Ofertas de vacinas rejeitadas por Bolsonaro teriam salvo 95 mil vidas
O cálculo do epidemiologista Pedro Hallal considera números apresentados em depoimentos à CPI da Covid e variáveis como a eficácia das vacinas, a quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus e a taxa de letalidade estimada de Covid-19
19:51 | Mai. 28, 2021
Pelo menos 95 mil vidas brasileiras poderiam ter sido salvas se o governo federal tivesse comprado vacinas contra a Covid-19 quando foram oferecidas por fabricantes, e não meses depois, como aconteceu. É o que afirma Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Os números podem ser maiores. As doses teriam evitado no mínimo uma em cada cinco mortes.
À BBC News Brasil, o pesquisador explicou que, para chegar a essa suposição, se baseou em dados epidemiológicos da pandemia e em depoimentos sobre condução da pandemia pela gestão de Jair Bolsonaro (sem partido). O primeiro destes foi prestado à CPI da Covid em 13 de maio pelo gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.
Segundo ele, Bolsonaro rejeitou três ofertas de 70 milhões de doses da vacina da farmacêutica. Se o acordo com a Pfizer tivesse sido fechado quando foi inicialmente proposto, em agosto de 2020, as primeiras doses poderiam ter sido entregues em dezembro de 2020, enquanto o País teria recebido 4,5 milhões de imunizantes até o fim de março de 2021, mês em que um acordo foi concretizado.
O segundo depoimento utilizado por Hallal foi prestado por Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, nessa quarta-feira, 27. Ele afirma que o governo federal rejeitou três ofertas de compra da CoronaVac; uma delas teria garantido 60 milhões de doses. A primeira oferta foi feita em julho de 2020, mas Bolsonaro só acordou compra em janeiro de 2021, conforme Covas elucidou à CPI. Se tivesse comprado antes, o País teria 49 milhões de doses do imunizante a mais do que tem hoje.
Num cenário em que o Brasil tivesse comprado as vacinas nas primeiras ofertas, hoje teria 50% a mais do que o número atual: 150 milhões em vez das 100 milhões atuais. A quantidade seria suficiente para vacinar praticamente todo o grupo prioritário do País, que soma quase 80 milhões de pessoas. Atualmente, o Ministério da Saúde estima que a vacinação dessa parcela da população só acabe em setembro ou outubro.
Pedro Hallal preferiu ser mais conservador nos cálculos, que consideraram variáveis como a eficácia das vacinas, a quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus e a taxa de letalidade estimada de Covid-19. 14 mil mortes poderiam ter sido evitadas com as 4,5 milhões de doses da Pfizer e 80,3 mil, com as da CoronaVac, aponta. Ele afirma que, caso a análise seja aprofundada, o número de vidas que poderiam ter sido salvas seria ainda maior.