Uece e Fiocruz pesquisam remédio contra Covid-19 a partir de lhamas

Os estudos, que estão em fase inicial, são realizados a partir de fragmentos dos anticorpos de lhamas

18:18 | Abr. 16, 2021

Por: Isabela Queiroz
Anticorpos de lhamas são usados no desenvolvimento de medicamento para tratar Covid-19 (foto: DIVULGAÇÃO/UECE)

A Universidade Estadual do Ceará (Uece) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciaram nesta sexta-feira, 16, parceria em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos contra a Covid-19 a partir de fragmentos de anticorpos de lhamas. A Faculdade de Veterinária (Favet), da Uece, trabalha diretamente na iniciativa. Os estudos estão em fase inicial.

Por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, a Favet é responsável pela manutenção e reprodução das lhamas, além de participar das atividades ligadas à reprodução de nanocorpos. Esses anticorpos, que são coletados de camelídeos, como as lhamas, reconhecem de forma mais eficiente antígenos diversos, sejam eles virais ou toxinas animais, o que amplia a possibilidade de utilização no tratamento de uma série de doenças, inclusive a Covid-19.

“Os anticorpos das lhamas são mais reativos ao Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19. Por isso, são muito promissores para o desenvolvimento de medicamentos contra essa doença”, explica o médico veterinário e vice-reitor da Uece, professor Dárcio Ítalo Teixeira, em áudio enviado pela assessoria da universidade.

As expectativas das instituições são animadoras. “A Faculdade de Veterinária da Uece, especialmente o professor Dárcio, tem muita experiência no manejo e na reprodução de animais, e a Fiocruz tem experiência na estruturação da Plataforma de desenvolvimento de nanocorpos. Estamos trazendo essa plataforma para a Fiocruz Ceará, para trabalharmos em parceria com a Uece e com outras instituições de ensino e de pesquisa do estado. Nós acreditamos que essa parceria será extremamente frutífera”, destaca a pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Ceará, Carla Celedônio, também por meio da assessoria.

A pesquisadora explica que além do tratamento, a pesquisa também tem como foco o desenvolvimento de kits de diagnóstico. “A partir do momento que identificamos o nanocorpo de interesse, suas propriedades, como afinidade e solubilidade, são melhoradas em laboratório para viabilizar a formulação de um medicamento. Esses insumos podem ser usados tanto para a terapêutica como para o diagnóstico da doença”, disse.

A Uece e a Fiocruz são parceiras desde 2018 e, além da pesquisa com a Covid-19, a plataforma tem focado em outras doenças, buscando insumos para o combate à febre amarela, zika, chikungunya e toxinas ofídicas (de animais como cobras e serpentes) que são de importância para o Brasil.

A parceria envolve também o Haras Claro, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Tem apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico (Funcap) e Fiocruz.

Sobre as lhamas

As lhamas são mamíferos ruminantes (digerem os alimentos em duas etapas) que vivem principalmente em países da América do Sul, pertencem à família dos camelídeos e têm sido estudadas em todo o mundo devido às características únicas dos seus anticorpos. De acordo com o médico veterinário do Haras Claro, Leandro Rodrigues, o local possui dois casais de lhamas que chegaram ao Ceará há cerca de dois anos com idades entre seis e oito meses.

Recentemente, com o manejo adequado e as adaptações necessárias para melhorar as condições térmicas para a espécie, as lhamas tiveram êxito na reprodução, gerando um filhote macho, atualmente com cerca de sete meses, que foi adquirido pela Fiocruz para a realização de pesquisas. As lhamas utilizadas para essa pesquisa estão sendo transferidas para a Fazenda da Faculdade de Veterinária da UECE, localizada em Guaiúba.