Com medidas anticovid, Boris Johnson fica ameaçado por rebelião conservadora

O governo de Johnson foi muito criticado pela gestão errática no início da atual crise sanitária

Cada vez mais enfraquecido politicamente, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu suas medidas anticovid nesta quarta-feira, 15, depois de ver sua liderança ameaçada pela rebelião de mais de 25% da bancada conservadora e antes de um possível revés eleitoral fatal.

Em uma votação na terça-feira à noite, 99 dos 361 deputados do Partido Conservador se posicionaram contra a obrigatoriedade do passaporte sanitário para entrar em grandes eventos, como estádios de futebol, ou casas noturnas.

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Esta e outras medidas do governo destinadas a frear o rápido avanço da variante ômicron do coronavírus foram aprovadas, graças ao apoio da oposição trabalhista, que alegou defender o "interesse nacional".

Mas esta foi a maior rebelião interna contra Johnson desde sua chegada ao poder em 2019 e um duro revés para sua legitimidade.

"Respeito e compreendo as legítimas preocupações de meus colegas sobre as restrições a sua liberdade", afirmou o primeiro-ministro nesta quarta-feira, durante a sessão semanal de perguntas no Parlamento.

"Mas acredito que a abordagem que estamos adotando é equilibrada, proporcional e correta", defendeu.

"Seus deputados se equivocam ao votar contra medidas básicas de saúde pública, mas não se enganam ao desconfiar dele", declarou o líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, para quem Johnson está "muito enfraquecido para liderar".

Na opinião do conservador Mark Harper, a inesperada magnitude da rebelião - muito acima dos 60 votos contra inicialmente esperados - "foi uma mensagem muito clara de que os colegas (de partido) não estão felizes com a forma como o governo está agindo neste momento".

E, se continuar assim, Johnson poderá seguir os passos de sua antecessora Theresa May, vítima de uma crescente rebelião em 2019 por seu acordo do Brexit. O movimento acabou resultando em uma moção de censura interna e em sua renúncia.

"O Partido Conservador sempre foi muito implacável na hora de abrir mão de líderes que não funcionam", recordou à AFP o analista político Robin Pettitt.

O ministro dos Transportes, Grant Shapps, tentou minimizar o cenário.

"No Parlamento, acontece todo o tipo de coisa. Governar é difícil, especialmente com algo como o coronavírus. Não há um livro didático. Não há um manual, com o qual trabalhar. E vocês sabem que este governo fez algumas coisas com o coronavírus, em que não acertamos, e outras, em que acertamos em cheio, como o programa de vacinação", declarou ao canal Sky News.

Em um dos países mais afetados da Europa pela pandemia, com mais de 146.600 mortes confirmadas por covid-19, o governo de Johnson foi muito criticado pela gestão errática no início da atual crise sanitária.

Agora, o Reino Unido, com 68 milhões de habitantes, observa a rápida propagação da nova variante ômicron, ainda mais contagiosa.

De acordo com o ministro da Saúde, Sajid Javid, a ômicron estaria infectando quase 200.000 pessoas por dia, mas o número de novos casos detectados na terça-feira foi oficialmente de 59.610.

Para evitar o colapso dos hospitais, o Executivo anunciou a missão gigantesca de oferecer uma dose de reforço da vacina anticovid para todos os adultos até o fim do ano.

Isto significa um milhão de injeções por dia, um grande desafio logístico. Mas Johnson viu sua popularidade disparar com o sucesso da primeira campanha de vacinação e espera repetir a proeza agora, em um momento de fragilidade por escândalos como as supostas festas de Natal em Downing Street no fim de 2020, quando tais encontros estavam proibidos pela pandemia, e as acusações de clientelismo e corrupção.

Recentemente, o primeiro-ministro provocou indignação, ao tentar mudar as normas parlamentares para ajudar o deputado conservador Owen Paterson. Este último pressionou membros do governo para defender os interesses de duas empresas para as quais atuava com consultor remunerado.

Na quinta-feira, a localidade de North Shropshire organizará eleições legislativas parciais para preencher a vaga de Paterson, que renunciou. O país inteiro está de olho no destino desta pequena circunscrição rural do centro da Inglaterra.

Caso os conservadores sejam derrotados neste reduto tradicional, em uma corrida eleitoral que se tornou um plebiscito sobre a gestão de Johnson, esta pode ser a gota d'água do descontentamento interno.

 

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