Medo de farinha e Pix para casa própria: mãe e filha do Cariri fazem sucesso na internet

Lasara Santos e Dona Raimunda moram no Cariri e fazem fama compartilhando situações inusitadas nas redes sociais

Juntas elas têm quase dois milhões de seguidores. Mãe e filha mostram seu dia a dia e fazem humor sem roteiro, diretamente do Cariri cearense para o mundo. Lasara Santos e sua mãe Dona Raimunda, mais conhecida como “Mainha” pelos milhões de seguidores do Youtube e do Instagram, mostram as situações inusitadas e divertidas do dia a dia e com a linguagem e a forma de ser do povo cearense.

Companheiras, hoje eles conseguiram sair do aluguel, graças à ajuda dos seguidores que doaram a elas quantias suficientes para adquirirem a tão sonhada casa própria. “Te juro, ela já morou e já alugou as casas de Juazeiro tudinho. Eu já andei Juazeiro inteira por causa dela”, conta a filha Lasara, falando de sua história com a mãe.

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Lasara conta que a mãe gravou o vídeo sem a sua autorização, pedindo um Pix de um real de cada seguidor, para conseguir comprar a casa própria. Ela explica que seu filho mais velho ajudou a avó na gravação e postou o vídeo nas redes sociais.

“Eu fiquei indignada” contou Lasara durante a entrevista. Dona Raimunda se defendeu dizendo que eles estavam passando por um momento difícil e que precisavam realizar o sonho da casa própria e sair do sufoco do aluguel. “Oxente, e se eu não tivesse mais seguidores, quem iria me ajudar?”, indagou ela.

Dona Raimunda explica que foi preciso ir ao banco fazer o cartão para conseguir retirar o dinheiro em espécie. Ela explica que a atendente do banco se recusou a fazer o cartão, até que ela fez uma “confusão” no banco e conseguiu. “Quem é a senhora? Eu sou eu oxente!”, respondeu à atendente.

Trollagens, Auxílio Brasil e tornozeleira eletrônica

Para quem acompanha o canal do youtube é possível ver as diversas “trollagens” que Lasara apronta com a mãe, que facilmente cai nelas por causa da personalidade de “extremos” diz a filha.

Durante a pandemia de covid-19, Lasara fez uma brincadeira onde um suposto delegado acusava a mãe de receber o benefício do Auxilio Brasil sem ter direito. A idosa chegou a usar uma falsa tornozeleira eletrônica acreditando ser verdadeira.

Perguntada sobre a personalidade brava, mas ao mesmo tempo emotiva da mãe, Lasara diz que a entrevista serve para mostrar que a idosa é naturalmente engraçada e lembra das confusões de Dona Raimunda. “Quando da briga em família, pois aqui é uma cachorrada, ele pega a garrafa de café, bota café, e ficam brigando tomando café. Merendando e depois passam dois anos sem se falar”, diz a filha.

“Toda vida que a gente chega, os vizinhos querem me fazer de gari. Botam lixo na minha porta”, se defende Dona Raimunda. “A coitada de Dona Lila todo dia ia sentar na calçada para tomar um ventinho, pois ela pegava uma pedra e ficava amolando a faca pra veia ver”, completa Lasara.

Ainda segundo ela, quando Dona Raimunda, briga com os vizinhos ela é quase obrigada a ficar intrigada também. “Quando ela faz confusão, se intriga com as pessoas, eu tenho que me intrigar também. Se não ela começa a falar ‘tu já tá de amizade com aquela cascavel’”, diz a jovem às gargalhadas.

Por causa disso, Dona Raimunda diz que já ficou sem falar com a filha. “Às vezes a gente briga e passa de três, cinco dias sem se falar”, confirma Dona Raimunda.

Brigas e sucesso nas redes

Apesar das brigas, com o sucesso das duas nas redes sociais, Lasara conta que elas passaram a entender a dimensão social da importância do trabalho delas ao levar alegria às pessoas. Segundo Lasara, isso é o que faz ela continuar com o trabalho. “É mais por conta disso que eu consigo continuar na rede social”, explica.

“Quando a gente foi hackeada, eu recebi uma mensagem de uma senhora que fazia hemodiálise. Ela tinha câncer e falou que os nossos vídeos eram o que ajudava na quimioterapia. Isso nos motiva, muito mais do que números. Eu leio os comentários, eu curto, eu me emociono com alguns, eu vejo a importância de sorrir e, às vezes, você não está nem em um dia bom”, conclui a jovem na entrevista.

