Casos infantis de Covid-19 em Fortaleza em 2021 já são mais que o dobro de 2020

Ao todo, 10.570 crianças da Capital já foram diagnosticadas com a doença. Maioria dos casos registrados é de pacientes de até 4 anos

Durante os primeiros cinco meses de 2021, 7.517 crianças de até 14 anos de idade foram infectadas pelo novo coronavírus em Fortaleza. O número é 146% maior que o total de casos infantis da Covid-19 registrados em todo o ano de 2020 na Capital. No período, as mortes infantis causadas pela doença também já superam o total do último ano: foram seis crianças em 2020 e já são 20 nesta segunda onda da pandemia.

As informações foram analisadas pelo O POVO com base nos registros disponibilizados pela plataforma IntegraSUS até essa terça-feira, 25. Enquanto todas as faixas etárias mais que dobraram em número de casos, a maioria deles se deu em crianças de até 4 anos. Em seguida estão aquelas entre 10 e 14 anos e, então, as com idade entre 5 e 9 anos.

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“Nos locais onde trabalho, tanto na rede pública quanto na privada, houve um aumento na incidência e acho que se deve à maior prevalência do vírus”, afirma a pediatra Dione Mota Rola. Para ela, “as pessoas relaxaram quanto ao uso de máscaras e o distanciamento e acabou que as crianças ficaram mais expostas”.
O POVO conversou com a médica que atua há mais de 20 anos. Confira a entrevista:

O POVO - Os sintomas da Covid-19 em crianças tendem a se confundir com aqueles causados por outras viroses. Como proceder para ter o melhor diagnóstico e o mais rápido possível?
Dione Mota Rola - Os sintomas mais comuns da doença em crianças são os sintomas respiratórios (tosse e coriza), febre e alguns sintomas sistêmicos, como dor abdominal com diarreia, dor de cabeça e dor no corpo. São sintomas inespecíficos e o diagnóstico depende de uma boa anamnese.
É preciso saber quais contatos a criança teve, se tem outras crianças com os mesmo sintomas ou mesmo com suspeita da Covid-19, se algum parente já teve a doença. São todas informações necessárias para definir se a criança precisa ser testada. Na dúvida, sintomas respiratórios em crianças em uma pandemia são sim mandatórios de fazer o teste. Estamos em uma pandemia e se o quadro é sugestivo vale a pena solicitar o teste. Até porque quanto mais testes feitos, melhor fica para saber a prevalência da doença.
 
OP - O Sars-Cov-2 se comporta de forma diferente nas crianças em relação aos adultos?
Dione - Em relação aos adultos, as crianças têm menos sintomas e são sintomas mais leves. Um dado da Sociedade de Pediatria mostra que a criança tem maior período de incubação, ou seja, passa mais tempo entre contrair o vírus e manifestar sintomas; isso pode levar até 10 dias em média. E ela passa mais tempo podendo transmitir, de 14 a 21 dias. Esse é o maior risco.
 
OP - Diante disso, quais os cuidados devem ser tomados tanto para evitar a infecção pelo novo coronavírus?
Dione - São os cuidados que todos sabemos. O uso de máscaras é recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) para todas as crianças acima de 2 anos. Os pais já devem explicar que é necessário e estimular o uso. Além disso, tem a questão de ficar distante dos coleguinhas na escola, nas áreas de lazer, e da higiene lavando as mãos e usando álcool em gel.
Eu vejo que os adultos precisam educar os filhos sobre a Covid-19, sobre o que é e como se proteger, e dar exemplos. Se numa casa os próprios adultos não têm os cuidados na frente dos filhos, fica difícil estabelecer que na escola, por exemplo, eles usem máscaras e se protejam. Essa é a maior dificuldade, os exemplos que vêm de casa.
 
OP - Falando em escolas, as aulas presenciais são um risco de contaminação?
Dione - A volta às aulas nos Estados Unidos e Europa não aumentou a transmissão, mas no nosso meio até o que indica até hoje na prática a gente vê que sim. Depois que as aulas voltaram, algumas escola já relataram casos em funcionários, professores e também crianças. É importante seguir os protocolos, mas também ser rigoroso sobre as possibilidades de casos e de transmissão. Se você tem um caso confirmado dentro da escola, o certo é fechar a sala por 14 dias.

Nas escolas, crianças com sintomas respiratórios devem ser tratadas como casos suspeitos e devem cumprir 14 dias de isolamento. Aquelas que tiveram teste positivo também precisam ficar isoladas, podendo ser até de 21 dias. E crianças que tiveram contato direto com alguém com Covid-19 também devem ficar em isolamento por 14 dias.


OP - Por fim, crianças deveriam estar sendo vacinadas contra a Covid-19?
Dione - Sim, mas infelizmente não temos um plano de vacinação que tenha sido abraçado desde o início. Então é preciso ter as prioridades e respeitá-las.

Sobre as vacinas, elas foram desenvolvidas tendo como base primeiramente os adultos e as crianças não entraram na primeira fase de estudos clínicos. Mas agora eles estão sendo feitos e alguns estudos já estão saindo e mostrando que algumas vacinas são eficazes e seguras, pelo menos para crianças acima de 10, 12 anos.

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