nós, desde o começo, o governo federal teve coragem de falar em tratamento precoce”, disse Bolsonaro, em 2021, quando o Brasil atingia as 500 mortes por Covid.
Quando parecia que tudo estaria perdido para o mundo eis que o Brasil ressurge com uma economia pujante. Com uma gasolina entre as mais baratas do mundo.
Falso: Dados do site Global Petrol Prices, responsável por mostrar os valores dos combustíveis no mundo, o Brasil tem atualmente a 36ª gasolina mais barata entre 168 países analisados. Em 5 de setembro deste ano, a gasolina custava, em média, US$ 1,019 por litro. O valor supera o que é cobrado em países como Bolívia (US$ 0,542), Colômbia (US$ 0,557) e Emirados Árabes (US$ 0,898), ficando abaixo da média mundial, de US$ 1,34.
Com um dos programas sociais mais abrangentes do mundo, que é Auxílio Brasil. Com o recorde na criação de empregos.
Impreciso: Apesar do relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrar, no final de agosto, que o Brasil registrou um volume de 42,2 milhões de empregos formais, o maior da série histórica do levantamento, não é possível garantir um recorde na criação de empregos. Em janeiro de 2020, a Caged começou a utilizar outras fontes e a captar mais dados para os levantamentos, permitindo uma contabilização mais precisa. Logo, não é possível fazer comparação com anos anteriores. O cadastro passou a considerar obrigatoriamente, por exemplo, os registros de trabalhadores temporários, até então opcionais até 2020.
Somos uma pátria majoritariamente cristã.
Verdadeiro: Pesquisa Datafolha divulgada em janeiro de 2022 revela que os cristãos fazem parte de uma maioria dos brasileiros. São 51% católicos e 26% evangélicos, entre outras denominações do cristianismo.
... não quer legalização das drogas [população brasileira], ...
É verdade que a população brasileira é resistente à liberação das drogas. Uma pesquisa de 2019 do instituto Ipsos, que avaliou 29 países, mostra que apenas 24% é favorável ao uso recreativo legal da maconha, o que revela uma resistência dos brasileiros quando o assunto é liberação de drogas. Em 2014, o Senado divulgou um estudo em que apenas 9% dos brasileiros aparecem favoráveis à liberação da maconha para qualquer finalidade.
"... não quer legalização do aborto, ..."
Verdadeiro: A maioria da população brasileira é contrária à legalização do aborto. É o que mostra duas pesquisas publicadas em maio deste ano. O PoderData apontou que 59% dos entrevistados são contra a interrupção voluntária da gravidez. Dados do Datafolha afirmam que 39% defendem a não mudança da legislação atual, que prevê aborto apenas em casos de estupro, risco para a mãe e anencefalia do feto. Outros 32% afirmaram que a medida deve ser proibida em qualquer caso. A pesquisa revelou ainda que 18% são favoráveis ao aborto em mais situações do que as previstas em lei. Outras 8% concordam com a interrupção da gravidez em qualquer situação.
"... que não admite a ideologia de gênero."
Falso: Acredita-se que o termo “ideologia de gênero” apareceu pela primeira vez em 1998, em uma nota emitida pela Conferência Episcopal do Peru intitulada “Ideologia de gênero: seus perigos e alcances”. Desde seu surgimento, a expressão “ideologia de gênero” carrega um sentido pejorativo (negativo, ofensivo). Por meio dela, setores mais conservadores da sociedade protestam contra atividades que buscam falar sobre a questão de gênero e assuntos relacionados – como sexualidade – nas escolas. As pessoas que concordam com o sentido negativo empregado no termo “ideologia de gênero” geralmente temem que, ao falar sobre as questões mencionadas, a escola vá contra os valores da família.
Além disso, uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Centro de Pesquisas e Estudos Em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e pela Ação Educativa, publicada em julho de 2022, diz que a maioria dos brasileiros acredita que questões de gênero e sexualidade devem ser debatidas em sala de aula.
Perguntados sobre se as escolas devem promover o direito de as pessoas viverem livremente sua sexualidade, sejam elas heterossexuais ou LGBTQIA+, 66% disseram concordar totalmente com a afirmação e 15% concordar em parte.
Entre os entrevistados, 71% disseram concordar que a escola está mais preparada do que os pais para explicar temas como sexualidade e puberdade. A pesquisa foi realizada com 2.090 brasileiros, com idades entre 16 anos ou mais, em 130 municípios do país, de 8 a 15 de março deste ano.