Há nove meses, Ciro disse que Camilo administraria sucessão; discurso do ex-ministro agora é outro

Ex-governador do PT se vê distante das decisões que vão tomando forma com o passar dos dias

11:43 | Jun. 17, 2022

Por: Carlos Holanda
Camilo Santana e Ciro Gomes antes do rompimento (foto: Thais Mesquita)

Em 17 de setembro de 2021, há exatamente nove meses, durante reunião do secretariado do prefeito José Sarto (PDT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou que a sucessão do então governador Camilo Santana (PT) seria administrada pelo próprio petista. Atualmente, o retrato é outro. A atual governadora Izolda Cela (PDT), nome da predileção do hoje ex-governador, trava disputa sobretudo com o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), o preferido de Ciro e Carlos Lupi, mas também com outros dois nomes trabalhistas: Evandro Leitão e Mauro Filho. 

“O líder do nosso movimento no Ceará se chama Camilo Santana. Ele, por méritos, nos lidera nessa empreitada e vai administrar a sucessão dele. Nesse sentido, o lugar que ele desejar terá nosso apoio incondicional e cego. Pelos méritos dele, pelo extraordinário governo que vem fazendo, pela liderança que representa, e, portanto, se ele quiser ser senador, terá nosso apoio incondicional”, disse Ciro naquele setembro de 2021.

Nessa quarta-feira, Ciro afirmou que o nome escolhido será aquele que "ganhar o povo". É o que pesquisas de opinião - quantitativas e qualitativas - indicarão. O nome do bloco de situação deve sair entre o fim de junho e a primeira quinzena de julho, conforme Ciro. Durante fala no encontro regional do PDT, em Fortaleza, nessa quarta-feira, 15, Ciro disse que o deputado federal André Figueiredo (PDT) seria o condutor do processo, enquanto presidente estadual do partido.

Contrariando a própria tradição de lançar nome no "apagar das luzes" das convenções partidárias, a cúpula do PDT entendeu que antecipar a escolha seria meio de atenuar o clima de tensão política decorrente do acirramento crescente entre apoiadores de Izolda e Roberto Cláudio. Entende-se que a escolha pode propiciar mais rapidamente um ambiente interno de serenidade, de modo que as forças da aliança se concentrem no adversário Capitão Wagner (União Brasil), pré-candidato pela oposição.

Do grupo de Camilo no PT, o deputado federal José Guimarães (PT), em entrevista ao O POVO, sugeriu que o ex-chefe do Executivo estadual estaria à margem das definições. Camilo, em entrevista ao Jornal Alerta Geral, na FM Expresso, afirmou que qualquer um no lugar de Izolda teria a prerrogativa de ir para a reeleição. Foi a mais enfática defesa que ele fez em benefício da aliada, com quem trabalhou no Palácio da Abolição por sete anos e três meses. 

"É governadora, ela está no cargo. Parto do princípio de que ela também tem a prerrogativa de… Se coloque, qualquer um que estivesse no lugar dela, assumindo o Governo do Estado, teria a prerrogativa de ir para uma reeleição", defendeu Camilo.

Sob reserva, um petista próximo a Camilo disse à reportagem do O POVO que é notório que o governador está sendo afastado do ambiente onde os caminhos são definidos. Adicionou que o próprio Camilo tem este sentimento. O PT, por meio de Guimarães, em particular, e do diretório estadual, de modo mais amplo, já sinalizou que lança candidato próprio no caso de o nome trabalhista na corrida estadual ser o ex-prefeito Roberto Cláudio. 

Questionado sobre o papel que cabe a Camilo nesta fase enquanto caminhava em direção ao estacionamento do Hotel Mareiro, ao final do encontro do PDT, Ciro disse ao O POVO que a sucessão corre do modo como foi apalavrada com todos. Não detalhou o que isto significa.