Coronavac: atraso na segunda dose prejudica imunização?
Experiência com vacinas contra outras doenças leva a crer que esquema vacinal não será perdido e que não haverá prejuízos à imunização individual. Entretanto, cenário epidemiológico demanda que as doses sejam aplicadas o mais rápido possível
10:08 | Abr. 29, 2021
Há mais perguntas do que respostas quando se fala nos atrasos da aplicação da segunda dose da Coronavac. Não há estudos que calculem o grau de proteção da dose única ou estimem a eficácia da vacina quando a segunda injeção for aplicada após o limite de 28 dias. Especialistas acreditam que a demora não devem prejudicar a imunização individual contra a Covid-19. Entretanto, o prejuízo é coletivo.
Conforme Edson Teixeira, imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), atrasar a segunda dose não anula o efeito da primeira. Todavia, a demora atrasa a conquista da efetividade no combate à pandemia. "A eficácia máxima observada nos estudos de todas as vacinas que usam mais de uma dose só é alcançada duas a três semanas depois de completado o esquema vacinal", explica.
Mesmo com os atrasos, as pessoas estarão imunizadas depois de duas ou três semanas que receberem a segunda dose.
Ele aponta ainda que alguns estudos têm demonstrado, como no caso da vacina Oxford/Astrazeneca, que a primeira dose já atinge um nível de proteção importante; por isso, "atrasar a segunda dose não seria um grande problema". O Reino Unido foi um dos países que atrasou a D2 a fim de ampliar a população vacinada com pelo menos a primeira dose.
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Em relação à Coronavac, os estudos de eficácia utilizaram janela de 14 a 28 dias para receber a segunda dose, confirmando a tendência de proteção maior para quem recebeu a segunda dose a partir de 21 dias. Mas não há estudos sobre o tempo prolongado.
"Estamos lidando com vacinas extremamente novas, produzidas em 10 meses, em um ano. O ideal seria fazer o esquema no tempo certo", lamenta o imunologista. "O problema é que estamos, no Brasil todo, em um platô de casos muito alto, se comparado com a primeira onda. O índice de mortes também está altíssimo, ocupações de UTI acima de 90%. Então, precisamos que as pessoas estejam imunizadas com a segunda dose o mais rapidamente possível."