Como tudo começou

Perguntada como tudo começou, a filha explica que foi com uma situação envolvendo uma festa de confraternização de uma empresa onde trabalhou. Ela explica que dona Raimundo é muito ciumenta e não queria que ela saísse de casa para nenhum lugar.

“Eu queria ir para uma festa na empresa que eu trabalhava, era uma de confraternização. Ela não deixa eu sair de casa por nada. Tudo ela tinha medo, medo de eu morrer de um acidente, que ela é hipocondríaca”, explica.

Lasara lembra da situação engraçada onde a idosa fingiu um desmaio para impedi-la de ir à confraternização. “Eu tinha que ir pra cidade vizinha, onde era a confraternização. Ai ela colocou um Sonrisal na boca, e começou a efervescer e ela fingiu desmaio. Levaram ela para o hospital e eu tive que voltar do meio do caminho para casa. E ela já estava em Barbalha, no hospital da cidade vizinha. Meu tio me levou, foi uma cachorrada quando eu cheguei lá. Ela disse: ‘ei! cala a boca, que já tá terminando aqui o soro. É só pra tu não ir pra festa’”, lembrou a jovem, rindo da situação.

Ela lembra que as situações eram tão engraçadas que os amigos duvidavam e começaram a incentiva-la a gravar. “Eu ia falar pro povo e as pessoas mandavam eu deixar de mentira. Me chamavam de tratante, que eu dizia que ia pros cantos e não ia. Mas eu dizia: ‘eu juro, mainha fez isso’”, comenta. “As pessoas iam lá em casa, viam o jeito dela e morriam de rir. Mas eu não gravava. Eu tinha vergonha na verdade”, acrescenta Lasara.

De tanto ser incentivada, começou a gravar a mãe em situações do dia a dia. Foi quando o sucesso veio. “Em três meses a gente conseguiu 26 mil seguidores”, contabiliza, que até teve a primeira conta hackeada. “Eu não sabia usar muito a ferramenta. Cliquei em um link errado e nossa conta foi hackeada. Aí não tinha mais porque continuar. Mas, de tanto ser incentivada, eu comecei de novo. Foi ai que explodiu”, disse ela.

É tudo sem roteiro

Lasara conta que os vídeos não têm roteiro. Apenas um tema para trollar a mãe, pois segundo ela é muito fácil gravar "mainha" em um situação engraçada naturalmente. “É tudo sem roteiro, porque é assim. Mainha e a família são pessoas que não querem levar desaforo para casa”, conta a filha, sendo interrompida pela mãe. “E tu acha que eu vou deixar de levar dinheiro pra levar desaforo?”, completa.

“Quando eu quero gravar um vídeo com ela sobre algum assunto, eu começo de manhã, instigando. Por que ela é uma pessoa que fica com raiva muito rápido”, conta Lasara vai relatando situações hipotéticas, como se fossem verdade, com Dona Raimunda se indignando facilmente. “Em tudo ela é muito extrema, qualquer coisa ela chora, qualquer coisa ela briga. Se ela for te ensinar a cozinhar e ela disser 'vira essa panela' e você não virar, já é motivo para confusão. E desaforada mas alguém de muita emoção, de coração mole”, completa.

Apesar das confusões, Dona Raimunda é uma pessoa medrosa e detesta que falem de farinha perto dela. Segundo a filha, é o que também é facilmente verificado nos vídeos: a idosa tem medo do alimento por pois ele pode ser “confundido” com cocaína, que também é conhecida popularmente como “farinha”. “Ela também tem medo das coisas. Chegou um policial aqui que disse que ela tinha uma planta ilícita, ela quase desmaiou”

Hoje Dona Raimunda mora com um filho adotivo e dois netos mais velhos, frutos do primeiro casamento de Lasara. A filha mora em uma casa próxima com o marido, um filho bebê, e está grávida esperando o segundo filho.

Segundo Dona Raimunda, durante a pandemia 2019, o objetivo maior delas era ajudar quem não tinha nada. “Se Deus eu pra mim, é pra eu ajudar quem precisa”, diz a idosa chorando e sendo amparada pela filha.

Sobre o futuro, a filha conta que tem vontade de gravar a mãe com mais pessoas, que são outros personagens reais relatados nos vídeos, como Veia Lila, Corrinha, Zefinha e Ciço da Pá Seca. “Uma das coisas que eu gostaria de fazer futuramente era realmente um filme do dia a dia dela pro povo ver como é real. Porque ela é muito espontânea”, diz a jovem.

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