O que se sabe sobre a nova variante ômicron do coronavírus

Nova cepa da covid-19 foi declarada "variante de preocupação" pela OMS. Possivelmente mais contagiosa, ela pode dificultar a reação do sistema imunológico. Vários países impõem restrições de viagem ao sul da África

00:01 | Nov. 27, 2021

Por: DW
Passageiros de voos da África do Sul que testaram positivo para Covid-19 transportados para hotel onde ficarão em quarentena em Amsterdã, nos Países Baixos (foto: Laurens Bosch / ANP / AFP)

Onde foi detectada a nova variante do coronavírus?

A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. Neste país, os registros ocorreram principalmente nas cidades de Joanesburgo e Pretória, na província de Gauteng, onde a incidência da covid-19 está bastante alta. Cientistas estimam que até 90% dos novos casos de coronavírus em Gauteng estejam associados à variante ômicron. Eles acreditam ainda que a cepa já se espalhou para outras oito províncias sul-africanas. Até o momento, foram confirmados ao menos três casos da nova variante em outras partes do mundo. Um viajante da África do Sul foi diagnosticado com a variante em Hong Kong, bem como outra pessoa em Israel que havia retornado do Malaui. Há ainda um caso na Bélgica, o primeiro registrado na Europa. Trata-se de uma jovem não vacinada que testou positivo 11 dias depois de sua chegada do Egito, para onde viajou através da Turquia. Até o momento, não há qualquer conexão entre a infectada e a África do Sul.

O quanto a nova variante é perigosa?

Até o momento, não existem dados epidemiológicos sólidos e suficientes para avaliar o quanto a nova variante é infecciosa. A preocupação dos pesquisadores é com o fato de ela demonstrar um número extremamente alto de mutações do coronavírus. Eles encontraram 32 mutações na chamada proteína "spike". Na variante delta, considerada altamente infecciosa, foram encontradas oito mutações. Ao mesmo tempo em que o número dessas proteínas não é uma indicação exata do quão perigosa a variante pode ser, isso sugere que o sistema imunológico humano pode ter maior dificuldade em combater a nova variante. Há indicações de que a ômicron possa escapar das respostas imunológicas, gerando riscos mais altos para as pessoas. Entretanto, as infecções com a nova variante podem não ser mais graves do que as anteriores. Há ainda sinais de que ela se espalhe mais rapidamente, o que pode gerar novas sobrecargas aos sistemas de saúde dos países atingidos.

Como reagiu a OMS?

A África do Sul pediu uma reunião de emergência com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para discutir o tema. Nesta sexta-feira, o Grupo de Consultoria Técnica da OMS declarou a B1.1.529 como "variante de preocupação" (variant of concern – VOC) e a nomeou de ômicron, seguindo a tendência de batizar as variantes do coronavírus Sars-Cov-2 com letras do alfabeto grego. Como a nova variante se desenvolveu? Uma teoria é que ela tenha emergido com todas as suas mutações de uma única vez. O professor Francois Balloux, especialista em sistemas biológicos computacionais da University College de Londres, afirmou que é possível que o vírus tenha mutado durante uma infecção crônica em um indivíduo, cujo sistema imunológico estivesse já enfraquecido por outra infecção com o vírus HIV. Mas, até o momento, isso é somente especulação.

Há alguma conexão com a variante beta?

Em todo o continente africano, a África do Sul foi o país mais atingido pelo coronavírus, com mais de 3 milhões de casos de covid-19 e em torno de 90 mil mortes em decorrência do vírus. O alto número de mortes no país é atribuído à variante C.1.2, batizada de beta, qualificada pela OMS como variante de preocupação por causa da alta transmissibilidade e por ser mais resistente às vacinas. Mas a variante delta, mais agressiva, superou de longe a beta na África do Sul, assim como no resto do mundo.

É possível deter a nova variante?

Os vírus e suas variantes não respeitam fronteiras nacionais. Mas é possível retardar a disseminação da nova variante. Como os casos detectados em Hong Kong e Israel foram rastreados até a África do Sul,muitos governos suspenderam voos vindos do país e de parte do continente africano. Foi o caso de várias nações da Europa e da Ásia, e outras devem seguir a mesma tendência. As restrições de viagem podem ajudar a diminuir as transmissões, mas, uma vez que os primeiros casos em Botsuana foram detectados em meados de novembro, é possível que a ômicron já tenha sido transportada para vários outros países.

Autor: Alexander Freund, Roberto Crescenti