Covid-19 causou excesso de óbitos maternos no primeiro ano da pandemia, aponta Fiocruz

Estudo divulgado na quinta-feira, 19, mostra que grávidas e puérperas foram mais afetadas pela Covid-19 em relação a outros grupos

10:14 | Jan. 20, 2023

Por: Luciano Cesário
Em 2020, mais de 500 grávidas morreram em decorrência da Covid-19 no Brasil (foto: Divulgação)

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nessa quinta-feira, 19, aponta que houve excesso de 40% em óbitos maternos no Brasil em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, na comparação com os anos anteriores. Ao todo foram registradas 549 mortes de gestantes em decorrência da doença. De acordo com a pesquisa, grávidas e puérperas foram mais penalizadas pela infecção respiratória do que a população em geral.

Conforme o estudo, as chances de uma gestante com Covid-19 ser hospitalizada eram 337% a mais do que outros grupos. Para internação em UTI, a probabilidade foi 73% maior e 64% mais alta nas situações em que a paciente precisou de suporte ventilatório invasivo. As mulheres negras e residentes em áreas rurais foram as mais afetadas, segundo o levantamento.

A pesquisa foi realizada com base nos dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe). Considerando a mortalidade materna dos cinco anos anteriores a 2020, o estudo aponta que o excesso médio de óbitos fica em torno de 14%.

O doutor em Saúde Pública Raphael Guimarães, um dos autores do artigo, considera que os números podem estar relacionados diretamente ao início tardio da vacinação contra a Covid-19 para grávidas e puérperas.

"O atraso da vacinação pode ter sido decisiva na maior penalização destas mulheres. Destacamos ainda que o excesso de óbitos teve a Covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao pré-Natal e condições adequadas de realização do seu parto no País”, pondera o pesquisador.

Guimarães assinala ainda que os impactos da doença foi diferente conforme os grupos sociais e demográficos das gestantes. 

Para ele, o cenário mostrado pelo diagnóstico requer estratégias de monitoramento e intervenção orientadas por perfis e demandas específicas, com foco na garantia de equidade das políticas públicas, incluindo as saúde.