Nas reprises de novela, Dira Paes, Vivianne Pasmanter e Lúcio Mauro Filho refletem quem é a mãe de 2020
Durante coletiva de imprensa realizada virtualmente nesta última sexta, 8, e que O POVO teve acesso, trio de atores, no ar com seus personagens de mães e "pães", compartilhou visão sobre o papel que é vida real, para além das telinhas
18:15 | Mai. 10, 2020
No ar em uma das novelas que ganham reprise em edição especial devido à pandemia do novo coronavírus, Dira Paes revive Celeste, mãe da aspirante a cantora de funk Solange. Na trama, em Fina Estampa, enquanto protagoniza a luta pelo combate à violência contra mulheres, é a doação de mãe, em nome do sonho da filha, que conduz o papel da atriz, melhor amiga de Griselda (Lília Cabral).
Fora dos bastidores, mãe de dois, Dira vê semelhanças: "A mãe que ouve o filho de 2020", associa à figura materna da nova década. "Essa mãe de 2020, ela precisa se 'alfabetizar' para ela poder também entender o novo universo que se apresenta através dessa vida que é uma vida que passa pelo computador, que passa pela tecnologia, que passa pelo mundo virtual", considera integrar-se digitalmente um ponto importante neste contexto.
Para a artista, os sentimentos vão se transformar também a partir desse novo formato de relações. "Após essa pandemia, é preciso que a gente entenda que existe um novo normal. Então essa mãe de 2020, ela precisa se adaptar ao novo normal. E nós todos como sociedade! Mas a mãe é a base da sociedade. Não tem como não ser", acolhe os "pães", pais além de mães.
"Tomara que isso se estabeleça como um novo comportamento", enxerga como positivo à divisão das demandas. "Porque a mãe ela trabalha muito", justifica, sem desmerecer a habilidade multifunção, de imagem "polvo", como as mães são lembradas, capazes de mais de uma atividade por vez. "Essa imagem para mim ela é real. Mas eu acredito muito numa mãe antenada com os novos comportamentos", preza Dira.
Para ela, mais relevante no momento, que passará um Dia das Mães atípico, com uma de suas irmãs, médica, na linha de frente contra o novo coronavírus, é conseguir manter valores, principalmente vinculados ao afeto. "A gente não se distanciar do que é mais humano na gente, que são os sentimentos", diz repassar aos filhos, um deles Inácio, de 12. "Quando a gente fala do afeto é afecção, é tudo que nos afeta, é o raio do sol, é o vento, é o abraço, é o sorriso, é a troca. Isso vai ser tão importante quanto se alfabetizar tecnologicamente", refere-se.
Vivianne Pasmanter está no ar em duas novelas reprisadas ao mesmo tempo, uma seguida da outra, Novo Mundo, no horário das 18 horas, e Totalmente Demais, folhetim das 19 horas. Nesta última, atende por Lili, e o que mais chama atenção em seu papel, além de astúcia para o business, é a ausência que ela sente da filha Sofia (Priscila Steinman), supostamente morta. A dor vivida pela personagem foi algo que exigiu da atriz, hoje mãe de adolescentes. "Sempre que você vive um personagem, você não passa impune à ele. Ele deixa coisas. Você aprende coisas", comenta como foi difícil, na época, voltar-se a este tipo de sentimento - e entendimento -, a perda de um filho ou filha.
Outra questão levantada pela intérprete de Lili, na TV, é a superproteção. "Até onde ir, até onde não ir?", questiona-se a atriz, mesmo mãe há alguns anos, descobrindo-se na pele, principalmente agora, marco de uma nova era. "A minha geração viveu uma vida completamente diferente dessa geração", que foi a que mais teve mudança, na opinião da atriz. "Se eu penso na minha infância, na minha adolescência, o mundo era outro. Não tinha Internet, não tinha televisão colorida. Hoje em dia, essa coisa da rede social, da tecnologia... tem modificado bastante", diz falar sobre isso "porque quando você é mãe você tem que acompanhar o que está acontecendo, o que os filhos estão vivendo".
Entre as novas formas de interagir, segundo Vivianne, a Lili de Totalmente Demais, é dar mais ouvido ao que os filhos têm a dizer. "Hoje se escuta muito mais, se dá muito mais voz ao jovem do que na geração anterior. Antes, a criança, o filho, era uma coisa assim: 'fica lá!'. Não tinha tanta preocupação, eles não estavam tão em primeiro plano como estão hoje. É e está muito difícil viver nesse novo mundo, nessa coisa do celular...", apoia-se em uma mãe de 2020.
Para Vivianne - que não quis contar, mas preparou uma surpresa para celebrar a data das mães -, o autoconhecimento e gestão que ela entende hoje como necessários: "Tem que entender e si entender", responde ao novo mundo, que pede mais da mulher, espelho materno. "Sinto também que tem uma necessidade de se desculpar com esse papel de mãe. Vou te falar que é muito difícil! (Risos). É muita transformação, muita mudança, mas acho que o melhor papel da vida: o de mãe".
Quem também participou do convite online, promovido pela emissora das reprises na TV, foi o ator Lúcio Mauro Filho, de volta como Roney Romano de Malhação - Viva a Diferença. Ele é o pai de Keyla (Gabriela Medvedovski) e um ex-cantor romântico que faz as vezes de "pãe", na novela. Para Lúcio, pai de duas filhas na vida real, irmão de duas mulheres, o ser mãe é muito antes dela sê-la. Está na força da mulher.
"A mãe de 2020 continua sendo uma heroína, continua tendo que equilibrar ancestralidade e passado com futuro e mais um montão de outras coisas e ficar girando pratos como uma mulher gira porque as conquistas da mulher elas, volta e meia, são surrupiadas pelo mundo que ainda continua muito masculino", comenta o ator, que acrescenta breve pontuação:
"A mulher ela ainda tem uma dificuldade de ter o seu papel entendido. Não é valorizado porque valorizar é claro que a gente valoriza, qualquer mãe, qualquer mulher. Mas é porque tem conquistas, no mundo do trabalho, no mundo dos negócios, no mundo da política, que são frutos de um trabalho muito árduo, que é muito difícil. É muito difícil ser mulher nesse mundo. Eu falo como um observador. É óbvio! (Risos). Mas um observador que é apaixonado, que vive num mundo muito feminino (com a mãe e duas irmãs, agora com a esposa e duas filhas), então sempre muito cercado de mulheres e por isso mesmo muito atento ao mundo feminino", mostra-se preocupado.
Na percepção de Lúcio, a mulher continua sobrecarregada. E analisa: "A mulher de 2020 continua precisando da ajuda do homem de 2020 - quando existe um parceiro, ou mesmo quando não se mora com o parceiro, mas fizeram o filho juntos, tem uma guarda compartilhada e tal -, a mulher ela precisa desse homem, mas precisa de verdade, não como um cara autoritário, como um cara para ditar regra, ou para dizer o que ela tem que fazer. Não. É para dividir as tarefas da vida, de forma genuína e de forma honesta", enfatiza. "Ela merece um homem de 2020 melhor. E essa construção desse homem ela ainda está engatinhando", pondera. As comemorações pelo Dia das Mães, desta vez, será por vídeo, longe da mãe.