Como estão as medidas contra Covid pelo mundo e o que podemos aprender
Nos últimos meses, países flexibilizaram medidas contra a Covid-19. Processo ocorreu em paralelo ao surgimento e disseminação da sublinhagem BA.2 do vírusCom o arrefecimento da pandemia pelo mundo, muitos países começaram a abandonar as medidas de proteção contra a Covid-19. Liberação do uso de máscara em locais abertos e fechados. Dispensa do passaporte vacinal. Alguns até não recomendam mais o isolamento em casos de diagnóstico positivo. Certos países registraram novo aumento de casos da infecção. Para os especialistas, é difícil identificar o que causou o recrudescimento em cada caso, visto que o aumento também está associado à disseminação da nova sublinhagem BA.2.
Na Europa, por exemplo, houve uma forte onda de casos no início do ano causada pela variante Ômicron (BA.1), seguida de queda e posterior repique nas últimas semanas. No Brasil, a terceira onda foi registrada no início do ano. Com redução dos indicadores, estados começaram a afrouxar medidas. Atualmente, todos os estados desobrigaram o uso de máscara em espaços abertos. Alguns também retiraram a obrigatoriedade em locais fechados, incluindo o Ceará, desde a última sexta-feira, 15.
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"É muito complexo tentar achar o motivo da curva de casos em cada país. Cada um vai ter a sua peculiaridade. Quando a gente fala da China, a gente tem uma população muito grande que no curso da pandemia foi pouco exposta ao vírus. Por mais que tenha uma cobertura vacinal ampla, é mais baixa entre a população mais idosa. Isso junta também com a chegada de uma variante mais transmissível como a Ômicron e a sublinhagem BA.2", analisa o físico Vitor Mori, pesquisador da Universidade de Vermont, nos EUA, e integrante do Observatório Covid-19 Brasil.
De acordo com ele, é difícil colocar o "peso relativo" de todos os fatores. Ou seja, especificar em que medida o relaxamento das medidas ou a introdução da nova variante causam um novo aumento de casos em determinado local. O percentual de vacinados e a quantidade de habitantes que foram infectados previamente também interferem nesse balanço, Mori acrescenta.
O cientista de dados Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Covid-19 Brasil, compartilha da avaliação. "A história no mundo inteiro vai ficar 'mal contada'. Porque concomitantemente os países começaram a diminuir as restrições mas teve o surgimento da Ômicron. Durante esse aumento, o relaxamento das medidas se manteve", afirma.
O movimento de retirada das restrições pelo mundo vem acontecendo desde meados de fevereiro, começo de março ainda com alta circulação da Ômicron. Ele relaciona que houve repique de casos em vários países, inclusive, desses que adotaram medidas restritivas mais leves.
"O que a gente viu é que a retirada da obrigatoriedade da máscara, claro, aumenta o potencial de transmissão. Mas há muitos outros fatores. É difícil fazer relação direta", diz Mori. "É importante acompanhar a variação e reversão de tendência para se tomar medidas antes que se tenha um pico muito grande", aconselha o pesquisador.
Apesar da dificuldade em especificar a parcela de contribuição de cada fator, Airton T. Stein, professor titular de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e médico de família e comunidade do Grupo Hospitalar Conceição, salienta a relação entre o uso da máscara e a transmissão da doença.
"Como o vírus SARS-CoV-2 é transmitido por gotículas, o contato direto entre indivíduos, levou a uma maior interação entre as pessoas e consequentemente um maior número de infecções", afirma. "Em vários estudos da curva epidêmica do Covid-19 é demonstrado que com o aumento da circulação do vírus na comunidade leva a um maior número de casos, principalmente caso a vacinação completa não tem uma boa cobertura, especialmente para a variante Ômicron é essencial incentivar a população ser vacinada com três doses", alerta.
Na avaliação do professor Domingos Alves, a desobrigação do uso de máscaras principalmente em locais fechados no Brasil é precipitada. "Ainda está se morrendo bastante gente e ainda tem muitos casos. Em comparação à Europa e aos países asiáticos, que controlaram a pandemia antes, o Brasil deveria ficar esperto", compara.
Ele alerta para a falta de homogeneidade na cobertura vacinal contra a Covid-19 entre os estados. Alguns estados apresentam taxa de cobertura vacinal da segunda dose abaixo de 60%, como Maranhão, Acre, Roraima, Amapá. Os estados cuja cobertura figura entre 60% e 65%, como Alagoas, Rondônia, Amazonas e Tocantins "também não deveriam estar adotando essas medidas de relaxamento dessa maneira".
Segundo ele, há risco de repique de casos para os estados com menos de 30% da população vacinada com a terceira dose, mesmo que estejam com mais de 60% com a segunda dose. "São Paulo, que tem maior cobertura, 85% de segunda dose e 54% de terceira dose. Assim como Piauí, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Sul, que passaram de 40% da terceira dose, estão em situação melhor frente à circulação do vírus", opõe.
O professor Airton T. Stein considera a liberação do uso da máscara em locais abertos acertada e concorda que a retirada da medida em espaços fechadas é "equivocada". Ele aponta para a limitação no manejo da epidemia do Covid-19 no Brasil, que é uma vigilância genômica das variantes não abrangente.
"Em outros países, onde essa vigilância é realizada em maior número, tem a constatação do aumento da variante BA.2, que tem uma característica de ser mais transmissível". Por isso, ele considera que "é muito possível a ocorrência de um maior número de BA.2 no Brasil".
RESTRIÇÕES NOS PAÍSES
Estados Unidos
Em maio de 2021, o País deixou de exigir a proteção para pessoas vacinadas em locais públicos abertos e fechados, com exceção do transporte público. Alguns meses depois, voltaram atrás. O uso de máscaras em locais fechados foi desobrigado novamente em fevereiro de 2022, após o fim da onda de Covid-19 impulsionada pela variante Ômicron.
Inglaterra
O uso de máscaras ao ar livre foi liberado em julho de 2021 e não voltou a ser exigida após a chegada da Ômicron. No caso do uso em ambientes fechados, a proteção deixou de ser obrigatória no fim de janeiro de 2022. Domingos Alves lembra que desde meados de fevereiro, o Reino Unido (que também inclui Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) vinha anunciando diminuição das restrições e a ideia de um plano de convivência com a Covid-19, retirando o auto isolamento em casos positivos.
Portugal
Em 13 de setembro de 2021, parou de exigir máscaras ao ar livre, medida que não modificou a estabilização da curva de casos.
China
China foi o único que voltou a ter medidas restritivas mais severas. Países asiáticos como China, Coréia do Sul e outros que tinham "controlado" a pandemia anteriormente tiveram aumento importante associado à Ômicron e a sublinhagem BA.2. O repique de casos não foi acompanhado de aumento de internações.
Dinamarca
Por outro lado, Dinamarca suspendeu todas as restrições contra a Covid-19, pois consideraram que a Covid-19 não era mais socialmente crítica. Flexibilização ocorreu ainda em momento de alta de casos. Governo argumentou alta cobertura vacinal com dose de reforço e queda nas hospitalizações. Áustria e Holanda também retiraram a grande maioria das medidas restritivas.
França
Na França, o uso de máscaras também em locais fechados não é mais obrigatório desdeo fim de fevereiro, com exceção para o transporte público.
Espanha
País desobrigou o uso de máscaras ao ar livre pela primeira vez em maio de 2020. Em junho de 2021, a medida foi suspensa, mas retornou antes do Natal de 2021, com a chegada da Ômicron. Com a melhora dos indicadores, a Espanha desobrigou a medida em público novamente em fevereiro.