Covid: taxa de positividade de exames é a menor desde o início da pandemia no Ceará

Epidemiologista alerta que cuidados devem ser mantidos, especialmente devido à transmissão comunitária da variante Delta, que apresenta maior carga viral e costuma provocar sintomas mais leves

21:24 | Set. 23, 2021

Por: Leonardo Maia
Positividade de testes em Fortaleza tem apresentado índices ainda menores quando comparados ao Ceará (foto: FABIO LIMA)

O Ceará tem atingido taxas de positividades de exames de Covid-19 cada vez menores nas últimas semanas, conforme apontam dados do IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Há pelo menos três meses, é possível observar a estatística caindo — de 27,72% no fim de junho para 4,72% na última semana epidemiológica, entre os dias 12 e 18 de setembro.

Neste último período, 22 dos 531 exames realizados no Estado tiveram resultado positivo. Na semana anterior, com resultado de mais de cinco mil testes já divulgados, a porcentagem de positividade ficou em 6,72%. Quando trata-se apenas de Fortaleza, os índices são ainda menores: foram 103 resultados positivos (3,75%) de 2.747 exames realizados entre os dias 5 e 11 de setembro.

É possível ainda acompanhar uma diminuição da quantidade de testes realizados, passando de quase 50 mil no ponto mais crítico da pandemia para cerca de 16 mil nas últimas semanas. A mudança pode estar relacionada à redução do número de pessoas com sintomas graves e a consequente menor procura de pacientes suspeitos da doença para realização de um diagnóstico. Inclusive, essa é uma característica apresentada pela variante Delta, transmitida de forma comunitária no Estado.

Dados divulgados em boletim epidemiológico da Sesa na última sexta-feira, 16, também reforçam que o Ceará passa por uma redução nos indicadores. Em relação à média móvel de mortes, agosto registrou uma redução de 80,9% quando comparado a julho. Números parciais de setembro também indicam uma diminuição, embora a pasta alerte que o atraso na digitação dos casos e óbitos nos sistemas oficiais pode comprometer a análise.

Cenário atual ainda exige cuidados, alerta epidemiologista

Mesmo com esses indicadores, a médica epidemiologista Ligia Kerr, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), enfatiza que o momento da pandemia ainda exige cuidado. Ela pondera que a introdução da variante Delta, cuja carga viral é ainda maior que outras variantes, em outros estados brasileiros resultou no aumento de casos e o mesmo pode acontecer no Ceará, se os cuidados não forem mantidos.

Kerr argumenta que o futuro da doença é incerto e a análise dos números da pandemia precisa ser abrangente e minuciosa. Ela citou, por exemplo, o recente aumento do número de internações pediátricas no Estado, que contrariam a queda da ocupação dos leitos de adultos. Conforme dados desta quinta-feira, a ocupação de UTIs infantis atingiu 66,3%, enquanto as UTIs para adultos permanecem abaixo de 30%.

“Não existe nenhum indicador único que dê uma visão do que está acontecendo, não se deve centrar apenas em um. Precisamos observar mais coisas para ter uma visão do que tá acontecendo”, detalha a pesquisadora. Sobre a menor disponibilidade de UTIs pediátricas, ela exemplifica que é preciso entender o porquê isso está acontecendo. “Será que houve redução na oferta de leitos? É preciso analisar os detalhes”, ressaltou.

Vacinação

O andamento da vacinação no Estado, inclusive com recebimento de doses que garantirão a imunização de toda a população adulta, é uma das razões para que os indicadores sigam caindo, conforme a pesquisadora. Até esta quarta-feira, já são 3.300.709 cearenses que completaram o esquema vacinal da Covid-19, de acordo com o vacinômetro da Sesa. O número é equivalente a 35,71% da população do Estado, conforme projeção do IBGE para 2021.

Outro fator que a especialista aponta para a manutenção dos índices é a continuação dos cuidados, como o uso de máscaras. “A chance de um espalhamento descontrolado não acaba, mas é menos possível com os cuidados”, explica. Ela insiste que ainda não é hora de fazer uma flexibilização mais ampla, com o aumento do número de pessoas em eventos sociais e a liberação de público em estádios. “É essencial evitar aglomerações e não sair quando for desnecessário”, aponta.

“É muito provável que depois dessa queda a gente tenha um aumento. Nós não sabemos o quanto a Delta consegue brigar com a imunidade deixada pela P1 (variante que surgiu no ano passado na cidade de Manaus) e com os efeitos da vacinação”, argumenta Kerr. “Essa é uma variante perigosa, não sabemos exatamente o que vai acontecer. É difícil, lidamos com um vírus que nos prega surpresas”, enfatizou.