Empresa responsável por venda da Covaxin ganhou R$ 9,5 mi com doses que não foram entregues

A Precisa Medicamentos realizou a negociação do imunizante com 59 clínicas privadas, mas unidades não receberam as doses até o prazo estipulado em contrato

18:02 | Jul. 21, 2021

Por: Redação O POVO
Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 investiga a Precisa Medicamentos, empresa que representa a Bharat Biotech no Brasil e que teria feito intermediação nas negociações para compra da vacina Covaxin (foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Documentos obtidos pela CPI da Covid revelam que a empresa Precisa Medicamentos, responsável pela venda da vacina indiana Covaxin ao Ministério da Saúde, vendeu o imunizante a 59 clínicas privadas no início deste ano- arrecadando, no mínimo, R$ 9,5 milhões. Contudo, as entidades que fizeram a compra não receberam a vacina e algumas buscam o ressarcimento do contrato. Informações são do jornal O GLOBO.

Todas as clínicas que fizeram a compra deram a empresa um adiantamento de 10% do valor negociado. Foi estabelecido em contrato que as doses seriam entregues até o final de abril, mas o prazo expirou e o tratado não foi cumprido. Isso porque o produto indiano ainda não foi aprovado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Congresso não permitiu a vacinação contra Covid-19 em clínicas privadas.

A Precisa teria realizado a oferta do imunizante para essas clínicas no período entre o fim de 2020 e fevereiro deste ano. Ou seja, as negociatas ocorreram antes do contrato firmado pela empresa com o Ministério da Saúde, quando a pasta comprou 20 milhões de doses da Covaxin por R$ 1,6 bilhão, mas não chegou a receber o produto. O contrato foi suspenso e virou alvo de investigação da CPI da Covid.

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Segundo documento, o menor preço estabelecido pela Precisa às empresas privadas foi de US$ 32,71 para compras acima de 100 mil doses. Esse valor seria o equivalente ao dobro pago pelo Ministério, de US$ 15. Na época da negociação com a pasta de saúde, havia a expectativa de que o Congresso aprovasse um projeto de doação de 50% das doses compradas de forma privada, que resultaria na duplicação do valor.

Cerca de 30 empresas teriam ainda optado pela compra de um quantitativo mínimo, que vai de 2 mil até 7,2 mil doses, pagando cerca de US$ 40,78. A reportagem do O Globo teve ainda acesso aos contratos firmados com as clínicas. Nos documentos, era previsto que as clínicas dessem um adiantamento de 10% e, após aprovação da Anvisa, fosse realizado outro de 20%. O valor restante seria pago na entrega das doses.

Clínicas foram à justiça

Pelo documento contratual, se os imunizantes não fossem entregues até o prazo estipulado os compradores poderiam solicitar a devolução do valor que havia sido antecipado. No entanto, empresários contaram que a Precisa chegou a fazer reuniões prometendo a entrega das doses, mas nunca cumpriu com o prometido.

Foram localizadas apenas três devoluções de pagamentos para as clínicas, equivalente a R$ 147 mil. Duas unidades processaram a empresa, sendo elas a Clínica de Vacinas MDC e a Alliar. As instituições solicitaram o reembolso no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), mas a Precisa se recusou a pagar.

Por outro lado, há empresários que ainda aguardam pela entrega, como Bruno Renato Filho, da BRL Distribuidora de Vacinas. Ele realizou a negociata com o intuito de revender os imunizantes para as clínicas e afirmou que não solicitaria o dinheiro de volta, ficando no aguardo da entrega ainda. A reportagem do O Globo entrou em contato com a Precisa mas a empresa não quis se pronunciar.