Covid-19: entenda como funcionam os tratamentos com eficácia comprovada

Alguns medicamentos, como antivirais, anti-inflamatórios e anticorpos monoclonais, tiveram eficácia comprovada contra a Covid-19. Veja como funcionam

10:14 | Nov. 29, 2022

Por: Ana Rute Ramires
Liberação de venda em farmácias e hospitais particulares brasileiros do Paxlovid (foto: Divulgação / Pfizer)

O enfrentamento ao Sars-CoV-2 tornou-se um dos pontos centrais da pesquisa científica nos últimos anos, após o início da pandemia. Ao passo em que a corrida pela vacina avançou, também houve avanços na descoberta de fármacos para tratamento de casos de Covid-19. Alguns antivirais, anti-inflamatórios e anticorpos monoclonais já tiveram eficácia comprovada contra a doença.

A indicação dos medicamentos leva em consideração principalmente a gravidade do caso, o risco de agravamento do quadro e a necessidade ou não de oxigênio suplementar. Para quadros leves, ainda são recomendados anti-inflamatórios não esferoidais, como o Ibuprofeno e o Paracetamol, que são utilizados para tratar apenas os sintomas.

Casos graves e com risco de agravamento, contudo, precisam de uma intervenção maior. Para isso, são utilizados novas drogas desenvolvidas especificamente contra a Covid-19, além de medicamentos reposicionados, ou seja, que já existem e são testados para avaliar sua eficácia contra outra doença. 

Letícia Sarturi, mestre em imunologia pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em biociências e fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá e professora titular na Universidade Paulista (Unip), explica que a principal diferença entre os novos medicamentos desenvolvidos é que alguns são antivirais e outros, anticorpos monoclonais. 

"O Rendesevir, o Molnupiravir e o Paxlovid são antivirais, substâncias que vão atuar no vírus para tentar impedir a ação dele. Já os anticorpos monoclonais, no caso do Sotrovimabe e o Evusheld, atuam no próprio vírus. São semelhantes aos anticorpos que a gente produz, mas são feitos em laboratório pela indústria farmacêutica, e atuam bloqueando alguma proteína do vírus", diferencia. 

Luciana Costa, virologista e professora do Instituto de Microbiologia e do Laboratório de Genética e Imunologia das Infecções Virais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que vários grupos de pesquisa buscam moléculas que possam inibir o vírus.

"Do momento que você descobre no laboratório uma molécula com atividade contra o vírus até conseguir fazer todos os ensaios que são necessários para mostrar segurança, eficácia e justificar um ensaio clínico, demora um pouco", detalha.                   

Antivirais 

Os antivirais são utilizados para interromper a replicação viral. Leticia Sarturi detalha que o Rendesivir é um antiviral que atua com "amplo espectro", contra vários tipos de microorganismos, como Ebola, Mers e o Sars-CoV-2. Luciana Costa alerta que ele só pode ser administrado no ambiente hospitalar por ser um tratamento intravenoso.

O Paxlovid, que é uma combinação de dois fármacos de uso oral, pode ser utilizado em casa. Ele é um dos novos medicamentos desenvolvidos contra a Covid-19, assim como o Molnupiravir, destinado a pacientes não hospitalizados, mas com alto risco de progressão. 

Na semana passada, a Anvisa aprovou por unanimidade a venda do Paxlovid para farmácias e hospitais particulares do país.

Anti-inflamatórios

Dentre os anti-inflamatórios, são utilizados corticosteróides já conhecidos, como Dexametasona e Hidrocortisona. A Dexametasona é um medicamento reposicionado utilizada em casos de pacientes hospitalizados com risco de agravamento, explica Sarturi. 

Ela cita também o Baricitinibe, já utilizado para tratamento da artrite reumatoide, aprovado pela Anvisa para pacientes com Covid-19. 

Anticorpos monoclonais 

Os anticorpos monoclonais, por sua vez, interrompem a replicação viral por não permitir o vírus entrar em suas células alvo. A imunologista Letícia Sarturi expica que o Evusheld é uma profilaxia pré-exposição (procedimento preventivo, antes da exposição à uma doença) para pessoas mais vulneráveis, com imunodeficiência ou que não podem se vacinar. 

A imunologista explica que outro tipo de anticorpo monoclonal aprovado pela Anvisa para uso emergencial é o Sotrovimabe, indicado para casos de Covid de leve à moderada, mas com risco de progressão para estágio grave de uso restrito à hospitais. 

Medicamentos contra Covid-19 aprovados pela Anvisa

- Rendesivir - Uso hospitalar

O que é: antiviral injetável produzido no formato de pó para diluição, produzido pelo laboratório Gilead. A substância impede a replicação do vírus no organismo, diminuindo o processo de infecção.


Indicação:

- para o tratamento da doença causada pelo coronavírus de 2019 (Covid-19) em adultos e adolescentes (com idade igual ou superior a 12 anos e com peso corporal de, pelo menos, 40 kg). O medicamento somente será administrado para pacientes com pneumonia que precisam de oxigênio extra para ajudá-los a respirar, mas que não estejam sob ventilação artificial (quando são usados meios mecânicos para auxiliar ou substituir a respiração espontânea).

