Leitura da Carta pela Democracia reúne movimentos sociais em Fortaleza
Atos em defesa da democracia acontecem várias em cidades espalhadas pelo País
17:01 | Ago. 11, 2022
A defesa do Estado Democrático de Direito e do sistema eleitoral brasileiro estiveram na agenda de centenas de pessoas que foram às ruas de Fortaleza na manhã desta quinta-feira, 11. Em ato que começou a concentração na Praça Clóvis Beviláqua e seguiu em caminhada pelas ruas da Capital cearense, manifestantes entoaram músicas e palavras de ordem contra os ataques à democracia do País.
O ato ocorreu no mesmo dia em que foi realizada a leitura da “Carta pela Democracia” em diversas cidades espalhadas pelo Brasil. O manifesto foi organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Ele foi assinado por mais de 960 mil pessoas, incluindo juristas, advogados, artistas, candidatos à Presidência, ex-ministros do STF, membros do Ministério Público e dos Tribunais de Contas, além de milhares de outras pessoas.
“Independente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual, não há espaço para retrocessos autoritários. (....) A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa, necessariamente, pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito sempre”, diz trecho do documento.
Em Fortaleza, a leitura do manifesto ficou sob a responsabilidade do advogado e juiz aposentado Inocêncio Uchôa. O membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (UBJD) foi preso político durante o período da ditadura militar. Ele contou ao O POVO que foram 11 anos (de 1968 a 1979) entre prisões e vivendo na clandestinidade por conta da repressão. “Esse movimento significa que o povo brasileiro não aceita ditadura, não adianta querer impor o fascismo do Brasil. O que o povo brasileiro está dizendo aqui é que os fascistas não passarão”, ressaltou.
No Ceará, o ato contou com a participação do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (Adufc-Sindicato), movimentos como a Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Estadual dos Estudantes do Ceará (UEE), dentre outros.
Presente no ato, Luciano Simplício, presidente do CTB-CE, avaliou que a democracia brasileira está sendo “golpeada” e que o País corre perigo de retornar a um “estado ditatorial”. Ele acrescenta que a postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) gera um “risco” ao Estado Democrático de Direito. O chefe do Executivo foi um dos principais alvos das manifestações, principalmente pelos ataques sistemáticos que tem feito ao sistema eleitoral.
O deputado estadual Renato Roseno (Psol), por sua vez, disse que o Brasil vive um momento de ascensão de “ideias autoritárias”, principalmente partindo daqueles que “deslegitimam” o sistema eleitoral. “O que nos move aqui é a defesa de valores democráticos. Independentemente de partidos, de ideologia, o que deve fundamentar a nossa participação aqui é o compromisso com os valores e com a cultura democrática. Não podemos nos amedrontar diante de uma escalada de tentativas de deslegitimação do sistema eleitoral”, afirmou.
Para Yara Larissa, presidente da UEE-CE, as manifestações são “históricas”. Ela ressalta que entidades estudantis e diversos movimentos sociais se uniram, durante o dia, na luta pela educação, democracia e por eleições livres. “Infelizmente, em 2022, a gente está indo para rua para defender o óbvio. (....) Os estudantes, como sempre, na linha de frente e dessa vez eu acho que a gente tem que ampliar os nossos horizontes. Por isso que a gente está ampliando e consegue com que a nossa a nossa luta unificada consiga dar um retorno maior”, ressaltou.
Ecila Menezes, membro da ABJD, destacou o significado de ler novamente um documento em defesa das liberdades individuais, no mesmo lugar em que ocorreu no ano de 1977, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Hoje vamos trazer à memória esse importante momento de defesa da democracia, de defesa por um estado de direito democrático e de defesa da vida, porque sem democracia não há vida”, concluiu a atriz.