Em Fortaleza, mutirão de universitários cadastra moradores do Mucuripe no sistema de vacinação contra a Covid-19
Iniciativa incluiu pessoas sem acesso à internet na plataforma saúde digital, requisito para tomar a vacina contra a Covid-19
17:17 | Jun. 19, 2021
Moradores do bairro Mucuripe, em Fortaleza, participaram, neste sábado, 19, do mutirão de cadastramento para a vacinação contra a Covid-19 do projeto “Cadastra Eu”, iniciativa de um grupo de universitários dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC). A ação ocorreu de 8h às 11h no Instituto das Filhas de Maria Servas da Caridade (Casa das Irmãs) e de forma itinerante em várias ruas da localidade. Na ocasião, pelo menos 33 pessoas foram cadastradas no Saúde Digital, segundo os organizadores.
De acordo com Raquel Lima, 19, estudante de publicidade e propaganda da UFC e uma das integrantes do projeto, pessoas adultas e sem acesso à internet são as que mais procuram atendimento. “A gente tem atendido mais pessoas entre 40 e 65 anos. A maioria ainda não está cadastrada e está completamente avulsa no processo. Não sabe onde olha o agendamento, quais são os pontos de vacinação, não tem acesso à informação… a cada dia, percebemos o quanto essa ação faz a diferença na vida delas”, conta.
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O “Cadastra Eu” iniciou as atividades no último dia 8 de junho. Já são mais de 100 pessoas inseridas no sistema de vacinação da Sesa. Raquel conta que, embora a maioria dos atendimentos envolva pessoas já adultas, o público mais jovem também tem recorrido à ajuda dos universitários. “Já fizemos alguns cadastros de pessoas na casa dos 20 até 25 anos. Essa semana, mesmo, atendemos uma menina de 22 anos que não sabia como utilizar o sistema. A gente acredita que essa procura se dá porque o site dificulta um pouco o processo. São três etapas e ainda tem a validação do e-mail. Geralmente, as pessoas não validam e aí acabam não completando o cadastro”, comenta a estudante.
Além da Raquel, outros 29 estudantes fazem parte desse esforço coletivo que visa levar a vacina às pessoas excluídas do universo digital. Érik Cardoso, 22, que cursa jornalismo na UFC, é um deles. O estudante conta que, depois do cadastro, todas as pessoas atendidas são acompanhadas diariamente para garantir que elas irão receber a vacina. “Nós pegamos o contato da pessoa ou de algum parente e abrimos diariamente as páginas da prefeitura para saber quando vai ser o agendamento, em qual local a pessoa vai ser vacinada e o horário. Tendo essas informações, nós ligamos para ela ou pra algum familiar e passamos todas as informações”, descreve.
O vendedor ambulante Erivaldo Carvalho, 55, foi uma das pessoas alcançadas pela ação neste sábado. Sem acesso à internet em sua casa, ele buscou a ajuda dos estudantes para garantir a aplicação da vacina. “Eu pedi ajuda à minha vizinha e ela disse que ia ter (o mutirão). Foi tudo beleza, deu certinho, o pessoal teve muita atenção. Agora vou esperar eles me ligarem pra dizer quando vai ser a minha vez (de se vacinar)”, disse o vendedor, que já deveria ter sido vacinado, caso o cadastro tivesse sido feito antes do dia 06 de junho, data em que o Ceará iniciou a vacinação do público geral, formado por pessoas de até 59 anos.
Quem também garantiu inclusão no cadastro foi o garçom Ednardo Souza, 37. No caso dele, o procedimento foi realizado na porta de sua casa, durante visita do grupo a alguns pontos da comunidade. Satisfeito com o atendimento, ele elogiou a iniciativa dos estudantes e lembrou que muitas pessoas do bairro ainda não haviam feito o cadastro. “É importante demais esse tipo de coisa, porque tem muita gente que não se liga em entrar no site e até mesmo nem sabe que precisa fazer esse cadastro. Aqui na comunidade, mesmo, tem várias pessoas que não fizeram ainda”, afirmou.
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Os atendimentos itinerantes foram realizados com a ajuda da liderança comunitária Diêgo di Paula, 30, membro do coletivo Frente de Luta por Moradia Digna e fundador do projeto Acervo Mucuripe. Ele ficou responsável por mobilizar as pessoas da comunidade a participarem da ação, principalmente as que não têm acesso a dispositivos digitais e que são de famílias vulneráveis. “É uma chance que não pode ser desperdiçada. Temos consciência de que esse é um trabalho do poder público, mas a gente tenta fazer a nossa parte enquanto sociedade civil”, ressaltou.
Consulta online
Além dos atendimentos presenciais, o “Cadastra Eu” passou a disponibilizar consultas online, através do aplicativo de mensagens Whatsapp. Por meio do canal, disponível no número (85) 9 8686-0068, é possível tirar dúvidas, obter orientação e até mesmo solicitar o cadastro no sistema de vacinação totalmente à distância.
“Quando a pessoa entra em contato, a gente oferece as opções de orientação ou cadastro. Quando as pessoas escolhem se cadastrar, nós pedimos as fotos dos documentos e vamos lançando no sistema. Todas as informações são guardadas de forma segura. Quando chega a data da vacina, nós avisamos do agendamento e enviamos o comprovante”, explica Raquel Lima.
A estudante ainda ressalta que, com os atendimentos online, moradores de outras cidades também são beneficiados pelo projeto. “Já fizemos cadastro de pessoas de Caucaia, Maracanaú, Aquiraz e de outras cidades da Região Metropolitana”, disse.
Ajudar quem ajuda
Os moradores que participam do projeto, além de serem cadastrados no sistema de vacinação, também ganham máscaras faciais pff2, modelo considerado mais resistente à emissão de aerossóis. O produto, advindo de doações, serve para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de manter medidas de higiene, mesmo com a campanha de vacinação em andamento.
Segundo Érik Cardoso, a ajuda de pessoas que admiram a iniciativa é fundamental para a continuidade do projeto. “ A gente aceita qualquer tipo de doação: dinheiro, máscara, álcool em gel, até carro para deslocar o pessoal de um ponto da cidade para outro. Tudo isso é importante para a campanha alcançar um maior número de pessoas possível”, destacou.
Corrida para cadastrar
Seis meses após o início da campanha de vacinação contra a Covid-19, Fortaleza tem cerca de 1,6 milhão de pessoas cadastradas no Saúde Digital, o equivalente a 60% da população, estimada em 2,7 milhões de habitantes pelo IBGE.
Após a criação do “Cadastra Eu”, a Prefeitura de Fortaleza também iniciou mutirões para alcançar quem ainda está fora do sistema de vacinação. Entre os dias 14 e 18, aproximadamente 7 mil pessoas foram cadastradas na ação, segundo a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS).