AstraZeneca: 389 grávidas e puérperas receberam doses no Ceará

A recomendação da pasta segue a orientação, por parte da Anvisa, de suspensão do uso do imunizante AstraZeneca/Fiocruz. De todas as grávidas e puérperas vacinadas com a vacina da AstraZeneca, apenas três apresentaram reações clínicas comuns e esperadas

22:30 | Mai. 12, 2021

Por: Mateus Brisa
389 grávidas e puérperas do Ceará receberam doses da AstraZeneca. Três apresentaram reações clínicas comuns e esperadas (foto: Reprodução)

No Ceará, 389 grávidas e puérperas receberam doses da AstraZeneca. Elas devem permanecer como grupo prioritário da vacinação contra Covid-19 no Estado, recebendo doses das vacinas CoronaVac e Pfizer, conforme recomenda Liduina Rocha, assessora técnica da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e consultora na área materno-infantil da Escola de Saúde Pública do Estado. De todas as grávidas e puérperas vacinadas com o imunizante AstraZeneca/Fiocruz, apenas três apresentaram reações clínicas comuns e esperadas.

A suspensão da aplicação deste imunizante foi orientada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ontem, 11. De acordo com a Agência, a própria fabricante do fármaco notificou a “suspeita de evento adverso grave de acidente vascular cerebral hemorrágico com plaquetopenia ocorrido em gestante e óbito fetal”. O evento tem sido associado à vacinação de uma mulher, que morreu em 10 de maio último.

Segundo Liduina, o caso clínico que vitimizou a gestante pode ser encontrado tanto no processo de gravidez quanto no de vacinação. Ela argumenta que uma gestante com caso grave de Covid-19 tem em torno de 16% de chance de ter um evento trombótico. Uma a cada duas mil grávidas sem comorbidades e sem Covid apresentam o mesmo quadro clínico.

Este é um evento “extremamente raro”, diz a assessora, pois há uma chance de 0,0004% de desenvolvimento desta reação pós-vacinação. Isso significa dizer que uma a cada 250 mil vacinas aplicadas resulta em um evento trombótico. 

Como a Anvisa suspendeu o uso da AstraZeneca enquanto o óbito é investigado, o Ceará seguirá a recomendação e não utilizará o imunizante em grávidas e puérperas. Liduina lembra, porém, que não há registros de efeitos adversos graves com as vacinas CoronaVac e Pfizer. Por isso, este grupo permanecerá no atual calendário de vacinação.

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Ela lembra que gestantes, mesmo sem comorbidades, são grupo de risco “no sentido de piores desfechos da gestação, maior possibilidade de abortamento, maior possibilidade de parto prematuro, pressão alta, sangramento depois do parto e maior possibilidade de mortalidade”. No caso daquelas com comorbidades, estes riscos são intensificados. Liduina ressalta ainda que a vacinação em gestantes com e sem comorbidades é adotada no mundo inteiro.

Profissionais de saúde gestantes foram vacinadas na primeira fase de vacinação do Ceará, com AstraZeneca ou CoronaVac. No Ceará, 27 municípios tiveram gestantes vacinadas, em ambas fases da campanha. Em Fortaleza, 3.414 foram vacinadas, 473 com CoronaVac, 273 com AstraZeneca e 2.668 com Pfizer. “Muito provavelmente” estas últimas foram registradas na atual fase, das pessoas com comorbidades, conta Liduina. Ainda, foram 1.080 puérperas, 334 com CoronaVac, 116 com AstraZeneca e 330 com Pfizer.

Uma profissional de saúde vacinada em 19 de janeiro no município de Penaforte, no sul do Estado, descobriu estar grávida uma semana após receber uma dose de CoronaVac. Ela apresentou síndrome gripal, sendo a única gestante que recebeu este imunizante e está entre as 719 notificações suspeitas desta vacina no monitoramento de Eventos Adversos Pós-Vacinação (EAPV) Covid-19 da Sesa.

O mesmo acompanhamento soma 475 suspeitas relacionadas à vacina AstraZeneca; destas, três são gestantes. Uma recebeu a primeira dose em Sobral em 17 de maio e teve uma síndrome gripal, enquanto uma segunda foi vacinada no mesmo dia em Fortaleza e teve febre e cefaleia. Terceira gestante recebeu a primeira dose em 5 de maio e apresentou mialgia, dor e eritema na região da aplicação. Todos são eventos esperados pós-vacinação.

A empresa AstraZeneca, responsável pela vacina de mesmo nome, afirma que grávidas e puérperas não foram incluídas nos estudos clínicos no imunizante. “Esta é uma precaução usual em ensaios clínicos. Os estudos em animais não indicam efeitos prejudiciais diretos ou indiretos no que diz respeito à gravidez ou ao desenvolvimento fetal”, escreve a empresa em nota.

O que dizem as bulas dos três imunobiológicos usados hoje no Estado:

CoronaVac: “Estudos em animais não demonstraram risco fetal, mas também não há estudos controlados em mulheres grávidas ou lactantes. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista”.

AstraZeneca: “Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica. Informe o seu profissional de saúde se você estiver grávida, amamentando, pensando engravidar ou planejando ter um bebê. Há dados limitados sobre o uso da vacina Covid-19 (recombinante) em mulheres grávidas ou que estejam amamentando. Seu profissional de saúde discutirá com você se você pode receber a vacina”.

Pfizer: “Se você está grávida ou amamentando, acredita que pode estar grávida ou está planejando ter um bebê, consulte o seu médico ou farmacêutico antes de receber esta vacina. Esta vacina não deve ser usada por mulheres grávidas, ou que estejam amamentando, sem orientação médica”.