Reino Unido pede ao Brasil que faça o possível para investigar sumiço de jornalista
20:13 | Jun. 09, 2022
A embaixadora interina do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, disse, no começo da tarde desta quinta-feira, dia 09, que o governo britânico está "profundamente preocupado" com o sumiço do jornalista inglês Dom Phillips, de 57 anos, e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, de 41 anos. Em nota, ela revelou que seu país apelou ao governo brasileiro para que "faça todo o possível para apoiar a investigação sobre o caso". Os dois estão desaparecidos desde a manhã deste domingo, dia 05, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado do Amazonas, uma região dominada pelo tráfico de drogas e exploração de garimpo ilegal.
"Entendemos que a localização remota da região impõe desafios logísticos consideráveis e já solicitamos ao Governo Brasileiro que faça todo o possível para apoiar a investigação do caso. Agradecemos a assistência prestada até o momento", afirmou a embaixadora em nota. No comunicado, reproduzido em seu perfil no Twitter, Hopkins disse que o Reino Unido está "profundamente preocupado" pelos dois ainda não terem sido encontrados e ciente de que "esse continua sendo um momento angustiante para suas famílias e amigos". Hopkins é a representante britânica no Brasil desde o começo de março, quando o embaixador anterior, Peter Wilson, voltou ao Reino Unido.
Em declaração sobre o assunto, o presidente Jair Bolsonaro disse que Bruno e Dom estavam "numa aventura não recomendada". "Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser acidente, pode ser que tenham sido executados", disse em entrevista ao SBT na última terça-feira, 7.
Na mesma linha, o presidente da Fundação Nacional do índio, delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, afirmou que os dois "erraram ao não comunicar os órgãos de segurança sobre a viagem ao Vale do Javari, no Amazonas, e não pedir autorização à Funai para acessar o local". Segundo a entidade Indigenistas Associados (INA), que reúne servidores da Funai, as declarações são "equivocadas", uma vez que a dupla não chegou a entrar na área do Vale do Javari demarcado como terra indígena - portanto, não seria necessário pedir autorização alguma.
Desde o começo da crise envolvendo o desaparecimento do jornalista, esta é a terceira vez que a embaixadora se manifesta sobre o assunto nas redes sociais. No comunicado desta quinta-feira, ela também revelou que o governo britânico está provendo apoio consular à família do jornalista e está "em contato próximo com autoridades do mais alto nível no Brasil para se manter atualizado em relação aos esforços de busca e resgate."
Phillips e Pereira desapareceram no domingo, mas foi apenas na manhã da terça-feira, dia 07, que Exército e Marinha mobilizaram aeronaves para intensificar a busca pelos dois desaparecidos. Os dois sumiram durante uma viagem de barco entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Como mostrou o Estadão, Pereira foi mencionado em um bilhete apócrifo com ameaças, escrito por pescadores ilegais que atuavam na área e dirigido à entidade para a qual o indigenista trabalhava.
Veterano no jornalismo, Dominic Phillips trabalha hoje como freelancer para o jornal britânico The Guardian e prepara um livro sobre a Amazônia com o apoio de uma fundação de seu país de origem. Ele mora no Brasil desde 2007 e é casado com uma brasileira. Vivendo em Salvador (BA), já escreveu para vários dos principais jornais de língua inglesa, como o Washington Post, o New York Times e o Financial Times.
Pereira é um prestigiado indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e está licenciado para trabalhar diretamente com a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Entre 2015 e 2020, ele comandou na Funai o departamento que cuida das comunidades isoladas dentro do território do Javari. A região reúne o maior número de comunidades isoladas do mundo. Como mostrou o Estadão, Pereira foi exonerado da função na gestão de Sérgio Moro como ministro da Justiça e substituído por um missionário evangélico. O episódio foi o estopim para que pedisse licença do cargo.
Segundo os últimos números divulgados pelo governo brasileiro, as buscas mobilizam atualmente 250 agentes civis e militares de vários órgãos públicos; três drones, 16 embarcações, 20 viaturas terrestres e dois helicópteros. Uma pessoa chegou a ser presa - o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, mais conhecido como "Pelado". Segundo testemunhas, ele teria ameaçado o indigenista e o repórter no sábado, dia 04 de julho. Segundo o secretário de segurança pública do Estado do Amazonas, Carlos Mansur, o pescador não tem relação com o desaparecimento da dupla.