O que se sabe sobre o caso das vacinas vencidas

Por enquanto, explicações das prefeituras e análises de jornalistas e cientistas de dados indicam que há maior probabilidade de erro no cadastramento dos dados do Ministério da Saúde. Ainda é cedo para afirmar que 26 mil doses vencidas foram, de fato, aplicadas

Nessa sexta-feira, 2 de julho, o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem na qual indica que cerca de 26 mil doses da AstraZeneca fora da validade teriam sido aplicadas em 1.532 municípios do Brasil - 710 delas no Ceará. O jornal chegou à conclusão após cruzamento e análise de dados do DataSUS, base de registros de dados do Ministério da Saúde (MS), e do sistema Sala de Apoio à Gestão Estratégica, também do governo federal.

No entanto, após publicação da matéria, diversas prefeituras lançaram nota negando a aplicação de doses vencidas. Em Fortaleza, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirmou que pode ter ocorrido "inconsistência no sistema ou erro de digitação". De acordo com a pasta, a partir do recebimento da vacina em Fortaleza, a Rede de Frio Municipal não armazena as doses "por longo período", o que inviabiliza a aplicação após a data limite.

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Ainda, o Conselho Nacional de Secretarias da Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) publicaram nota reforçando que todos os casos de vacinas fora do prazo estão sendo investigados, mas que não descartam erro no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações.

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O que aconteceu?

Além das notas oficiais emitidas pelas prefeituras, jornalistas e cientistas de dados investigaram as bases de dados utilizadas pela reportagem. O jornalista Rodrigo Menegat — o mesmo acusado pela médica Mayra Pinheiro de hackear o site do MS — analisou os dados referentes à Maringá (PR), cidade que mais teria vacinado com imunizantes vencidos.

Primeiro, Menegat visualizou o padrão de vacinação da cidade. Nos dias 22 e 23 de abril de 2021, Maringá teria aplicado cem mil doses de vacina; o equivalente a cerca de 25% do total da população. “É altamente improvável que algo assim tenha ocorrido”, comenta no Twitter. Coincidentemente, são nesses dias - e no dia 26 do mesmo mês — que as vacinas vencidas teriam sido aplicadas.


A partir disso, o jornalista entende que há mais possibilidades de ser um erro de registro dos dados. Essa é a mesma hipótese de Marcelo Oliveira, cientista de dados do Grupo Infovid, grupo que divulga informações científicas sobre a Covid-19.

“Uma coisa que aprendi nesse mais de um ano mexendo com dados da pandemia, é que não se pode confiar cegamente neles, pois são alimentados por humanos e faltam validações, padrões, têm erros de medição, etc”, registrar Marcelo, também no Twitter.

— Marcelo Oliveira (@Capyvara) July 2, 2021


Então, qual o problema?

O principal problema identificado pelos jornalistas, inclusive pela reportagem da Folha, é a quantidade de erros nas bases de dados do Ministério da Saúde. Afinal, se os dados não condizem à realidade, significa que o País segue às cegas no combate à Covid-19: sem dados fidedignos, a execução de políticas públicas é prejudicada.

Mas ainda é cedo para afirmar que o público foi vacinado com doses vencidas.

Por outro lado, se as vacinações atrasadas realmente tiverem acontecido, médicos imunologistas reforçam que uma dose vencida não faz mal à saúde e que basta reaplicar a dose perdida. Nesse caso, o problema é que a dose vencida não concede imunização e que o Brasil tem doses escassas.

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