Segunda onda: estudo do Ipea aponta Ceará como bom exemplo

|COVID-19| Mesmo que pudesse ter agido ainda mais cedo, Estado foi citado, junto ao Acre e ao Espírito Santo, pela resposta "relativamente rápida" ao crescimento de casos e óbitos por Covid-19 neste ano

00:30 | Abr. 27, 2021

Por: Gabriela Custódio
FORTALEZA entrou em distanciamento rígido no início de março (foto: JÚLIO CAESAR)

Diferentemente do que ocorreu em 2020, os estados brasileiros demoraram mais a adotar medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19 nesta segunda onda da pandemia. Nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que a maioria das unidades federativas só agiu quando já havia altos números de casos e óbitos e os sistemas de saúde estavam pressionados. Nesse cenário, mesmo que pudesse ter agido ainda mais cedo, o Ceará é citado como exceção.

Assim como o Acre e o Espírito Santo, o Ceará parece ter "reagido de forma relativamente rápida ao início da segunda onda", diz o estudo. "Outros estados optaram por não enrijecer as medidas de forma substantiva - ou até as relaxaram - ainda que o número de novos óbitos crescesse de forma acelerada, como nos casos de Mato Grosso, de Rondônia e do Tocantins", continua o autor, Rodrigo Fracalossi de Moraes, economista e pesquisador do Ipea.

A atuação reativa dos estados, em contraste com a postura preventiva adotada em 2021, pode ter contribuído para a maior gravidade da segunda onda da pandemia no País, afirmou o economista em entrevista ao O POVO. Junto a isso, a falta de uma política nacional de distanciamento pode ter impactado principalmente estados com menos recursos.

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"Não justifica uma gestão ruim da pandemia, mas é um fator que tem que ser levado em conta. Montar uma equipe inteira, criar parâmetros, critérios de distanciamento, protocolos específicos, recriar tudo localmente é muito complicado. Deveria ter sido feito a nível nacional, com protocolos comuns, que se apliquem a todos os estados", afirmou. A adoção de um plano de retomada das atividades econômicas e comportamentais no Ceará também é pontuado pelo economista como um aspecto positivo.

Outro ponto observado na pesquisa é o rigor adotado nas ações estaduais. A análise é feita por meio do índice de medidas legais de distanciamento social (IDS), que mede o grau de rigor de seis tipos de restrição: grandes eventos e atividades culturais, esportivas e religiosas; atividades comerciais não essenciais; bares, restaurantes e similares; estabelecimentos de ensino; transporte público e atividades industriais não essenciais.

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O IDS varia de zero a dez, sendo dez o nível mais restrito. O Ceará foi o único estado a atingir IDS 10 em abril de 2020, enquanto a média nacional foi de 6,3. "Outros estados tiveram medidas bastante restritivas também, mas eles não as sustentaram por muito tempo. Isso aconteceu em Santa Catarina, Goiás e Alagoas. A diferença é que no Ceará teve um tempo muito longo de medidas bem rígidas. (...) Para conseguir manter por muito tempo, precisa de uma capacidade de articulação muito grande", explica Rodrigo Fracalossi de Moraes.

Porém, esse índice, no Estado, foi 36% menor em março de 2021 e chegou a 6,4. Apesar da queda, foi o terceiro maior do País — atrás do Rio Grande do Sul (6,7) e do Distrito Federal (6,5). Considerando as 27 unidades federativas, o índice nacional, nesta segunda onda, foi de 4,7 — uma redução de 25% em relação a abril de 2020.

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O nível de restrição necessário varia de acordo com o estágio da pandemia em cada local. Para ilustrar, o pesquisador exemplifica que, em um cenário muito grave, de falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e números de novos casos e óbitos muito altos, o IDS deveria ser de aproximadamente 8. "Seria fechar tudo (pelo menos por algum tempo). A única coisa que poderia ficar aberta em uma situação desse tipo, fora as atividades essenciais, seria a indústria", explica.