Boris Johnson enfrenta rebelião conservadora no Parlamento sobre variante ômicron

Para garantir que os hospitais não entrem em colapso, o país deve adotar o uso de máscara em locais fechados, testes diários para os casos de contato, o teletrabalho e a obrigatoriedade do passaporte sanitário nos grandes eventos.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se expõe nesta terça-feira, 14, à revolta dos deputados de seu Partido Conservador em uma votação de alto risco no Parlamento sobre as novas medidas para combater a variante ômicron do coronavírus.

O chefe de Governo anunciou na semana passada novas restrições para limitar a propagação do vírus no momento em que o Reino Unido, um dos países mais afetados da Europa pela pandemia de covid-19 com quase 146.500 mortos, enfrenta uma "forte onda" de casos pela variante ômicron.

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De acordo com o governo, para garantir que os hospitais não entrem em colapso nas próximas semanas, o país deve adotar o uso de máscara em locais fechados, testes diários para os casos de contato, o teletrabalho e a obrigatoriedade do passaporte sanitário nos grandes eventos.

"O governo deve fazer o que razoavelmente acredita ser o correto para o interesse do país. Acredito que são medidas proporcionais, junto ao aumento significativo dos esforços para oferecer a dose de reforço a todos os adultos até o fim do ano", destacou o vice-primeiro-ministro Dominic Raab ao canal Sky News, antes de descartar mais restrições no momento.

Mas as normas não convencem muitos deputados conservadores e alguns criticam o caráter liberticida das medidas.

"Considero que todas estas medidas são equivocadas, desproporcionais e não há evidências suficientes de que são necessárias", declarou no fim de semana o ex-ministro para o Brexit Steve Baker.

Quase 60 conservadores ameaçam organizar uma rebelião.

Com sua ampla maioria no Parlamento - de 80 cadeiras - e a ajuda da oposição, o governo deve conseguir a aprovação do texto, mas a revolta pode afetar o governo Johnson.

 


Dois anos após sua vitória eleitoral histórica com a promessa do Brexit, o primeiro-ministro observa a queda expressiva de sua popularidade e enfrenta vários pedidos de renúncia desde a semana passada, motivados por uma série de escândalos.

O jornal Sunday Mirror publicou uma fotografia de Johnson participando de um concurso online em Downing Street, cercado por funcionários, em dezembro de 2020, quando os britânicos foram obrigados a limitar drasticamente suas interações sociais.

Os britânicos também culpam Boris Johnson por uma festa que supostamente aconteceu em Downing Street em 18 de dezembro de 2020, período em que o país estava privado de celebrações natalinas devido à pandemia de coronavírus.

Um vídeo que vazou para a imprensa e no qual auxiliares de Johnson fazem piada sobre a suposta festa de Natal proibida jogou mais lenha na fogueira.

As revelações afetaram a credibilidade do primeiro-ministro no momento em que pretende impor novas restrições.

E se somam a várias acusações de corrupção que podem resultar em uma moção de censura contra Johnson pelo Partido Conservador.

O primeiro-ministro foi advertido na quinta-feira sobre a cara reforma de sua residência oficial em Downing Street, com uma multa para seu partido de 16.250 libras (21.500 dólares) por não ter declarado o valor total da doação privada recebida para financiar as obras.

Johnson também provocou indignação ao tentar mudar as normas parlamentares para ajudar um deputado conservador, Owen Paterson, condenado por pressionar membros do governo para defender duas empresas para as quais atuava com consultor remunerado.

Na quinta-feira, a Inglaterra terá eleições legislativas parciais para preencher a vaga de Paterson, que renunciou, em uma votação de caráter altamente simbólico.

Mas estas não são as únicas ameaças contra Johnson: muitos questionam suas férias luxuosas no exterior, os perigosos vínculos de seu governo com algumas empresas e as acusações de clientelismo pela designação de cadeiras na Câmara dos Lordes - a Câmara Alta do Parlamento britânico, cujos membros não são eleitos em votação, mas nomeados pelo governo - a generosos doadores do Partido Conservador.

De acordo com o colunista político Robin Pettitt, o talento de Johnson - ex-jornalista e ex-prefeito de Londres conhecido por seu estilo nada convencional - para o escapismo político pode ajudá-lo a escapar de um ou dois escândalos.

Mas se o acúmulo de problemas continuar, "o Partido Conservador sempre foi muito implacável na hora de afastar os líderes que não funcionam", destacou o analista à AFP.

 

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