- adultos que não precisam de oxigênio extra para os ajudar a respirar e que apresentam risco aumentado de progredir para Covid-19 grave.

Aplicação: O medicamento não deve ser vendido em farmácias. É indicado para uso hospitalar, onde os pacientes podem ser devidamente monitorados pela equipe médica.

Registro concedido em 12/03/2021


- Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) - Vendido sob prescrição médica

O que é: um medicamento do tipo antiviral e de uso oral. É composto por comprimidos de nirmatrelvir e ritonavir embalados e administrados juntos.

Indicação: Paxlovid é indicado para o tratamento da Covid-19 em adultos que não requerem oxigênio suplementar e que apresentam risco aumentado de progressão para Covid-19 grave.  O medicamento deve ser administrado, assim que possível, após resultados positivos de teste viral direto de SARS-CoV-2, e no prazo de 5 dias após o início dos sintomas

Restrições de uso: O medicamento é de uso adulto, com venda sob prescrição médica.

Uso emergencial aprovado em 30/03/2022.


- Molnupiravir - Vendido sob prescrição médica

O que é: medicamento antiviral de uso oral que, nos ensaios clínicos, mostrou efeitos benéficos a pacientes adultos leves e moderados, com capacidade de reduzir os casos de hospitalização e mortes. De uso domiciliar, ele funciona de modo a reduzir as chances do vírus Sars-CoV-2 se multiplicar e reproduzir no corpo.

Indicação: O medicamento é indicado para o tratamento da Covid-19 em adultos que não requerem oxigênio suplementar e que apresentam risco aumentado de progressão da doença para casos graves e cujas opções alternativas de tratamento de Covid-19 aprovadas ou autorizadas pela Anvisa não são acessíveis ou clinicamente adequadas.

Restrições de uso: O medicamento é de uso adulto, com venda sob prescrição médica, e não é recomendado durante a gravidez, a amamentação e em mulheres que podem engravidar e que não estão usando contraceptivos eficazes. Isso porque estudos de laboratório em animais mostraram que altas doses de molnupiravir podem afetar o crescimento e o desenvolvimento do feto.

Uso emergencial aprovado em 04/05/2022.


- Baricitinibe - Uso hospitalar

O que é: inibidor seletivo e reversível das enzimas janus quinases (JAKs), em especial JAK 1 e 2, responsáveis pela comunicação das células envolvidas na hematopoese (processo de formação e desenvolvimento das células do sangue), na inflamação e na função imunológica (função de defesa do corpo).

Indicação: tratamento da Covid-19 em pacientes adultos hospitalizados que necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal, ou que necessitam de alto fluxo de oxigênio ou ventilação não invasiva.

Nova indicação aprovada em 17/09/2021.


- Sotrovimabe - Uso hospitalar

O que é: é um anticorpo monoclonal feito em laboratório que imita a capacidade do sistema imunológico de combater o vírus. Ele atua contra a proteína spike do Sars-CoV-2 e é projetado para bloquear a ligação do vírus e a sua entrada nas células humanas. A biotecnologia farmacêutica cria ainda uma barreira para a seleção de variantes resistentes e permite que o medicamento mantenha a atividade in vitro contra cepas mutantes do vírus.

Indicação: O Sotrovimabe é indicado para o tratamento de Covid-19 leve a moderada em pacientes adultos e adolescentes com 12 anos ou mais (e que pesem pelo menos 40 kg) e que estão em risco de progressão para o estágio grave da doença. O medicamento não está indicado para uso em pacientes hospitalizados, que necessitem de oxigenoterapia ou que precisem de aumento na taxa de fluxo de oxigênio basal.

Aplicação: O medicamento é de uso restrito a hospitais e não pode ser vendido em farmácias e drogarias. A dose recomendada é uma dose única de 500 mg, administrada por infusão intravenosa.

Uso emergencial aprovado em 08/09/2021.


- Evusheld® (cilgavimabe + tixagevimabe)

O que é: anticorpos monoclonais IgG1 humano recombinantes compostos por duas cadeias pesadas idênticas e duas cadeias leves idênticas.

Indicação: profilaxia antes da exposição à Covid-19, em indivíduos adultos e pediátricos (com 12 anos de idade ou mais, pesando pelo menos 40 kg): que

- não tenham tido exposição recente conhecida a um indivíduo infectado com SARS-CoV-2.

- com comprometimento imunológico moderado a grave ou em tratamento com imunossupressores ou

- para quem a vacinação não é recomendada.

Aplicação: o medicamento é composto por dois frascos, para aplicação intramuscular.

Observação: A Anvisa destaca que a profilaxia pré-exposição com Evusheld® não substitui a vacinação para indivíduos em que a vacinação contra a Covid-19 seja recomendada.

Aprovado para uso emergencial em 24/02/2022.