Londres cometeu 'erros graves' na gestão da pandemia, diz relatório do Parlamento
Um contundente relatório do Parlamento do Reino Unido publicado nesta terça-feira, 12, acusa o governo de Boris Johnson e seus assessores científicos de "erros graves" e atrasos na gestão inicial da pandemia, denunciando "um dos maiores fracassos da saúde pública" do país.
O documento, publicado por duas comissões parlamentares após meses de sessões, chega antes do início, previsto para o próximo ano, de uma investigação pública independente sobre a gestão do coronavírus pelo Poder Executivo.
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Em suas 151 páginas, explica como, em um primeiro momento, a ação contra a covid-19 foi estabelecida com base no comportamento do vírus da gripe e desconsiderando as lições aprendidas em epidemias anteriores, como o ebola e o SARS.
Assim, o governo "deliberadamente" adotou uma "estratégia gradual e progressiva", ao invés de medidas contundentes.
Está decisão "ruim" foi motivada pelos conselhos dos assessores científicos, segundo a investigação, elaborada com a participação dos diferentes partidos, inclusive os conservadores que estão no poder.
Com 138 mil mortes, o Reino Unido é um dos países mais atingidos da Europa pela covid-19, o que suscitou muitos questionamentos sobre as razões disso.
Com base em uma grande campanha de vacinação, com 78% dos maiores de 12 anos atualmente inoculados, em julho foram suspensas, quase em sua totalidade, as medidas sanitárias, inclusive o uso de máscaras em ambientes fechados e o distanciamento social.
Hoje, o Reino Unido registra cerca de 35 mil novos casos diários e em torno de 100 mortes por dia.
De acordo com o relatório, até a imposição do primeiro confinamento, em 23 de março de 2020, o governo "apenas tentou moderar a velocidade dos contágios" entre a população, ao invés de interromper completamente a propagação da covid-19.
Segundo os legisladores, a estratégia foi "equivocada" e provocou um número maior de mortes. Além disso, os políticos ressaltam que é "assombroso" o fato de o governo ter precisado de tanto tempo para perceber que era necessário um confinamento completo.
"As decisões relativas ao confinamento e ao distanciamento social tomadas nas primeiras semanas da pandemia - e os conselhos que resultaram nelas - constituem um dos maiores fracassos na história da saúde pública no Reino Unido", afirmam os parlamentares.
Não obstante, o documento também elogia alguns "grandes sucessos", como o programa de vacinação que se desenvolveu rapidamente a partir de 8 de dezembro.
"É essencial tirar lições para ser o mais competente possível no resto da pandemia e no futuro", afirmaram os presidentes das duas comissões, Jeremy Hunt e Greg Clark, em uma declaração conjunta.
O premiê Boris Johnson anunciou em maio que uma investigação independente avaliará a atuação de seu governo "com o maior rigor e franqueza possíveis, buscando aprender todas as lições para o futuro".
Mas rejeitou que a mesma começasse antes do segundo trimestre de 2022, argumentando que a investigação poderia atrapalhar a resposta que o país está dando à pandemia.
Em resposta ao relatório parlamentar, o ministro Steve Barclay, responsável por coordenar a ação governamental, afirmou à emissora Sky News que "existem sim lições a aprender", mas se negou a pedir desculpas e insistiu que o Executivo seguiu o assessoramento científico predominante.
"Creio que houve um debate rigoroso do governo com a ciência, mas, certamente, [a pandemia de covid-19] era algo sem precedentes, assim que foi uma situação em desenvolvimento para os próprios cientistas", frisou.