Fiocruz rebate informação de que Gama-plus é mais grave e diz que sublinhagem já havia sido catalogada

Pesquisador da Rede Genômica da Fiocruz Ceará diz que a sublinhagem é identificada oficialmente como P.1.7. e que centenas de mutações do coronavírus já foram catalogadas. Contudo, não são necessariamente mais graves

22:14 | Ago. 13, 2021

Por: Ana Rute Ramires
A África do Sul foi o primeiro país a detectar a variante Beta, uma de quatro variantes classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "variantes de preocupação". (foto: reprodução)

Após pesquisadores do Genov, do grupo de medicina diagnóstica Dasa, divulgarem relatório sobre a identificação de uma variante denominada Gama-plus, a Fiocruz rebateu as informações. Conforme a instituição, há centenas de subvariantes já catalogadas mas não há confirmação de que a mutação citada seja mais transmissível ou agressiva. Segundo Fabio Miyajima, pesquisador da Rede Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Ceará), a sublinhagem é identificada como P.1.7.

O pesquisador afirma que existem centenas de mutações dessa sequência já identificadas e notificadas. "Mas não implica necessariamente em dizer que é mais agressiva ou que pode causar mais casos. Pode ser uma modificação no vírus sem causar um impacto. É necessário fazer a vigilância genômica porque o vírus está sempre mudando", explica.

Conforme o Genov, a Gama-plus seria uma variação da Gama — ou P1, inicialmente identificada em Manaus — com características convergentes com a Delta — originalmente encontrada na Índia. Na análise do grupo, a variante teria uma alteração genética em uma região nobre (a posição 681), no chamado "sítio de furina", que condiciona a velocidade com que o vírus entra nas células humanas.

Descoberta teria sido obtida após análise de 502 amostras colhidas em maio de brasileiros infectados pelo Sars-CoV-2. A variação teria sido encontrada em 11 amostras, sendo uma no Ceará. 

Por outro lado, Miyajima afirma que a identificação da sublinhagem foi realizada pela Fiocruz e não pelo grupo Genov. Ele critica o uso de "termos sensacionalistas como o 'plus'", justificando que "causam uma interpretação errada para os leigos". "Essa mutação P681H não é uma mutação presente na variante Delta, mas sim na variante Alfa, a britânica", contrapõe.

O pesquisador da Fiocruz detalha que existe uma tendência de as mutações convergirem nos mesmos pontos pela necessidade de adaptação. "Todos os vírus Sars-Cov-2 têm um ancestral comum e vão evoluindo, criando novos galhos, se ramificando. Surgem variantes que oferecem uma vantagem seletiva, mais competentes porque aumentam a taxa de circulação, de se expandirem. Tal qual ocorreu com todas as variantes de preocupação, que a OMS só reconhece quatro (Alfa, Beta, Gama, Delta)", diz.

Quando isso ocorre, a mutação domina as outras, se torna mais transmissível, mais patogênica, atravessa fronteiras dos países e causa regressão, com aumento de casos e internações. 

O que diz o grupo Genov

Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, a Rede Dasa, da qual o grupo Genov faz parte, diz que a Gama-plus (P681H) é uma variante Gama (P.1) com uma mutação adicional associada a uma modificação importante na função biológica do vírus Sars-CoV-2. Tal mutação foi descrita primeiramente em publicação da Fiocruz, em 3 de julho de 2021.

Grupo diz que a "denominação 'plus' tem sido utilizada consensualmente em todo o mundo pela comunidade científica para nomear mutações em posições relevantes do genoma do vírus, a exemplo do que acontece com a Alpha-plus, Delta-plus". 

Rede acrescentou ainda que "o relatório do projeto não atribui maior gravidade à mutação P681H. A vigilância genômica é uma importante ferramenta para o enfrentamento da pandemia e o controle da crise sanitária global".