Brasil atuou 84 vezes para compra de medicamento sem eficácia contra Covid

Telegramas indicam que diplomacia brasileira atuou junto a Índia e Estados Unidos

15:12 | Jun. 20, 2021

Por: Carlos Viana
A maior parte da comunicação foi feita à Índia, com o objetivo de garantir insumos necessários para a fabricação do medicamento, que não tem eficácia comprovada para combater o novo coronavírus (foto: Yuri Cortez / AFP)

O Governo Federal atuou 84 vezes no exterior para adquirir insumos para a produção de hidroxicloroquina durante a pandemia do covid-19. É o que apontam telegramas do Ministério das Relações Exteriores, obtidos pela CPI do Senado que investiga possíveis omissões do governo para combater o avanço da doença.

A maior parte da comunicação foi feita à Índia, com o objetivo de garantir insumos necessários para a fabricação do medicamento, que não tem eficácia comprovada para combater o novo coronavírus.
Além da Índia, os telegramas indicam que a diplomacia brasileira também entrou em contato com os Estados Unidos em busca dos mesmos produtos.

Os telegramas foram enviados até junho do ano passado, quando o Brasil conseguiu reestabelecer a produção e recebeu uma doação de dois milhões de comprimidos enviados pelos Estados Unidos.
Os telegramas foram enviados mesmo após a comunidade científica indicar que o tratamento era ineficaz no combate ao covid-19.

O período dos telegramas coincide com um aumento na produção de Cloroquina pelo Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFex), cujo estoque não foi utilizado totalmente até agora. Em março de 2020, no início da pandemia, a Índia restringiu as regras para exportação de medicamentos como a Hidroxicloroquina, gerando em seguida uma movimentação da diplomacia brasileira em busca dos insumos.

A negociação foi feita, inclusive, pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que ligou para o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, em abril de 2020. Durante o telefonema o brasileiro intercedeu a favor de empresas brasileiras, pedindo que a Índia enviasse os produtos. O telegrama que relata o contato entre os dois chefes de estado foi obtido pelo jornal O Globo.

Um dia antes da ligação de Bolsonaro ao primeiro-ministro indiano, Ernesto Araújo, à época à frente do Itamaraty, tentou superar as dificuldades, informando à Índia que era importante a manutenção da oferta dos medicamentos. Araújo ainda pediu a intervenção do ministro das Relações exteriores indiano por “razões humanitárias” destacando a “amizade mútua e a parceria estratégica” entre os países.

Meses depois, porém, o Governo rejeitou proposta do Governo Indiano para a compra dos medicamentos. Flávio Wernec, assessor especial do Ministério da Saúde para assuntos internacionais afirmou, em outubro do ano passado, que não era necessário prosseguir com a aquisição do fármaco. Na ocasião, a Índia tentou vender cinco milhões de tabletes do medicamento ao Brasil.