Flexibilização: quando é seguro tirar a máscara em ambientes abertos?

Uso de máscara continua obrigatório em ambientes abertos e fechados no Ceará. Há tendência de liberação em locais abertos pelo Governo do Estado a partir da próxima semana

Com a sinalização de que o Estado pode flexibilizar o uso obrigatório de máscaras em ambientes abertos, aumenta a discussão sobre qual deve ser a conduta adotada por cada cidadão. A despeito de deliberações governamentais, o vírus da Covid-19 continua circulando, ainda que em taxa consideravelmente menor no Ceará. O uso de máscara continua sendo mais seguro do que estar sem a proteção. E ambientes abertos são mais seguros do que os fechados. Contudo, conforme especialistas, há diferenças entre os locais abertos e a liberação não é indicada em todos as circunstâncias.

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Com a desobrigação do uso pelo governo, a decisão ganha caráter mais individual. Segundo o infectologista Guilherme Henn, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia, médico do Hospital São José e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Estado passa por um contexto favorável com relação à Covid-19.

"Provavelmente, é seguro neste momento flexibilizar em locais abertos. Contudo, é importante lembrar alguns pontos. A Covid-19 não desapareceu, a pandemia não acabou, continuamos observando as variantes", afirma. Ele é contra "liberar geral", com desobrigação também em locais fechados, como feito em Brasília.  

Aglomerações em locais abertos 

 

A epidemiologista Lígia Kerr, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), destaca a importância de se levar em conta o distanciamento entre as pessoas nesses locais.

"Quando você está em um ambiente aberto muito próximo de uma pessoa, em um ponto de ônibus, no estádio, é muito difícil dizer que você está em um ambiente aberto protegido", alertou, em entrevista à rádio O POVO CBN. No caso de estádios e shows, por exemplo a pesquisadora é contra a liberação, levando em conta também o comportamento dos indivíduos. 

"Em estádio, você tem uma proximidade muito grande. As pessoas gritando. O momento em que nós mais eliminamos o vírus, se estivermos infectados, é quando cantamos, gritamos. Mais do que falar em um tom mais baixo. São gradações de eliminação do vírus. Imagine em um estádio, em um show, as pessoas gritando animadas. Em uma proximidade de 30 cm, 40 cm um com o outro?", explica.

Henn também é contra liberação em aglomerações, como shows. "Em um local muito aberto, em que o contato mais próximo, de 1,5 metro, é com número pequeno de pessoas, como praia, praça, não teria problema não usar a máscara", avalia o infectologista. 

Ele salienta que pessoas de maior risco, como com comorbidades e idade mais avançada, não devem deixar de usar máscara mesmo em lugares abertos. "As pessoas que não fazem parte dos grupos de risco e querem continuar usando mesmo em locais liberados, não devem ser criticadas e, sim incentivadas. É uma opção. Se quiser usar, ótimo para ela e para as outras pessoas", defende Henn.

Sensação de que a pandemia acabou

A antropóloga Beatriz Klimeck, mestre e doutoranda em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), é contra a liberação. A posição, entretanto, não tem relação com a forma de contágio. "A liberação envia uma mensagem. Quando você envia uma mensagem de que não tem mais necessidade e associa isso com o fim da pandemia, que é o que muitos estão fazendo, a gente vê, de fato, um problema", afirma. 

De acordo com a antropóloga, isso é preocupante pois faz parte de um processo. "Então, começa em um lugar aberto e depois vai para um lugar fechado. É complicado. Costuma ser o próximo passo, é preciso muita cautela", alerta a pesquisadora, que mantém o perfil @qualmascara, no Twitter.

Klimeck detalha que, quando se fala em risco, nada é 100% seguro, mas ela lembra que o melhor lugar continua sendo um espaço aberto com distanciamento de 1,5 metro de outras pessoas. Ela também defende que principalmente os espaços onde a distância entre os rostos é muito pequena devem manter o uso de máscara, como shows e festivais.

Alerta em outros países

Kerr destaca ainda a situação na Europa e na Ásia, que vivem aumento de casos preocupante. Recrudescimento tem sido associado à liberação de diversas medidas contra o vírus, bem como ao avanço da sub-linhagem BA.2 da Ômicron. "Grande parte dos países que abriu para aglomerações e máscaras estão tendo rebote com um aumento incrível. Áustria, Alemanha, França, Reino Unido", cita.

Henn corrobora que, mesmo que haja flexibilização, "existe a possibilidade de andar pra trás e voltar a ter um rigor maior com uso de máscaras em locais abertos em um futuro próximo a depender da pandemia".

A epidemiologista frisa contexto de excessos dos países que "voltaram ao normal", com aglomerações e liberações. "É frustrante que a gente não consiga segurar um pouco mais as medidas até que a gente tenha uma verdadeira compreensão do que está acontecendo e do comportamento", diz.

 

 

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